Boato – Ao comparar cloroquina com Tubaína, o presidente Jair Bolsonaro se referiu a uma tortura por afogamento cunhada no Brasil Colônia e popularizada na Ditadura.
O presidente da República Jair Bolsonaro tem se notabilizado por lançar declarações polêmicas em relação ao coronavírus. A última delas foi dada após assinar um decreto que autoriza o uso da hidroxicloroquina em estágios iniciais da Covid-19 (mesmo sem a comprovação de que a medicação seja eficaz contra a doença). Em uma live, Bolsonaro disse que “quem for de direita toma cloroquina, de esquerda toma Tubaína”.
Depois de a declaração ser, inclusive, alvo de uma nota de repúdio da Associação de Refrigerantes do Brasil (Afebras), uma nova versão da história surgiu na internet: a de que Tubaína seria uma gíria usada em quartéis durante a Ditadura e cunhada no Brasil Colônia para uma tortura com água. A história surgiu em redes sociais e viralizou na internet. Leia:
Versão 1: Esse lance da tubaina, ele se refere a uma prática de tortura! Tubo na garganta e liquido decendo sem parar! Sádico, torturador! Versão 2: Eu brinquei com a tubaína sem saber que o presidente se referia à “tortura d’água” a uma prática originária da idade média que consiste em colocar um funil na garganta e despejas liquido sem parar. Tal técnica recebeu, no Br, o apelido de tubaína. Apaguei o post e coloco esse esclarecimento para que outras pessoas não caiam nas troças desse maluco como eu caí.
Versão 3: A TUBAÍNA a qual o presidente Jair Messias Bolsonaro se referiu, consiste na prática de tortura através do afogamento utilizando-se um funil. A “tortura d’água” é uma prática originária da idade média que consiste em colocar um funil na garganta do indivíduo e despeja o liquido sem parar. Tal técnica recebeu no Brasil colônia o apelido de tubaína. Bolsonaro é sádico e perverso, assim como o seu líder maior o cruel estuprador, torturador e assassino Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Tubaína é uma gíria referente a tortura por afogamento cunhada no Brasil Colônia e usada na Ditadura?
Todas as versões da história se espalharam com muita força na internet e deixaram as pessoas estarrecidas com a linguagem subliminar que estaria na fala de Bolsonaro. Mas será mesmo que Tubaína tem esse significado? Pelo que tudo aponta, a resposta é não. Calma aí que a gente explica tudo para vocês.
É fato que o presidente já fez alusões a gírias utilizadas no período da Ditadura Militar. Em novembro do ano passado, ele citou “Ponta da Praia” (gíria utilizada para designar um local utilizado para execuções na época da Ditadura). Em dezembro, citou pau-de-arara (instrumento utilizado para tortura). Porém, não é o caso da Tubaína.
Para resolver essa questão, partimos para dois caminhos. O primeiro foi procurar pela origem da tese de que Tubaína seria uma “gíria o Brasil Colônia recorrente em quartéis”. Para tanto, recorremos a livros de história e pesquisas. Não encontramos referência alguma sobre o termo.
Uma das fontes que utilizamos foi o banco de dados do Projeto Brasil Nunca Mais, que sistematizou mais de 1 milhão de páginas de processos no Supremo Tribunal Militar. Há um capítulo destinado aos “tipos de torturas” listados (inclusive algumas por afogamento). Porém, não há nenhuma menção ao termo Tubaína (tentamos buscar com e sem acento). Procuramos também no site da Comissão Nacional da Verdade e, novamente, nada encontramos.
Ou seja: a tal tese só surgiu após a fala de Bolsonaro. A partir daí monitoramos postagens populares no Facebook que falam sobre a tese. Chegamos a duas. Uma delas (a “versão 3” no nosso original) aponta como fonte uma matéria da revista Superinteressante de 2015. Porém, a matéria não cita o termo em questão.
Outra (a “versão 2” do nosso original) citou como fonte outro texto (a “versão 1”), que, por sua vez, não conseguiu responder de onde surgiu o termo ao ser questionado. Ele chegou a citar que “só quem passou sabe e que não poderia tirar selfie”, mas não tem idade para ter sido torturado na Ditadura.
Vale dizer que mesmo que “alguém tenha ouvido” o termo Tubaína ser designado a esse tipo de tortura em um caso isolado (o que não parece ser o caso, mas vamos dar o benefício da dúvida), isso nem de longe isso configura de que se “trata de uma gíria popular em quartéis”.
Resumindo: não há qualquer comprovação de que Tubaína seja uma gíria relacionada à tortura por afogamento tampouco é possível dizer que Bolsonaro usou uma mensagem subliminar para o termo. Tudo que é dito ao contrário disso é uma “superinterpretação” da fala sem provas que a embase.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164.
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