Boato – Flanelinhas estão borrifando ácido em carros parados no semáforo para derreter os vidros e realizar assaltos.
Avisos sobre atividades criminosas e locais perigosos são recorrentes nas redes sociais, o medo da violência nos grandes centros faz com que a população fique atenta a qualquer tipo de informação que as livrem de algum eventual transtorno. Esse tipo de boato é compartilhado constantemente, pois violência urbana é um assunto cotidiano no Brasil.
Um desses alertas fala sobre flanelinhas e crianças pedindo esmolas no semáforo e que quando não atendidos borrifam ácido nos motoristas. O assunto tem deixado algumas pessoas preocupadas. O texto que circula pela rede relata dois casos onde pessoas foram vítimas da prática. Em um deles, apenas o vidro do carro foi danificado e no outro o rosto do passageiro. Leia trechos do texto:
…uma Mulher que dirigia seu carro na Av. Almirante Barroso (sempre andava com os vidros fechados e com a bolsa escondida embaixo do banco). Em um sinal ela foi abordada por um flanelinha, daqueles com um borrifador plástico (tipo Vidrex) e uma flanela nas mãos. Ao invés de já começar a limpar o vidro dianteiro, sem perguntar nada, como normalmente fazem, o rapaz (que aparentava ter uns 12/13 anos) veio tentar conversar.
Minha amiga acenou dizendo que não tinha dinheiro com ela, e não deu muita atenção… O jovem começou a ficar nervoso, como se estivesse drogado, tentando fazer com que ela abrisse a janela. Ficou assustada, mas fingiu que não era com ela.
Esperou o sinal abrir e saiu normalmente com o carro. Pouco depois, percebeu que o rapaz havia borrifado aquela espuma na janela lateral.
Na hora não se preocupou. Ao estacionar o carro, no pátio da firma, percebeu que o vidro estava sujo, desgastado em algumas partes. O segurança da empresa perguntou se isto havia sido feito por algum menino de rua. Ele disse que ela teve sorte de estar com os vidros fechados, pois aquilo que o menino de rua havia jogado na janela era ÁCIDO.
O segurança afirmou que sua cunhada, enfermeira do Hospital, já atendeu três casos, todos envolvendo mulheres que dirigiam sozinhas no carro. Em um dos casos foi necessária uma cirurgia plástica reconstrutiva de parte do rosto.
…
Meu nome é José Carlos Maia Santos.. Acabo de receber esta mensagem e quero endossar esta denúncia sobre esta nova modalidade de assalto. Não são apenas as mulheres o alvo dos assaltantes. Eu mesmo fui vítima desse tipo de assalto. No dia 24, por volta das 01h30min, retornava de um aniversário nas proximidades do Shopping Iguatemi.
Em um sinal um garoto, portando um borrifador e uma esponja, abordou meu amigo, Guilherme, que estava a meu lado e pediu cinco reais. Guilherme respondeu que não possuía os cinco reais, mas que procuraria uma moeda. Fez um movimento no banco para colocar a mão no bolso e virou o rosto para dentro do carro. Foi sua sorte. O garoto borrifou o líquido na cabeça de Guilherme e saiu correndo.
Em poucos segundos Guilherme começou a sentir uma queimação no pescoço, Corremos para o Hospital. Lá fomos informados que se tratava de ácido muriático. Após o atendimento, Guilherme (que terá de se submeter a uma cirurgia corretiva e poderia ter ficado cego) e eu fomos fazer um boletim de ocorrência. Na delegacia fomos informados que está aumentado este tipo de ocorrência. Soubemos, ainda que onze menores (meninos e meninas), entre 12 e 15 anos, todos usuários de drogas, já foram identificados e encaminhados a instituição de menores infratores.
Soubemos que um desses menores, quando abordado pelos policiais, reagiu, borrifando o ácido nos mesmos. Três dos policiais tiveram queimaduras graves nos braços e peito. SOLICITO QUE ESTA MENSAGEM SEJA REPASSADA PARA O MAIOR NÚMERO POSSÍVEL DE PESSOAS.
Essa lenda urbana circula há muito tempo pela rede, alguns textos possuem datas de 2007. Apesar de trocarem de região e de personagens e a informação se manter a mesma, não existe nenhum registro fora do boato sobre o caso do motorista não atender ao pedido.
O ácido que corroí vidros de acordo com o texto) é o sulfúrico. Ele é de uso limitado e de difícil acesso para o público geral. Para a utilização é necessário equipamento adequado, pois se trata de um material altamente corrosivo e tóxico. Assim, é difícil acreditar que poderia ser utilizado por flanelinhas ou assaltantes nos semáforos, pois colocaria os mesmos em risco.
Já o ácido muriático, que é descrito no segundo caso, também é conhecido pelo nome de ácido clorídrico e pode ser encontrado em qualquer supermercado. O produto é utilizado para a limpeza de superfícies manchadas por umidade. A solução que não tem capacidade corroer vidros, mas gera queimaduras na pele, logo, também pode causar em quem aplica, já que o método de borrifar não é o apropriado.
Contudo, a técnica de repreender com ácidos o motorista que não colaborar o dinheiro pedido soa absurda e pouco viável, pelo risco que traz para quem pratica. Além disso, o texto que circula há muito tempo não traz nada além do relato de supostas vítimas. Um ataque tão violento ganharia repercussão na impressa e em outros meios.
Assim, concluímos que tudo não passa de mentira, uma lenda urbana feita para assustar ainda mais as pessoas com a violência das cidades.