Boato – Casamento de Preta Gil, feito em maio de 2015, foi pago com o dinheiro do Ministério da Cultura e Lei Rouanet.
Desde que Temer assumiu o governo do país interinamente, o assunto “Cultura” ganhou os holofotes. Primeiro, ele acabou com o Ministério da Cultura (Minc). Depois, recriou. No meio de tudo isso, houve muitos protestos contra e a favor da pasta. Dentro dos protestos, um assunto era certo: a Lei Rouanet. E dentro do assunto Lei Rouanet, está o tema do nosso texto de hoje.
No final de maio de 2016, voltou a circular na internet a informação de que Preta Gil, filha do músico e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, teria utilizado dinheiro do Minc para fazer uma grande festa de casamento. A história ganhou força em blogs com uma linha mais voltada à direita. Leia trechos:
O casamento midiático da cantora Preta Gil, avaliado em milhões, não foi completamente desembolsado por quem achamos que foi.
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Como aponta o colunista do R7, Andre Forastieri, o casamento de Preta Gil era uma oportunidade única de se exibir, com a nova onda entre os muito ricos do exterior.
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E, segundo a publicação, ninguém personifica esta proximidade proveitosa do poder tão bem quanto Gilberto Gil. Conforme sua carreira decaía, se transmutou em ongueiro, político, ministro. Através das leis de incentivo à cultura, empresas deixam de pagar imposto, pegam esse dinheiro e financiam atividades culturais. Gil foi o ministro anos; seu secretário-executivo, Juca Ferreira, é o atual. Pintou uma graninha boa para o próprio Gil, assim que deixou o ministério.
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“Precisamos muito de alguém com o talento e a coragem para transformar em literatura a seguinte notícia, de dezembro de 2014, semanas antes de Juca Ferreira voltar ao ministério: “o Ministério da Cultura autorizou a captação de R$ 6,5 milhões de reais para a peça Gilberto Gil, o Musical. O valor prevê seis meses de apresentação em São Paulo e seis meses no Rio”, conclui a matéria.
Casamento de Preta Gil foi pafo com Lei Rouanet?
O texto acima não é novo. Foi publicado à época do casamento e teve como base uma publicação do blogueiro do R7 André Forastieri. Como pode se ver, o conteúdo do texto dá muito mais voltas do que o título aparenta apontar. Mas como tem gente que só lê títulos de matérias, fica a pergunta: o casamento de Preta Gil foi pago com dinheiro público? A resposta é não. Vamos aos fatos.
Primeiro, a fonte para toda a informação foi o blog do R7 citado acima. Agora um detalhe: em todo o texto não há sequer uma prova que o dinheiro do Minc ou da Lei Rouanet foi utilizado para a festa. Apenas conjecturas. Detalhe: nem a Justiça aprovou o tal texto. Em março deste ano, o R7 teve que indenizar Preta Gil por causa da acusação (cuidado aí pessoal que anda postando boato).
Agora vamos para a outra ponta da questão. Vamos explicar rapidamente como funciona a Lei Rouanet. O artista ou sua equipe inscreve o projeto e faz o orçamento dele. Normalmente, uma empresa faz o projeto. O Ministério aprova ou não perante requisitos técnicos. Se aprovado, o artista (ou equipe ou empresa contratada) começa a bater na porta de outras empresas para levantar o dinheiro aprovado para captação (nem sempre o mesmo valor do projeto). Se o artista conseguir o dinheiro, pode fazer o projeto. Se não, ele é engavetado. Depois, é preciso prestar contas do projeto. Pois bem. Como que seriam prestadas as contas do projeto se o dinheiro fosse para o casamento de Preta Gil? Algum problema teria.
Para além disso, foi dada uma grande cobertura (para não dizer exagerada) do casamento dela à época. Porém, ninguém (com exceção do texto acima) ousou dizer que foi o governo que pagou. Tampouco apresentou quaisquer provas. Entre as tantas conjecturas, nem o valor do casamento (que seria de R$ 2 milhões) foi confirmado. Ou seja, todo o debate foi em acima de valores que nem certos estão.
Resumindo: um blogueiro lançou um artigo sobre o casamento de Preta Gil. O texto foi tomado como verdade e foi reproduzido por aí. Não só a acusação não foi provada como também o Gil (o pai) ganhou uma indenização.