Boato – Médicos militares do Egito inventaram aparelho que rastreia o HIV nas células e elimina o vírus do corpo.
A era da internet é uma benção, e também uma maldição. A facilidade de publicar asneiras na rede é tão grande que qualquer um pode ter um blog e/ou publicar qualquer bobeira na rede.
Outra maldição da internet é a facilidade como as coisas se espalham. Uma vez postada a informação, de compartilhamento em compartilhamento, ela corre o mundo se quiser. E as pessoas acreditam, infelizmente.
Pior é quando a ciência é usada como fonte de veracidade de uma balela. É o caso absurdo da cura da aids anunciada pelo exército egípcio. Segundo a história repassada, um grupo de médicos e cientistas do Exército do Egito desenvolveu um aparelho capaz de localizar células infectadas com HIV no corpo e eliminar o vírus do corpo humano, proporcionando a cura da pessoa.
Confira parte do texto que conta uma das maiores descobertas da ciência atual:
‘A tecnologia foi denominada “Complete Curing Device” (CCD) e permite rastrear e eliminar os vírus e levar a cabo a terapia geral.
O correspondente da Voz da Rússia foi o primeiro jornalista estrangeiro que teve a oportunidade de conversar com os dirigentes deste projecto que ainda há pouco era ultra secreto. Numa palestra, realizada no Departamento de Engenharia das Forças Armadas, estiveram presentes ambos os criadores da tecnologia única – o general-médico Ibrahim Abdel-Atti e o coronel-médico Ahmed Amin. Foi o coronel Ahmed Amin quem falou da nova tecnologia:
“O Departamento de Engenharia das Forças Armadas desenvolveu e testou dois aparelhos. Um deles, que tinha sido desenvolvido sob a minha direção, descobre os vírus, enquanto o outro, desenvolvido sob a direção de Ibrahim Abdel-Atti, elimina estes vírus. O programa geral de tratamento inclui também medicamentos especialmente desenvolvidos. Os medicamentos e a aparelhagem já foram submetidos a todos os testes em modelos, em animais e em humanos. Isto diz respeito ao HIV e ao vírus da hepatite C. Todos os ingredientes dos medicamentos também foram submetidos a testes de toxicidade […]”.
Segundo os médicos, o prazo de tratamento é de seis meses. Inicialmente, o paciente toma medicamentos durante dez dias. A seguir, durante 15 a 25 dias, em conformidade com o estado do paciente, que é submetido ao tratamento com o aparelho uma hora por dia. E depois, novamente toma medicamentos até completar o prazo total de seis meses.
“Constatamos que os vírus desapareceram do organismo de todos os pacientes submetidos aos nossos testes […]”’.
Como mencionado, os termos científicos dão a seriedade que se espera de uma descoberta desse tipo. No entanto, sem ilusões, é tudo mentira. A descoberta é uma invenção do exército egípcio e até o momento não há nenhum sinal de veracidade nessa afirmação.
Explicamos por quê. Primeiro, o boato é velho, essa história começou a circular no ano passado e foi desmentida já na época. Agora, apareceu novamente em redes sociais e blogs.
Segundo, nenhum, atenção a esta palavra, nenhum grupo científico confirmou a descoberta. Como é de costume quando se anuncia uma novidade científica, esta deve passar pelo crivo de outros especialistas e ser atestada como verdadeira. Algo do tipo aconteceu? Não, nada.
Ao contrário, os anunciadores da boa nova afirmaram que não colocariam a descoberta a disposição da ‘máfia farmacêutica internacional’. Sequer o governo egípcio reconheceu o aparelho chamado de Dispositivo de Cura Completa (DDC), enquanto críticas e piadas por parte dos próprios egípcios tomaram a internet.
A UNAIDS, braço da ONU e responsável pela resposta à aids em todo o mundo, não fez nenhum comentário sobre a suposta cura. Muito provavelmente porque preferiram ignorar a história absurda de que é possível curar pessoas que vivem com HIV simplesmente com um detector de metais modificado.
Portanto, outra balela muito mal contada. Infelizmente, ainda não foi possível alcançar a cura para a aids, doença que só no Brasil atinge mais de 700 mil pessoas. De qualquer forma, aguardemos pelo dia em que uma boa notícia assim será verdadeira, enquanto isso ajudamos bastante ao não colaborar com a ascensão de uma mentira que toca uma questão tão séria.