Boato – Corrente no WhatsApp procura por Leandro, menino desaparecido em Campo Grande.
Nos desmentidos nossos de cada dia, o Boatos.org constantemente repreende a leviandade de compartilhar informações sem checagem. E já mencionamos os perigos de se fazer isso quando há a imagem e o nome de alguém envolvido.
Mais de um ano após o espancamento e morte de uma mulher inocente por causa de boatos em redes sociais, as pessoas continuam participando de situações semelhantes. Na intenção de fazer o bem compartilham fotos de sequestradores de crianças, de homens estupradores, ladrões disfarçados de vendedores de colchão e muitos outros criminosos.
Como em novelas mexicanas, mudam-se os personagens, mas as histórias são as mesmas e cá estamos para falar de mais uma corrente na internet, dessa vez envolvendo uma criança.
A imagem de Leandro, o menino de 8 anos que desapareceu está sendo espalhada por todos os cantos do país na tentativa de encontrá-lo. Confira o texto repassado pelo WhatsApp:
‘Me ajude envie essa foto poro máximo de contato que puderem ele ta desaparecido 99434-0780:
Se tiver grupo espalhe o nome dele e Leandro. Tem 8 anos mora no parque das nações ajude a mãe ta desesperada. Repassando de outro grupo ele mora no jardim das nações unidas…
Perto da doquinha…
No alto da vila izolina’
Em se tratando de um aviso que pode ter sido escrito no desespero, vamos desconsiderar os erros de ortografia e pontuação típicos em boatos. Uma pessoa nervosa pode facilmente esquecer acentos, vírgulas e regras, certo?
Ainda assim essa história não se sustenta. Reúne, além dos erros de português, várias características de mentiras da web, como a falta de informação e/ou informações contraditórias, o tom apelativo e catastrófico, a ausência de fontes. Leandro de que? Que mãe? Parque das Nações, não, espera, Jardim Nações Unidas?
E se não bastasse essa mensagem confusa, a imagem do menino se espalhou por diferentes cantos do país como se ele tivesse sido teletransportado por todos os lados ou tivesse um gêmeo em cada estado do Brasil.
Leandro teria desaparecido em Ibitinga, São Paulo. Como em um passe de mágica, sumiu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Depois de ter sua foto postada na página da dupla sertaneja Maria Cecília e Rodolfo (que tem quase 3 milhões de curtidas) apareceu gente anunciando que o menino era de Minas Gerais, do Amazonas, de Goiás e de outros municípios de São Paulo, como São João da Boa Vista.
Sem o código de chamada (DDD) o número foi espalhado para qualquer município do país com algum Parque das Nações ou Jardim das Nações Unidas, e pior, em alguns alertas a foto de uma criança morta era atribuída a Leandro.
Ao que tudo indica o menino de 8 anos de fato é de Campo Grande e nunca desapareceu, já que não houve ocorrência nem registro de desaparecimento em Mato Grosso do Sul, segundo a PM.
De qualquer forma, mais uma vez por descuido pessoas embarcaram na busca desenfreada de uma pessoa baseados em informações desconexas e falsas. Só na postagem feita na página da dupla Maria Cecília e Rodolfo houve mais de 80 mil compartilhamentos.
Agora, vamos refletir sobre as possíveis consequências desse caso. E se pessoas desavisadas veem o menino andando na rua com o pai, a mãe ou um parente e acham que são os sequestradores? E se aquele caso horrível de espancamento e morte se repete? Como se espalha, sem o menor cuidado, a imagem de uma criança por todo o país?
Em alguns comentários lemos a seguinte explicação: ‘Compartilhei, mas achei que fosse verdade, queria ajudar e fiz com boa intenção’. Crenças a parte, bem se diz que de ‘boas intenções o inferno está lotado’, pelo visto e, irresponsavelmente, a internet também.