Boato – Depois de decreto que autoriza intervenção federal na área de segurança do Rio de Janeiro, o ministério do Exército divulgou um plano estadual para intervenção militar no estado.
Nas (mais ou menos) últimas 24 horas, o assunto mais falado na mídia tem sido a decisão do governo federal de decretar uma intervenção federal na área de segurança pública do Rio de Janeiro. Enquanto ainda estamos “digerindo” a decisão, já começam a aparecer os primeiros boatos sobre o assunto.
Uma mensagem que seria do ministério do Exército tem viralizado no WhatsApp. O texto, que teria sido feito no “Palácio Duque de Caxias”, é identificado como um “Plano Estadual de Intervenção Militar em decorrência a ineficiência estadual de gerir proteção e segurança pública para a Sociedade Fluminense”.
O “Plano Operacional Estadual de Intervenção Militar” daria as diretrizes de hierarquia para as ações do Exército. Entre elas, os generais delegariam as missões para os coronéis, o coronel Ivan Cosme de Oliveira Pinheiro comandaria os policiais e o BOPE fica subordinado às Forças Especiais dos Anfíbios.
Em seguida, o texto aponta que as áreas de tráfico serão, a partir de agora, consideradas “áreas hostis”. “Todas as Operações em Comunidades a partir de hoje, serão consideradas como ÁREA DE TERRITORIO HOSTIL e estará respaldado pelo Ministério da Defesa toda reação de Forças Hostis de Narcotraficantes que resultem em Prisão ou Morte de Narcotraficantes e associados ao Narcotráfico”, diz o trecho. Leia o texto completo (se tiver paciência):
MINISTÉRIO DO EXERCITO Palácio Duque de Caxias Plano Estadual de Intervenção Militar em decorrência a ineficiência estadual de gerir proteção e segurança pública para a Sociedade Fluminense. *Plano Operacional Estadual de Intervenção Militar* Os Generais das Forças Armadas serão os Comandantes diretos de seus Coronéis das Forças Armadas Terrestres e Aéreas, para delegar-lhes as missões. O Exmo. Sr.Cel. Ivan Cosme de Oliveira Pinheiro, ficará a comandar diretamente todos Delegados de Polícia, assim como todos os Cel. Policiais Militares do Comando Geral ao Secretário de Segurança Pública que será nomeado ainda está semana. Haverá mudança em todos os Quartéis das Forças Auxiliares a seguir como descricionados abaixo.
Quartéis das Forças Auxiliares Operacionais (Excluindo o BOPE – Batalhão de Operações Especiais Policiais) que trabalhará diretamente subordinado as FORÇAS ESPECIAIS DOS COMANDOS ANFÍBIOS em ações conjuntas terra e ar a serem desenvolvidas a partir desta semana. Os demais Quartéis de Força Auxiliar que são denominados exercerem patrulhamento em áreas de risco ou áreas vermelhas. Estarão sendo Comandados com base fixa dentro da própria unidade, por Coronéis do Exército com Cursos de Forças Especiais, Guerrilhas Urbanas e Ações no Haiti para que desenvolva ações contundentes e eficazes diretamente em áreas conflagradas de auto risco em decorrência de atuação de grupos de milícias armadas do Narcotráfico.
Todas as Comunidades onde existem milícias de Narcotraficantes serão consideradas a partir da data de hoje como território hostil, sendo autorizados as FORÇAS ESPECIAIS, FORÇAS ARMADAS, BOPE, PARAQUEDISTAS E O CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS juntamente com as FORÇAS AUXILIARES DA POLÍCIA MILITAR agirem de forma contundente, ríspidas, e até mesmo com o uso de Força Letal caso haja necessidade quando assim forem atacadas sobre qualquer tipo de ameaça física real contra a vida de qualquer integrante das FORÇAS CONJUNTAS AMIGAS. Os demais Quartéis de Força Auxiliar que não estão enquadrados como pertencentes a áreas conflagradas como de auto risco ou áreas vermelhas. Serão comandados por Cel. de Infantaria onde os CMTs dos Batalhões e todo o Estado Maior deverá ser co-auxiliador do mesmo em ações operacionais em suas áreas.
O Secretário de Segurança Pública, será denominado Secretário de Estado e o mesmo será subordinado ao Cel. mais antigo da Coordenação de Operações Avançadas, onde o mesmo estará recebendo diretrizes e ordens do CMT. DO CML e onde será repassadas ao Secretário de Estado e assim ao Cel. mais antigo até chegada a tropa. Será considerado CRIME MILITAR todo e qualquer envolvimento de TROPAS FEDERAIS, ESTADUAIS, CIVIL com milícias de Narcotraficantes, onde o Sistema de Inteligência do Exército estará monitorando 24hs quaisquer tipo de Conduta incondizente, por meios de escutas telefônicas autorizadas pela justiça, bem como informações levantadas pela Inteligência do Exército.
Todas as Operações em Comunidades a partir de hoje, serão consideradas como ÁREA DE TERRITORIO HOSTIL e estará respaldado pelo Ministério da Defesa toda reação de Forças Hostis de Narcotraficantes que resultem em Prisão ou Morte de Narcotraficantes e associados ao Narcotráfico. A partir da data de hoje todo o Estado do Rio de Janeiro está sobre o Comando de Intervenção Militar do Palácio Duque de Caxias até 31/12/2018 podendo alongar -se está intervenção caso se ache necessário para o bem estar Social de todos.
*Nas DELEGACIAS DISTRITAIS.* A autoridade Distrital dos Delegados de Polícia, estarão Subordinados Diretamente ao Ministério da Defesa, e será Nomeado um Cel. Detentor de Formação Jurídica para estar Deliberando e Delegando ordens aos mesmos, onde caberá o Papel de Apoio Jurídico para Registro de APF, CONFRONTOS ARMADOS, APREENSÕES, ÓBITOS para que sejam relatados e registrados da forma da Lei. Ademais serão elaborados no decorrer do Processo de Implantação do Plano de Intervenção Militar a função dos Delegados de Polícia de DELEGACIAS ESPECIALIZADAS. A CIDADE DA POLÍCIA será a BASE CENTRAL de APRESENTAÇÃO DE MATERIAL APREENDIDO, ARMAS, DROGAS, bem como da PRISÃO DE NARCOTRAFICANTES. *PALACIO DUQUE DE CAXIAS* *COMANDO MILITAR DO LESTE.**Rio de Janeiro 16, Fevereiro 2018.*
Ministério do Exército divulga Plano Estadual de Intervenção Militar?
Ao ler o texto, chegamos a algumas conclusões. A primeira é que o texto segue duas linhas: uma polícia totalmente submissa ao Exército e o uso de força total em comunidades (sem se importar com quem está lá). Ambas podem ser bonitas (para alguns) na teoria, mas na prática são um desastre. A segunda é que o tal plano é falso. Para você entender tudo, vamos aos fatos.
O texto tem diversos furos. Um dos mais escancarados está nas duas primeiras linhas. O texto é assinado pelo “ministério do Exército” e teria saído do “Palácio Duque de Caxias”. 1) Não existe ministério do Exército. O Exército é subordinado (junto com Marinha e Aeronáutica) ao ministério da Defesa. 2) Uma ordem como essa (de um ministério) sairia de Brasília e não do Palácio Duque de Caxias.
Segundo ponto: toda essa história de polícia subordinada a Coronel, BOPE subordinado a anfíbios e outras não está definida. Apesar de, de fato, o general Braga Netto ter poder de definir quem ficará no comando da polícia e de forças especiais, nada foi colocado em prática ainda. Um plano de ação deve ser definido apenas após a aprovação da intervenção pelo Congresso (que deve ocorrer no dia 19/02).
Terceiro ponto: os próprios militares já desmentiram a informação. A revista Sociedade Militar classificou a mensagem como uma “fake news”. Leia:
Circula suposto Plano Operacional Estadual de Intervenção Militar, a lista de ações é atribuída ao MINISTÉRIO DO EXÉRCITO, que foi extinto há décadas. Entre as ações divulgadas nesse falso PLANO OPERACIONAL está uma suposta autorização para “Exército ser RÍSPIDO com membros de consideradas território inimigo”.
Esse tipo de informação só se presta a espalhar pânico e fazer com que a sociedade veja com maus olhos a ação desencadeada no Rio de Janeiro. Um dos propagadores, pasmem, é um jornal de Brasília, que em tese deveria estar bem informado.
Só para garantir, tentamos procurar ainda pelo documento em algum órgão oficial. Como era de se esperar, só encontramos o tal plano no WhatsApp, Facebook e em blogs nada, nada, confiáveis.
Resumindo: a história que aponta que o ministério do Exército publicou um Plano Estadual de Intervenção Militar é falsa. Tanto o ministério como o plano são fruto de uma mente “criativa” na web.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.