Boato – Depois da vitória de Thiago Braz no salto com vara, técnico francês disse que o brasileiro ganhou por causa do candomblé.
O Engenhão veio praticamente abaixo na noite de segunda-feira (15), quando o jovem Thiago Braz pulou 6,03m no salto com vara. A altura atingida não foi batida pelo adversário direto, o francês Renaud Lavillenie, campeão em Londres, e rendeu ao atleta brasileiro uma medalha histórica, além do novo recorde olímpico. Uma noite de festa para o Brasil e de lamentações para França.
Aliás, as lamentações começaram ainda durante a prova quando Lavillenie fez sinais de que estava incomodado com o barulho feito pela torcida brasileira. Decisiva ou não, o francês errou, ficou com a prata e ficou inconformado. Lavillenie ainda deu uma declaração infeliz comparando a torcida brasileira à torcida da Alemanha nazista nas Olimpíadas de 1936.
E como se não bastasse essa bola fora, o técnico do atleta também fez um comentário polêmico – supostamente disse que a medalha de ouro do Brasil veio por causa de energias místicas do candomblé. Confiram os trechos que saíram na imprensa:
Não terminam as reclamações do francês Renaud Lavillenie e seu estafe após a vitória do brasileiro Thiago Braz no salto com vara, na última segunda-feira, pela Rio 2016.
Após o próprio atleta detonar as vaias que recebeu da torcida brasileira no Engenhão enquanto executava seus saltos, o treinador de Lavillenie, Philippe d’Encausse, sugeriu até mesmo que o candomblé esteve por trás da medalha de ouro de Thiago.
Vale lembrar que Braz fez sua melhor marca na carreira.
“Thiago saltou 6,03m. Ele pode ter contado com a ajuda de forças místicas para isso. Pode ter sido o candomblé”, afirmou o treinador em declarações publicadas pelo jornal Le Monde.
“Esse país [Brasil] é bizarro”, completou d’Encausse.[…]
O técnico francês disse que candomblé deu o ouro ao Brasil?
Não, não disse. Apesar de esse trecho ter sido retirado de uma matéria do site ESPN, não foi só o veículo de esporte que acreditou na suposta fala do treinador. Outros meios de peso, como a BBC Brasil e o portal G1 também publicaram o comentário polêmico do técnico Philippe d’Encausse. Mas, se vocês estão questionando que tudo está perdido já que até os grandes compartilham boato, acalmem-se, que não é bem assim.
O caso, na verdade, foi uma confusão criada (ao que parece, não intencionalmente) por um correspondente do jornal francês Le Monde no Rio. Em sua matéria sobre a disputa do salto com vara, Anthony Hernandez escreveu que o técnico francês chamou o Brasil de “país bizarro” e deu a entender que d’Encausse teria sentido forças místicas, talvez do candomblé, ajudando o atleta Thiago Braz. A declaração se espalhou rápido, até ser averiguado que o comentário sobre o candomblé não tinha sido feito pelo técnico. Foi, na verdade, uma “extrapolação pessoal” do jornalista, uma espécie de liberdade poética na reportagem.
Sobre a religião de Thiago Braz, sabemos que ele é evangélico. Em declaração a imprensa ele disse que conversou com seu pastor antes da prova, com quem ganhou mais confiança ainda para alcançar a medalha de ouro. Nada mais.
A BBC Brasil e o G1, inclusive, se retrataram e atualizaram suas respectivas matérias acrescentando esse ponto importante. No entanto, ainda tem alguns meios e sites repassando por aí que foi Philippe d’Encausse quem relacionou o candomblé à vitória do brasileiro.
Então, o técnico Philippe d’Encausse não disse que o candomblé fez Thiago Braz ganhar a prova, isso foi um acréscimo do jornalista do Le Monde que escreveu a matéria sobre a disputa do salto com vara. Um toque pessoal que causou um reboliço na internet. Outra falha francesa. Perdoável ou não, o importante mesmo é que o ouro é do Brasil.