Boato – A cientista Sarah Gilbert selecionou três filhos entre as cinco primeiras pessoas a testarem a vacina de Oxford e a prometeu para setembro.
Desde que foram divulgados testes avançados de vacinas contra a Covid-19 na mídia, dentre eles, os da ChAdOx1 nCoV-19, que está sendo estudada e desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca (candidata a testes aqui no Brasil também), considerada uma das mais eficazes no combate ao coronavírus, a ansiedade é tanta para que tudo dê certo que não se fala em outra coisa na internet.
Mas, é claro, é preciso ficar atento ao que é verdade e o que não passa de balela para “iludir” a população em meio às inúmeras publicações que surgem nas redes sociais sobre o assunto. Recentemente, por exemplo, começou a circular principalmente no Facebook uma informação de que a cientista Sarah Gilbert, da Universidade de Oxford, teria selecionado três filhos entre as cinco primeiras pessoas a testarem a vacina de Oxford e a prometido para circulação em todo o mundo já a partir de setembro de 2020.
De acordo com a postagem, com isso, Sarah não só supostamente demonstra o valor do conhecimento científico, mas também acaba com os pensamentos “escurantistas” (pessimistas) e com as teorias da conspiração que “pseudocientistas” estariam divulgando sobre a ineficácia da vacina em questão. Isto é, em outras palavras, a pesquisadora teria “tanta confiança” na vacina que colocou os próprios filhos para receberem as primeiras doses do imunizador. Confira, a seguir, o texto original da publicação que está rodando online:
Confira o desmentido em vídeo:
#IssoAMídiaNãoMostra Este rosto em poucos dias aparecerá em todas as capas das revistas científicas e jornais e canais de TV do planeta inteiro, é a Dra. Sarah Gilbert PhD professora da Universidade de Oxford. É quase certo que ganhará o Prêmio Nobel de medicina por ser a cientista que descobriu a vacina contra a COVID-19. Um dado importante da segurança do seu achado é que quando ele achou que tinha conseguido a vacina não hesitou em experimentá-la nas primeiras 5 pessoas e dentro delas selecionou e injetou seus 3 filhos trigêmeos, demonstrando o valor do conhecimento científico e acabando com o pensamento escurantista e das teorias da conspiração que tanto gostam de divulgar pseudo cientistas. Garantiu que a vacina circulará pelo mundo em setembro de 2020. Uma heroína. Via: Enséñame de Ciencia
Sarah Gilbert selecionou três filhos entre as cinco primeiras pessoas a testarem vacina de Oxford e a prometeu para setembro?
Como era de se esperar, a publicação encheu os internautas de esperança sobre a vacina em questão e ganhou uma série de compartilhamentos, viralizando rapidamente. Mas será mesmo que Sarah Gilbert selecionou três filhos entre as cinco primeiras pessoas a testarem a vacina de Oxford e a prometeu para setembro? A resposta é não! E o porquê você confere agora.
Para começar, a mensagem da publicação que está compartilhando a tal notícia possui todas as características já conhecidas de fake news: é vaga (não diz quando e onde a cientista teria testado a vacina nos filhos), alarmista (tem o intuito de criar expectativas nos internautas e, com isso, gerar compartilhamentos), possui erros de português e não cita fontes confiáveis que possam confirmar o que está sendo dito.
Ao buscarmos sobre a história de Sarah Gilbert, descobrimos que, de fato, os filhos foram voluntários na testagem da vacina de Oxford. No entanto, não estavam entre os cinco primeiros, como diz o boato. Os dois primeiros foram a microbiologista Elisa Granato e o pesquisador de câncer Edward O’Neill, que se ofereceram para ser receber a primeira dose de testagem em humanos da vacina no Reino Unido.
Tampouco falou-se em “cinco primeiras” pessoas a testarem o imunizador. Depois dos dois cientistas, outros seis voluntários seriam testados dias depois, fechando em mais de mil participantes na primeira fase de testes em Oxford. Inclusive, a própria Sarah Gilbert falou sobre o assunto aos sites Bloomberg Businessweek e MSN.
Nessas matérias, fica evidente que os filhos trigêmeos, de 21 anos e estudantes de bioquímica, quiseram participar da testagem, e não que Sarah “fez questão” disso, já que, segundo ela, sequer passava muito tempo em casa para discutir o assunto.
Mais que isso, outro ponto fajuto nessa história toda é que a pesquisadora também não garantiu vacina alguma para setembro de 2020. Ela chegou a citar em algumas matérias sobre uma previsão para 2021, com a esperança de que ficasse pronta antes disso, ou para dezembro de 2020, mas, novamente, sem garantir nada.
Isso porque, como Sarah ressalta várias vezes, tudo depende de algumas etapas até que a vacina chegue à população: dos resultados dos testes, da capacidade de os fabricantes produzirem grandes quantidades do vírus para a imunização e, também, da aprovação das agências de regulamentação, com a concessão de uma licença de uso emergencial. Isto é, fatores que tornam improvável a ideia de que a vacina de Oxford ficará pronta em setembro deste ano, como alega o fake.
Resumindo: A publicação que dá conta de Sarah Gilbert selecionou três filhos entre as cinco primeiras pessoas a testarem a vacina de Oxford não é verdadeira. Apesar de os trigêmeos terem, de fato, testado a vacina, não foram os cinco primeiros e tampouco foram “selecionados” por ela. Além disso, não há nenhuma previsão de que a vacina ficará pronta em setembro de 2020.
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