Boato – Um golfinho foi retirado do mar para que turistas tirassem selfies e morreu por causa disso. Caso aconteceu na Argentina.
Desde o dia 14 de fevereiro, diversos sites de notícias têm publicado uma história bizarra. Um golfinho teria morrido na praia de Santa Teresita (Argentina) após ser retirado do mar para que selfies de turistas fossem feitas.
A história começou a circular em sites argentinos, teve como fonte imagens postadas por um turista chamado Hernan Coria e ganhou força após ser publicada pela ONG Argentina Vida Silvestre. Depois, foi publicada em tabloides britânicos e chegou ao Brasil em portais de notícias. Leia uma das versões da história:
Golfinho morre em praia argentina e turistas se juntam para tirar selfies; Após toda a “festa” com o animal, ele foi abandonado na areia. Uma foto que circula pelas redes sociais mostra uma cena chocante que ocorreu na praia de Santa Teresita, na Argentina. Um multidão está em volta de um homem que segura um filhote de golfinho morto. Segundo o jornal Daily Mail, o mamífero, que era carregado como se fosse um troféu, foi encontrado desidratado próximo ao litoral.
Dezenas de pessoas, então, se aglomeraram para tocar o animal e tirar fotos com ele. Após toda a “festa” com o golfinho, ele foi abandonado na areia. O caso foi denunciado pela Fundação da Vida Selvagem da Argenitna. Em um comunicado, eles disseram que essa espécie pode viver até 20 anos, mas é muito vulnerável. “A espécie Franciscana, como outras, não podem ficar muito tempo embaixo d’água. A pele dela contém uma camada grossa de gordura que retém o calor. Dessa forma, tirá-la da água pode causar uma rápida desidratação”, informou o órgão.
A história é realmente um tanto quanto confusa, mas pelo que apuramos nas nossas investigações, a mídia deu uma “bela” exagerada no caso. Vamos aos fatos.
O primeiro deles é relacionado às imagens. Infelizmente, elas são de um caso que aconteceu na Argentina, na praia de Santa Teresita, no dia 10 de fevereiro. Pedimos a ajuda de nossos leitores para saber se a história realmente aconteceu desta forma.
A dúvida ficou em relação a dois pontos:
- O golfinho estava morto quando foi para a areia?
Neste sentido, o leitor Marcelo Brandão chamou atenção para algo importante: “No video, ele nào se mexe ainda dentro dágua. Já estava morto. No audio, a primeira pessoa que pega ele diz: “Todavia, és muerto””.
- A intenção era tirar selfie?
O leitor José Carlos Júnior aponta para a intenção: “Dá pra perceber no vídeo que os turistas ainda pensam que estava vivo e tentam salvá-lo. Mais um boato que até a TV engoliu”.
Sobre a questão de tirar um animal do mar para selfie. É claro que se trata de um baita sensacionalismo. Pesquisamos e vimos que a história nasceu no site Infozona. Sem uma única fonte, eles contaram uma “grande narrativa” que incluía tirar o animal do mar, tirar selfie e ele morrer. Porém, o vídeo acima denuncia duas coisas: 1) Se o animal estivesse vivo (ou bem), teria se debatido ao ser pego pela pessoa. 2) Ninguém tirou para selfies. A intenção era tentar salvá-lo, claro. O único detalhe é que as pessoas estavam despreparadas para isso.
Para ajudar, temos um relato de Hernan à rede de notícias Telefé (da Argentina). Ele diz que o golfinho já estava morto quando foi retirado da água. Em um dos primeiros comentários nas fotos que postou no Face, ele já havia falado isso. Mas adivinha se alguém leu?
Para terminar, há uma fala oficial da ONG Mundo Marinho, que foi chamada para o atendimento, mas que chegou após as imagens já tivessem sido feitas. Mais do que isso, a ONG disse que, por ano, morrem 500 a 800 golfinhos. Leia (com tradução automática):
O que aconteceu nas imagens que estão circulando em redes sociais aconteceu antes de nossa equipe de resgate chegar ao local. Infelizmente, ninguém deu a advertência oportuna, e com tráfego de auto-temporada na rota, os fatos já havia sido consumados. Quando os socorristas chegaram, o golfinho franciscano não estava no local. De acordo com informações das pessoas que estavam lá, um grupo de pessoas tinha jogado no mar.
Há anos, a Fundação World Marine trabalha para preservar esta espécie, que está em perigo de extinção: Estudos recentes estimam que em todo o sudoeste do Atlântico cerca de 2000 franciscanos morrem anualmente em redes de pesca, com valores máximos de 3000 cópias. Na Argentina, a mortalidade é estimada entre 500 a 800 golfinhos por ano. O mais alarmante é que com a manutenção desses valores, de acordo com estudos de viabilidade populacional, alguns grupos pode entrar em colapso em 30 anos.
Sobre este golfinho franciscano, não sabemos se ele estava vivo ou não. No entanto, nestes casos, a coisa mais importante a fazer é chamar instituições e profissionais competentes, como a Fundação Mundial do Mar, para assistir adequadamente às pessoas de origem animal. Enquanto espera os profissionais, se o animal estiver vivo, ele deve manter próximo a 1 ou 2 pessoas para que não se estresse.
Tenha em mente que os animais que estão presos, a maioria tem algum tipo de doença. Por isso, entrar em contato com eles representa um risco para a saúde. Não é aconselhável fazer isso se não for uma pessoa que treinada para isso.
Também tenha em mente que a espécie está sendo ameaçada, mesmo quando mortos, eles podem fornecer dados importantes para a preservação da espécie. A Fundação World Marine é apoiada por pessoas que visitam Sea World, onde uma mensagem de conservação é transmitida.
Olha o que temos (com base em relatos de testemunhas): o golfinho, chegou à praia morto (ou pelo menos sem sinal de vida), houve uma tentativa de salvamento (o homem tenta devolver o golfinho para água), uma multidão de populares se forma e o animal fica morto. Muito tempo depois, chega o socorro, mas o animal já havia sido devolvido ao mar. Por fim, um homem publica uma foto da multidão no Facebook. Um site sensacionalista inventa a tese do selfie, uma OnG compra a tese e a história ganha o mundo.
Resumindo: apesar de um claro despreparo das pessoas que encontraram o golfinho na Argentina, ninguém o tirou do mar para selfies. Até tentaram salvar, mas não conseguiram.
PS: Esse artigo foi uma sugestão dos leitores (e amiga) Luanda Lima e Marcelo Bá. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site ou pelo Facebook.