Boato – Estudo austríaco aponta que assistir Big Brother deixa a pessoa mais burra.
Um dos programas mais polêmicos da TV brasileira é o Big Brother Brasil. Realizado desde 2000 no país, o reality show chega sempre em janeiro mexendo com os fãs e com os críticos. E em 2015, uma história deixou mais animado quem não gosta do programa apresentado por Pedro Bial.
Publicada em sites (como, por exemplo, o Diário do Centro do Mundo), a notícia apontava para uma pesquisa feita pela Universidade de Lins, na Austría, que dizia que assistir Big Brother deixa a pessoa mais burra. Leia trecho do texto:
Assistir a um programa burro como o Big Brother deixa você mais burro — diz a Ciência
Você não precisa ser muito esperto para saber que o Big Brother é um lixo. Entre as piores desculpas para assistir o programa, uma delas é que ele é “desestressante” e “inofensivo” (qualquer coisa com Pedro Bial declamando poema não pode ser descrita dessa maneira, mas vamos adiante). Bem, não é inofensivo. Ao contrário. É emburrecedor — cientificamente falando.
Um estudo conduzido por Markus Appel, professor associado da Universidade de Linz, na Áustria, concluiu que quando as pessoas não pensam criticamente sobre o que estão consumindo numa mídia correm o risco de “assimilar características mentais expostase”.
Em outras palavras, a estupidez de participantes e apresentadores de absurdos como o BBB é danosa à saúde, ainda que temporariamente.
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Num experimento com 81 pessoas, Appel pediu a diferentes grupos que lessem um roteiro que contava o caso de Meier, um hooligan alcoólatra e intelectualmente debilitado. Metade recebeu a instrução de pensar de maneira diferente do protagonista, enquanto a outra metade não teve instrução nenhuma antes de ler.
Em seguida, todos fizeram um teste. O grupo que fez uma leitura crítica se saiu muito melhor — um processo que Appel considera ser responsável por manter longe do efeito contagioso da imbecilidade. Conhecimento geral não é o mesmo que QI, é claro. Mas os resultados, de acordo com Appel, “ajudam a reforçar a tese de que as pessoas são influenciadas de maneira sutil, mas significativamente, por produtos de baixa qualidade”.
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Claro que o texto bem escrito e argumentado foi um prato cheio para os que odeiam o Big Brother deitar, rolar, criticar e compartilhar. Mas será verdade mesmo que a ciência disse que Big Brother deixa você mais burro ou foi só o autor do texto que disse isso? Se você falou a segunda alternativa, está certíssimo.
Primeiro, procuramos para saber no trabalho austríaco se havia alguma relação direta com o BBB. Como aponta o texto original, não há. Nas 25 páginas do trabalho, não há uma referência ao programa.
Além disso, o trabalho apresenta algumas coisas diferentes do texto do DCM. O estudo aponta que quem assiste a um programa com um personagem estúpido (haja juízo de valor para definir que todos que passam no BBB são estúpidos) ficar “mais burro”. Não tem nada a ver com leituras críticas.
Procurando por outros registros da matéria, encontramos um texto do Tecmundo que também compara o estudo ao Big Brother (é fácil bater em cachorro morto, hein). O site de tecnologia também faz isso com base no estudo que não diz nada de BBB.
Resumindo: tudo que foi colocado sobre o Big Brother e o estudo austríaco é uma ilação da imprensa brasileira, talvez para ganhar um clique a mais por saber que há muita “gente inteligente” que não vê o programa.
Enfim: você pode achar que Big Brother é um programa ruim (tem gente que acha que não), gostar dos artigos citados nesse texto, mas uma coisa é fato: em momento algum o estudo austríaco falou que quem assiste Big Brother fica burro. E isso torna a premissa de que a ciência chamou o telespectador do BBB de burro um boato.