Boato – Gabriel García Marquéz deixou uma carta de despedida antes de perder totalmente a consciência e se tornar senil.
Nesse dia 17 de abril de 2014, o mundo perdeu Gabriel García Marquéz. Aos 87 anos, “Gabo” faleceu. O vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1982 é considerado o mais conhecido autor-colombiano, além de ser o principal nome da escola literária conhecida como Realismo Mágico.
O primeiro terceiro sul-americano a ganhar um Nobel de Literatura havia anunciado que parou de escrever no ano de 2012. No mesmo, seu irmão, Jaime Garcia Marquéz, contou que havia sido diagnosticado uma demência em Gabriel e o autor começava a perder a memória.
Com a notícia, alguns jornais divulgaram uma suposta carta de despedida do escritor na época. Na carta o escitor fala sobre amor, sonhos e arrependimentos. Confira a carta na íntegra:
“Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo o que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e disfrutaria de um bom gelado de chocolate.
Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida vestiria simplesmente, jorgar-me-ia de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como também a minha alma. Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saisse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas um poema de Mário Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo das suas pétalas.
Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida!… Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas: amo-te, amo-te. Convenceria cada mulher e cada homem de que são os meus favoritos e viveria apaixonado pelo amor.
Aos homens, provar-lhes-ia como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar. A uma criança, daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha. Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês, os homens… Aprendi que todos querem viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a rampa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta, com sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do pai, tem-no prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, a mim não poderão servir muito, porque quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer.”
Apesar de realmente ser um texto lindo, a carta divulgada não passa de uma mentira. A suposta carta de despedida já circula faz muitos anos (e querem apostar que vai voltar agora). O próprio Gabo já desmentiu e lamentou a repercussão do texto quando tinha 72 anos – sendo que ele faleceu aos 87.
O boato surgiu quando um texto do jornal peruano La República afirmou que Gabriel García Marquéz teria contraído um câncer linfático e estava em estado terminal. A carta surgiu logo após, e apesar de estar com câncer linfático, não estava em estado terminal. O escritor Orlando Maretti também questiona as frequentes referências à Deus existentes no texto, visto que Gabo é um escritor de esquerda, simpatizante do marxismo e “nem de longe seu perfil lembra um religioso”.
Após essas informações, podemos chegar a conclusão de que nem os gênios são perdoados pelas mentiras da internet. A partida do escritor de “Ninguém escreve ao coronel”, “Memórias de um náufrago”, “O amor nos tempos de cólera” e “Cem anos de solidão” é uma triste perda para qualquer admirador de literatura e habitante do mundo. E vamos combinar: não vai ser uma carta de despedida que vai deixar a trajetória mais brilhante do que já é.