Boato – Essa é para fundir a cabeça. Existe no Chile um movimento de veganos indígenas que defendem o nazismo chamado Movimiento Veganista Emergente de Chile.
O que você é hoje? Nunca foi tão difícil (afortunadamente) responder a essa pergunta. Se, no passado, a sua profissão “definia” quem você era, atualmente as opções de autodefinições são infinitas. Muitas delas são relacionadas à ideologia. E a história de hoje fala de uma “fusão” um tanto quanto difícil de entender (mesmo para os tempos atuais): veganismo e nazismo.
Só para contextualizar. De acordo com o dicionário Priberam, vegano é “quem não utiliza ou não consome produtos derivados de animais”. Já Nazista é “quem é adepto do partido nacional-socialismo que Hitler chefiou”. Pois bem, conseguiram juntar as duas coisas em uma em um texto que viralizou no Facebook e em blogs.
De acordo com a mensagem, os “veganos nazistas” são os responsáveis por criar o Movimento Veganista Emergente do Chile (Movimiento Veganista Emergente de Chile). A mensagem aponta também que o grupo usa um símbolo verde parecido com uma suástica nazista e acredita que há uma “raça superior”. Bem complicado de explicar, mas leia o texto aí.
ESSA É PRA FUNDIR A CABEÇA… Essa foto aí é do Movimento Veganista Nazista. Sim, isso. Pera que tem muito mais pra piorar: Esse movimento nasceu no Chile, aqui pertinho da gente. É composto por veganos que tem a etnia principalmente indígena. E eles têm mitologia e tudo mais….
O resumo da história é o seguinte: Nas mitocôndrias existe uma memória genética dos ancestrais e alguns deles, de raças mais puras, são mais próximos de Deus. Mas há seiscentos mil anos, segundo eles, haviam humanos AO MESMO TEMPO em que haviam dinossauros. Nessa época, vieram extra terrestres com capacidade de transformar seus corpos.
E eles se tornaram REPTILIANOS, ou seja, lagartos com forma humana. Se infiltraram entre nós e até hoje estão nos dominando. Estão entre as grandes corporações, manipulando a mídia, escondendo a verdade.. Eles praticam a filosofia Hiperbórea, que visa a purificação dos genes evitando o consumo de carnes e derivados animais para purificar “a raça”.
O Símbolo do movimento (esse da foto) é uma suástica refletida em um espelho, Ela quer dizer que os nazistas tinham contato com os alienígenas do bem, que vieram alertar sobre os alienígenas do mal. Por isso Hitler criou as primeiras leis ambientais e por isso ele era vegano: Ele queria purificar a raça para voltar ao paraíso afastado de nós pelos maus reptilianos. Ah, a suástica, na verdade é a junção de quatro “Vês” V DE VEGANISMO.
Veganos nazistas fundaram Movimento Veganista Emergente do Chile?
A tal mensagem foi compartilhada por muita gente. Muitos o fizeram por considerar a “mistura bizarra”. Outros compartilham para atacar os vegetarianos e veganos. Um terceiro grupo compartilhou “sei lá por que”. Mas e aí? A história que aponta que os veganos do Chile resolveram se tornar nazistas e criaram um movimento “peculiar” é real? A resposta é não. Vamos aos fatos.
De fato, a publicação que circula em redes sociais nos deixou com uma pulga atrás da orelha. Não existem lá tantos veganos no mundo. Nazistas também não. Qual seria a chance de um movimento juntar esses dois itens (mais um monte de coisa) e se popularizar? Imaginávamos que não. E a nossa confirmação veio com algumas pesquisas.
Para começar, o texto que circula online tem algumas, digamos, imprecisões históricas. Primeiro: o movimento não foi criado no Chile. De acordo com a página “oficial” do “Movimento Veganista”, Pablo Santa Cruz de La Vega fundou o movimento na Bolívia.
De fato, Pablo Santa Cruz tem um histórico de postagens que defende o revisionismo histórico e considera que Hitler “não foi um vilão” . Além disso, há postagens defendendo a causa palestina e “condenando” judeus. Ou seja: o movimento é, sim, simpático ao nazismo. O mesmo não se pode dizer sobre o ato de não consumir produtos de origem animal. Também não encontramos nenhum referência a “reptilianos” ou a “dinossauros” nas cartilhas do movimento. Mas como não é o foco da checagem, deixaremos de lado.
Voltando aos veganos. Apesar de ser fácil de confundir o “Movimento Veganista” com o “Veganismo” (dos direitos dos animais), uma coisa não tem nada a ver com outra. A própria página do movimento aponta que a os sentidos das palavras se “desprendem”. “A palavra “Vega” significa “Valle Fértil” e se desprende da palavra Veganismo que serve atualmente para denominar uma cultura de alimentação estritamente vegetariana”, diz.
Em 2013, esse site apontou que a origem do nome também está ligada à Virgem de La Vega. O mesmo site classificou o movimento como neonazista, mas apontou (ao contrário do texto que viralizou no Brasil) que o Movimento Veganista não prega a raça pura e sim o nacionalismo.
A tese de que uma coisa não tem nada a ver com outra também foi defendida pelo brasileiro Fábio Chaves (do site Vista-se). Ele gravou um vídeo desmentido a tese de que o movimento é formado por “veganos nazistas”. Em um dos trechos, ele chega a mostrar que uma fala em o líder do movimento repudia a comparação.
Resumindo: a história que aponta que um grupo de veganos resolveram criar um grupo nazista no Chile é falsa. Além de o grupo ser da Bolívia, não há nada que indique que os membros do Movimento Veganista não possam consumir carne. O nome tem outra origem.
Em tempo: como falamos no início do texto, as opções de “definições” de pessoas são inúmeras. É possível que existam veganos nazistas, assim como é bem possível que existam pessoas “antiveganas” nazistas. Porém, as opções de alimentação e a ideologia política não têm, necessariamente, uma relação de causa-consequência.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.