Boato – Aderbal Freire-Filho, marido de Marieta Severo, recebe R$ 91 mil de salário por mês da EBC, empresa do governo federal.
Quando Dilma foi afastada do cargo de presidente da República, diversos artistas se manifestaram a favor dela. Um deles é a global Marieta Severo. O apoio à Dilma acabou sendo “justificado” por alguns espaços na internet como consequência do marido dela, o diretor de teatro Aderbal Freire Filho.
De acordo com textos que circularam por blogs e redes sociais, Aderbal Freire recebe um salário de R$ 91 mil por mês para apresentar o programa Arte do Artista. Leia textos que circulam online:
Marido de atriz petista é demitido de estatal. O diretor teatral tinha um salário de R$ 91 mil
O diretor teatral Aderbal Freire, marido da atriz global [e militante petista] Marieta Severo, recebia um salário de R$91 mil da EBC – Empresa Brasil de Comunicação, órgão do Governo Federal
Aderbal recebia a bagatela de R$ 91 mil por mês, um valor cinco vezes maior do que o salário do presidente da própria EBC.
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Marido de Marieta Severo recebe R$ 91.300 por mês na EBC, empresa pública federal
O Diário do Brasil havia dito que Aderbal Freire, esposo de Marieta Severo, tinha sido demitido da EBC Brasil, onde ganharia R$ 91 mil reais por mês.
A EBC entrou em contato com a publicação e corrigiu. Mas não negou o valor. Negou apenas que ele havia sido demitido.
Em nota, a empresa estatal – infestada de petistas – disse: “a Empresa Brasil de Comunicação esclarece que o contrato com a A.Freire-ME, empresa de Aderbal Freire-Filho, diretor-geral e apresentador do programa Arte do Artista, exibido à meia-noite de segunda-feira, na TV Brasil, permanece vigente”.
Marido de Marieta Severo recebe R$ 91 mil da EBC?
Como vocês puderam ver, uma das informações (de que ele teria sido demitido) que constavam na primeira versão do boato acabou sendo desmentida na segunda. Porém, não é a única incorreção que está nos textos acima. Por isso, vamos aos fatos.
Para começar, salário não é a melhor forma de tratar o vínculo entre a EBC e o diretor de teatro. O que temos é um contrato de prestação de serviços. Quando a história começou a circular na internet pela primeira vez, o próprio Aderbal explicou a história (explicou muito melhor do que a EBC). Leia trechos (se quiser ler por completo clique no link):
Circula contra mim – “o marido da atriz defensora de Dilma” – uma acusação nas redes sociais de ter “um cargo em uma empresa pública com salário de 91 mil reais”.
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Sou de fato companheiro de uma atriz, Marieta Severo, e ela de fato é uma das atrizes que, ao lado de muitos artistas, de muitas cidadãs e muitos cidadãos brasileiros defendem a presidente Dilma Roussef e a democracia. Mas a forma de me apresentar profissionalmente é: o diretor, autor e ator de teatro Aderbal Freire-Filho. Tenho 75 anos de idade, mais de 60 de carreira, criei mais de 100 espetáculos no Brasil, além de ter dirigido também em outros países.
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Não tenho cargo algum em uma empresa pública. Querendo dar a ideia de que o “marido…” tem uma assessoria, uma secretaria, uma diretoria, sei lá o que, eles intitulam assim uma realidade absolutamente diferente, que vou resumir. A TV Brasil teve um programa de entrevistas com artistas, criado e apresentado pelo ator Sérgio Britto. Quando Sérgio Britto morreu, seu produtor me procurou, para que a tv continuasse a ter esse espaço aberto para a arte brasileira. Aceitei o convite, projetei um novo programa, mantendo os mesmos princípios, mas criando uma nova linguagem.
Além das entrevistas, o programa passou a ter uma dramaturgia, que pode incluir a presença de atores. A TV Brasil, para economizar custos, propôs às equipes de alguns programas, esse entre eles, um regime misto de produção. No nosso caso, a TV entraria com os estúdios, câmeras e técnicos e nossa produção se responsabilizaria por todos os demais gastos, previstos em planilhas que acompanham o contrato. E assim é feito.
Com o valor mensal do contrato, de R$ 91 mil no ano passado, eram pagos: um diretor de produção e quatro colaboradores: um produtor assistente, um diretor de tv, uma editora e um pesquisador e co-roteirista; os cachês dos atores e atrizes convidados; gastos com cenografia; passagens aéreas para entrevistados vindos de outras cidades; passagens aéreas para a equipe, quando vai a outras cidades; hospedagem da equipe em viagens; hospedagem no Rio de convidados de outras cidades; transporte local para convidados; técnicos e aluguel de equipamentos para gravações feitas fora do Rio; custos de material e despesas de administração. É ainda nesse orçamento que está incluído meu pagamento, pelas funções que exerço: roteirista, apresentador e diretor geral.
Neste ano, com a recomendação da presidenta Dilma Roussef de reduzir em 30% os gastos públicos, o programa cortou do seu orçamento passagens aéreas, hospedagens, programas fora do Rio (e, consequentemente pagamento de técnicos e aluguel de equipamento em viagem), cachês para atores, despesas de administração e outras despesas reduzindo o valor mensal do contrato para R$ 68 mil.
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O próprio depoimento do “marido de Marieta Severo” já nos ajuda a esclarecer um pouco mais a história. O primeiro ponto é que não se trata de um “salário” e sim um contrato que previa o pagamento salarial de alguns profissionais (de acordo com Aderbal, de seis pessoas, inclusive ele mesmo) e custos de produção.
O segundo ponto é relacionado aos valores. Em um momento, o contrato chegou a ser de R$ 91 mil. Porém, em 2016, ele foi reduzido para R$ 68 mil. É possível ver a mudança do valor no documento que está neste link. O custo por episódio do contrato chega a cerca de R$ 15 mil (até baixo em se tratando de TV).
Resumindo: independentemente das posições políticas de Marieta Severo e do marido, o fato é que ele nem ganha salário da EBC (que, por sinal, não é uma estatal e sim uma empresa pública) nem ganha R$ 91 mil por mês. São informações erradas que circulam online.
Ps.: Esse artigo foi uma sugestão dos leitores Bruno Silva e Bruna Carvalho. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site ou Facebook.