Boato – Segundo pesquisas realizadas por cientistas da Universidade de Exeter, cheirar pum do parceiro diminui risco de câncer
Em nossa sociedade, o assunto flatulência gera muito constrangimento. Pra quem namora, então, o tema causa ainda mais desconforto. E tem até quem use o pum como um parâmetro de seriedade do relacionamento. Quem nunca ouviu “em que estágio está o seu relacionamento? Já estamos soltando pum um na frente do outro”.
Pois é, mas parece que toda essa vergonha, no final das contas, é infundada. O motivo? Pesquisadores da Universidade de Exeter descobriram que cheirar o pum do parceiro pode evitar doenças e prolongar a vida. É isso mesmo o que você ouviu: a flatulência pode trazer benefícios pra saúde de quem o inala.
De acordo com a postagem que divulga a pesquisa, o segredo está no sulfeto de hidrogênio. “O grande herói é o sulfeto de hidrogênio, um dos componentes dos gases intestinais”, afirma o texto. E a postagem ainda garante que quanto mais malcheiroso, melhor pra saúde.
Cheirar o pum do parceiro prolonga vida e evita doenças?
Trabalhar com divulgação científica não é uma tarefa fácil (e eu afirmo com propriedade, exatamente por trabalhar e estudar com isso). Às vezes, ao tentar aproximar o leitor leigo com comparações simples, equívocos e confusões podem acontecer. E foi exatamente o que aconteceu com essa história. Ou seja, as informações são equivocadas e errôneas. Quer saber o por quê? Continua lendo.
O tal estudo da Universidade de Exeter, de fato, existe. Os primeiros resultados da pesquisa foram publicados em 2014. Entretanto, ele não falava sobre a relação pum e aumento da expectativa de vida, mas sim sobre o desenvolvimento de uma nova droga (a AP39) que tinha como base o sulfeto de hidrogênio.
No release lançado no site da universidade, os assessores denominam o sulfeto de hidrogênio como gás do ovo podre e começam o texto falando que ele cheira pum.
De fato, as informações são verdadeiras. Entretanto, a mídia resolveu simplificar o release (que é muito mais complexo do que isso) e criaram a relação entre cheirar pum com o aumento da expectativa de vida. Quando a história, em inglês, viralizou, os cientistas fizeram questão de esclarecer o mal entendido e acrescentaram uma nota de rodapé no release lançando no site da universidade:
Nota dos autores do estudo: À luz das manchetes enganosas no comunicado de imprensa acima, os autores desejam sublinhar que nem os documentos ( http://pubs.rsc.org/en/Content/ArticleLanding/2014/MD/C3MD00323J# ! divAbstract , http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24755204 , http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25960429 , http: //www.ncbi.nlm.nih .gov / pubmed / 26513708 e http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25555533 ), nem o comunicado de imprensa que acompanha acima faz qualquer referência ao câncer ou a quaisquer benefícios para a saúde de inalar (cheirar) hidrogênio sulfureto. A pesquisa é um projeto de desenvolvimento de drogas em estágio inicial e ainda não foi testada em seres humanos.
Pois bem, estava comprovado o equívoco e que a história não passava de boato. Alguns veículos de comunicação logo trataram de evidenciar e ajudar a desmentir o boato, como a rede de comunicação NBC e o site de divulgação científica IFLSCIENCE!
Anos depois, as pesquisas, que eram preliminares, parecem ter continuado, mas não evoluído muito. E, nesse meio tempo, alguém resolveu criar uma versão em português sobre toda a história, acrescentando que o pum do parceiro é que teria uma real eficácia no processo.
E se a história em português foi baseada em uma mentira em inglês, ela não passa de boato. Logo, a informação é falsa. Então, você não precisa aguentar o pum do seu parceiro, pensando que vai ganhar alguns anos de vida. É pura balela.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 994325485.