Boato – Um temporal devastador está previsto para a cidade de Campinas em 2017. Prefeitura já planeja transformar escolas em abrigos.
O verão não traz apenas o calor para o Brasil. Além de praias lotadas, a estação mais quente do ano também traz a preocupação com as chuvas. Preocupação que, dependendo da forma que é apresentada, pode virar pânico. E é isso que está acontecendo na cidade paulista de Campinas.
Circula, por meio do WhatsApp, uma série de áudios apontando que a Unicamp e a Prefeitura estão alertando para um temporal devastador que deve acontecer no final de janeiro ou início de fevereiro de 2017. O alerta é tão grande que as escolas podem se transformar em abrigos. Leia transcrição dos áudios:
Pessoal, tive na minha escola agora há pouco, fui lá desocupar uns armários que a escola tava pedido para eu desocupar e tava conversando com a minha diretora sobre quando vão voltar as aulas e tudo mais. E ela me deu uma notícia e que u tô repassando aí e depois vocês repassem também. É bom a gente estar ciente destas coisas.
Disse que, para final de janeiro e talvez começo de fevereiro, as escolas estão todas requisitadas. Elas vão se tornar todos abrigos. Porque para o final de janeiro e começo de fevereiro está previsto um temporal muito grande. Ela disse, um temporal devastador. Ela até usou essa palavra: devastador, que vai ter aqui na nossa região. E as escolas já foram requisitadas.
Se isso acontecer, mesmo que tenha começado o ano letivo, as aulas serão suspensas e as escolas vão se tornar abrigo. Isso vai ser um negócio muito grande. Dizem que essa história veio da Unicamp. Eles não estão repassando para todo mundo. Em televisão não ver isso agora para não causar alarme. Mas as escolas já foram avisadas e os diretores já foram avisados que as escolas serão requisitadas.
Se alguém pretende fazer alguma coisa para o final do mês é bom repensar porque ela disse que a coisa é séria, que a Unicamp já ligou na escola, conversou com a gente e foi eles que fizeram essa previsão já. Pessoal da Unicamp. Então passa frente, para o pessoal que você conhece e quer fazer viagem. Que parece vem vindo um temporal forte aí.
…
Meninas, eu já estava sabendo. Fiquei sabendo disso em dezembro. O meu diretor, no último dia de aula que fizemos reunião, ele falou que a Defesa Civil tinha ligado para ele falando sobre isso. Passando os dados da escola e falando que iria ter um temporal devastador mesmo. E, como a minha escola é em Barão, Barão ia ser um dos piores lugares porque era descampado. E ele até ligou lá na diretoria para saber se era trote e a diretoria falou que não, que eles também estavam sabendo sobre isso.
Temporal devastador em Campinas vai acontecer no início de 2017?
É claro que a história se espalhou como rastilho de pólvora na região de Campinas. Mas será mesmo que já está previsto um temporal devastador para a região e as escolas já estão todas preparadas? A resposta é não. Vamos aos fatos.
Pois bem. O primeiro ponto que denuncia a farsa é a forma que a informação é apresentada. As mulheres que falam no áudio não levam em conta dois fatores: o primeiro é que elas consideram Campinas uma “ilha isolada no mundo” e delimitam o “temporal devastador” apenas à cidade. Isso não faz muito sentido. Afinal, por que só Campinas (e não Valinhos ou São Paulo) vai sofrer com as chuvas?
A segunda está no fato de que não é possível fazer uma previsão de uma catástrofe com tanto tempo de antecedência. Por exemplo, cai uma tempestade no Sul e há uma massa de calor em São Paulo. Aí sim, dá para imaginar que haverá chuvas fortes no dias seguintes. Isso é impossível de se prever em meses.
Para além disso, a Unicamp negou que foram feitos quaisquer alertas sobre temporais devastadores. A universidade apontou, justamente, que é impossível fazer a tal previsão. Leia o texto:
A Unicamp vem a público para desmentir boato que circula pelas redes sociais e aplicativos de mensagens “informando” que a Universidade previu a ocorrência de uma tempestade sem precedentes, em Campinas, para o final de janeiro ou começo de fevereiro. A Unicamp lamenta que rumores dessa natureza, totalmente desprovidos de veracidade, estejam sendo reproduzidos, causando apreensão entre a população. Lamenta, ainda, que o nome da instituição tenha sido irresponsavelmente envolvido nesse tipo de mensagem.
O professor Hilton Silveira Pinto, ex-diretor e atual pesquisador convidado do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Aplicadas à Agricultura (Cepagri), esclarece que qualquer previsão sobre chuvas que supere cinco dias “ou é especulação ou má fé”. “Nós não temos condições de fazer previsões com 20 dias antecedência. Se tivéssemos, seria uma maravilha, pois obteríamos muitos ganhos na agricultura”, afirma.
Segundo Silveira Pinto, o que é possível antecipar é que as chuvas no atual período deverão ter comportamento semelhante ao de anos anteriores. “Vamos ter tempestades principalmente nos finais de tarde, com alguns alagamentos, mas nada muito diferente do que aconteceu em outros verões. A população pode ficar tranquila, pois não há qualquer previsão de ocorrência de uma grande tempestade em Campinas”, assegura.
Caso resolvido, certo? Errado. O leitor Daniel Mattoso nos apontou que, mesmo depois do desmentido da Unicamp, começou a circular um áudio e uma imagem do Diário Oficial da cidade. Leia a transcrição:
Mas isso procede mesmo sobre os temporais. Se você olhar o Diário Oficial do dia 2 de dezembro, está marcado todos os locais que estão em risco. E já foram requisitadas todas as escolas estaduais como municipais para estarem em ordem, chuveiros, para abrigar as pessoas.
Mais um engano. A tal prova no Diário Oficial nada mais é do que uma operação de prevenção das chuvas para a cidade chamado Defesa Civil nas escolas. Até porque se caso acontecer, é melhor estar prevenido. Olha o que diz o texto:
a) implementar ações de prevenção, de acordo com o programa de desenvolvimento de recursos humanos, conforme a Lei Municipal nº 9.310, de 27 de junho de 1997, que institui o programa “Defesa Civil nas Escolas”, da rede pública municipal de ensino;
b) apresentar ao Comitê Municipal de Gestão de Risco e Gerenciamento de Desastres o cadastro de espaço físico para instalação de abrigos emergenciais, bem como logística e a mão de obra para atendimento aos desabrigados, particularmente no que diz respeito à sua alimentação, em estreita ligação com a Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência e Inclusão Social;
c) manter equipe técnica, mobilizável a qualquer tempo, para atuar em situações críticas no município de Campinas e indicar os representantes, titular e suplente, junto à Rede de Alerta de Desastres, conforme disposto no Artigo 9º do Decreto n° 19.254, de 19 de agosto de 2016;
d) implementar as ações do Game “Defesa Civil a Aventura” na rede municipal de ensino;
e) em caso de desastre, situação de emergência ou estado de calamidade pública deverá desempenhar as tarefas específicas às suas atividades normais, mediante articulação prévia com o Departamento de Defesa Civil.
Note que no item e, é citado “em caso de desastre”. Ou seja, tudo que está no documento é longe de ser uma preparação para um desastre iminente. Resumindo: aleta em áudios que circula sobre um temporal devastador não passa de um boato. Até o momento, tudo que temos é prevenção.
Ps.: Esse artigo foi uma sugestão de diversos leitores no WhatsApp. Se você quiser sugerir um tema aos Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook ou WhatsApp no telefone (61) 99331-6821.