Boato – Juiz Sérgio Moro escreveu desabafo depois que colégio Marista organizou festa “E se nada der certo”. Ele falou sobre “tio porteiro”.
Entre tantos virais, um chamou atenção na última semana. A divulgação de fotos de uma festa de uma escola de ensino médio do Rio Grande Sul. Em meio a muitas manifestações de revolta e uma “pequena confusão” em relação à qual entidade que havia organizado a festa, um texto chamou atenção.
Sabe quem teria escrito o texto? Clarice Lispector? Não, Sérgio Moro. De acordo com o blog que publicou o texto o juiz da Lava Jato teria escrito uma carta indignado ao colégio Marista na qual ele teria falado do “tio porteiro”. Leia ao texto que circula online:
Abatido e Triste – Sergio Moro escreve desabafo comovente. Gari, Faxineira, Zelador, Porteiro, Atendente do Mc Donalds , vendedor de aluminio , pedreiro , roceiro, vendedor de chip da tim , e etc… Em uma festa a fantasia, Jovens ricos de escola particular, zombam de profissões de pobres
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Sergio Moro emocionado escreve sobre seu tio porteiro como resposta Ao Colégio Marista: Como professor acadêmico que sou , vou arriscar uma reposta a vocês. Meu Tio se aposentou-se como porteiro. O mesmo que vocês têm aí na entrada do Colégio, que os pais “que deram certo” passam e nem cumprimentam.
Então, falando do meu tio meus olhos enchem de lagrimas, pois ele trabalhava feito um condenado (aliás, mesmo depois que se aposentou teve que voltar à portaria por um tempo pra completar a renda). O que meu tio recebia de salário era uma mensalidade que as famílias “que deram certo” pagam pra vocês ensinarem essa ética (ou falta dela) aos estudantes.
Ele tinha uma Barra forte preta e com ela ia de sol a sol, chuva e frio, noite a noite, cuidar de fábricas ou de condomínios ao estilo que os alunos moram ou que os pais “que deram certo” trabalham como Diretores, Gerentes. Meu tio me contava sobre o que é você comer em pé ou no banheiro porque não tem ninguém pra substituí-lo nos intervalos. Cansou de atender pessoas na guarita enquanto mastigava um ovo frio.
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Sérgio Moro escreveu desabafo sobre tio porteiro ao colégio Marista?
Não é preciso nem dizer que o texto viralizou pelos quatro cantos da internet. Mas será mesmo que a história é real? Como é de se imaginar, a resposta é não. Vamos aos fatos.
Para começar um esclarecimento. Você viu que falamos no texto sobre uma confusão sobre o colégio que organizou a festa. Pois bem: ao contrário do que muita gente imagina, a escola que organizou a festa nesta semana não foi o colégio Marista. Na realidade, a instituição é o Instituto Evangélico de Novo Hamburgo (RS). Aconteceu, de fato, uma festa similar no Marista. Mas ela foi em 2015.
Confusões à parte, no dia 5 de junho de 2017, Márcio Ruzon “escreveu uma carta aberta” ao Colégio Marista (neste caso, não cabe a gente dizer se ele quis escrever ao Marista ou ao Instituto Evangélico de Novo Hamburgo). A carta se tornou um viral no Facebook e começa com a seguinte frase: “Ao Colégio Marista: Meu pai aposentou-se como porteiro. O mesmo que vocês têm aí na entrada do Colégio, que os pais “que deram certo” passam e nem cumprimentam”.
Qualquer semelhança com o texto “de Moro” não é mera coincidência. Pelo o que apuramos, o dono do blog “pegou” o texto do Facebook, trocou “pai” por “tio” e colocou na boca de Moro. Por sinal, a página (que não vamos publicar o nome aqui) é a mesma que pegou um texto de uma propaganda da Coca Cola e disse que o juiz teria escrito (saiba mais sobre o caso aqui).
Resumindo: mais uma vez, atribuíram ao juiz Sérgio Moro um texto que não é dele. O recado ao colégio Marista foi escrito por um usuário do Facebook e não pelo juiz da Lava Jato. Crédito certo às pessoas certas.
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