Boato – Mais de 3 mil pessoas ficaram incapacitadas de realizar atividades físicas após se vacinarem contra a Covid-19 nos EUA e 112.800 tiveram efeitos colaterais da vacina.
A corrida pela vacinação contra a Covid-19 já começou e diversos países já aprovaram (de maneira emergencial ou não) algumas vacinas. Com isso, já iniciaram seus planos de vacinação contra a doença.
E parece que, com isso, a internet inaugurou uma nova fase de fake news sobre a pandemia. Dessa vez, parece que as informações falsas estão se concentrando em disseminar por aí a tese falsa de que tomar a vacina é pior do que se infectar com a Covid-19.
Exemplo disso é a história de hoje. De acordo com uma publicação que está circulando nas redes sociais, um resumo dos 3 dias de vacinação contra a Covid-19 nos Estados Unidos mostra que quase metade dos vacinados tiveram efeitos colaterais e mais de 3 mil pessoas ficaram incapacitadas de realizar atividades físicas. A publicação ainda afirma que, com tantos efeitos colaterais, é “provável que a vacina mande tanta gente quanto para os hospitais”. Confira:
“Saiu resumo oficial de 03 dias de vacinação nos Estados Unidos. 272.000 doses aplicadas até o dia 19/12. 112.800 relatos de efeitos colaterais. Mais de 3.000 ficaram incapacitados de realizar atividades diárias. Com 5% de efeitos colaterais, sendo 1% de efeitos graves, talvez mande tanta gente quanto o vírus para os hospitais. Relatório oficial do CDC”.
Vacina contra Covid-19 teve 112.800 relatos de efeitos colaterais, diz CDC?
A informação viralizou nas redes sociais, em especial, no Facebook e no WhatsApp e deixou muita gente preocupada. Apesar disso, a história não passa de balela.
Infelizmente, ao longo da pandemia, diversas informações falsas sobre vacinas começaram a circular na internet (inclusive, histórias que distorciam informações reais). A equipe do Boatos.org já desmentiu inúmeras delas, como a que dizia que a vacina contra a Covid-19 teria infectado pessoas com o vírus do HIV na Austrália. Também a que indicava que a enfermeira Tiffany Dover, que desmaiou ao vivo após tomar a vacina contra a Covid-19, teria morrido e, por fim, a que apontava que 26 idosos que tomaram a vacina no Reino Unido morreram.
Pois bem, como a publicação original cita uma fonte confiável (um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA), decidimos investigar o documento apontado como fonte de toda a história. Depois de uma simples leitura, descobrimos que os números indicados na publicação foram apresentados de forma equivocada.
A informação de que 272.000 doses foram aplicadas até o dia 19 de dezembro de 2020 está correta. Entretanto, o número de relatos de efeitos colaterais não. Os supostos 112.800 relatos de efeitos colaterais, na verdade, dizem respeito ao número de imunizações realizadas no dia 18 de dezembro de 2020. O número de pessoas que relataram efeitos colaterais (na maioria absoluta, sintomas leves) foi de 3 mil.
Já a afirmação de que mais de 3 mil pessoas ficaram incapacitadas de realizar atividades diárias também não procede. No documento original, o CDC informa que mais de 3 mil pessoas ficaram “incapacitadas de realizar atividades diárias, de trabalhar ou necessitaram de cuidados médicos ou de profissionais de saúde”. Ou seja, nem todo mundo ficou incapacitado.
Enquanto isso, a afirmação de que a vacina mande tanta gente para os hospitais quanto o vírus também é totalmente errada. De acordo com o relatório do CDC, o número de pessoas com efeitos colaterais é de 3.150 de um total de 112.807 vacinados (ou seja, 2,79%). Enquanto isso, o número de pessoa com efeitos graves é 6 (casos de anafilaxia, isto é, uma reação alérgica aguda), ou seja, 0,005% dos vacinados.
E bem, é bastante óbvio que a vacina vai mandar menos gente aos hospitais do que a Covid-19. Basta fazer as contas: o desenvolvimento de uma vacina necessita de diversos testes e estudos para entender a segurança e eficácia do imunizante. Se a vacina não se demonstrar segura ao longo dos testes, ela sequer é aprovada e disponibilizada ao público. Enquanto isso, a Covid-19 é uma doença imprevisível. Ao longo dos meses, foi possível observar que os casos de hospitalizações não ocorreram somente em um público específico. Observamos pessoas novas, de meia idade e idosas morrendo. Também pessoas com ou sem comorbidades sendo internadas em estado grave. O fato da doença não ter tratamento também torna ainda mais imprevisível o resultado da infecção (podendo levar à morte ou não). Ou seja, efeitos colaterais são previsíveis e esperados (e as agências reguladoras sempre orientam as pessoas sobre quem deve se vacinar ou evitar o imunizante). Isso sem falar que os casos graves de efeitos colaterais são mínimos. Já se infectar com uma doença que não possui tratamento e é totalmente imprevisível não me parece uma opção. Estatisticamente falando, há mais chances de você morrer por Covid-19 do que pela vacina contra ela. Uma análise feita pelo divulgador científico e professor Thomas Conti, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), aponta o mesmo.
Em resumo: a história que diz que a vacina contra a Covid-19 usada nos EUA causou 112.800 relatos de efeitos colaterais de acordo com a CDC é falsa! Ao analisarmos o link fornecido na publicação, descobrimos que os números do relatório da CDC foram usados de forma equivocada. De fato, 272.000 pessoas foram vacinadas até o dia 19 de dezembro de 2020. Entretanto, os supostos 112.800 relatos de efeitos colaterais são falsos. Na realidade, esse número diz respeito a quantidade de pessoas imunizadas no dia 18 de dezembro de 2020. Além disso, as mais de 3 mil pessoas que relataram efeitos colaterais tiveram, em sua grande maioria, sintomas leves. Ou seja, a publicação pega elementos verdadeiros e distorce totalmente a realidade. A história não passa de boato!
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99458-8494.
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