No Dia da Mentira, o que podemos refletir sobre os boatos na internet e a sociedade? Hellen Bizerra falou sobre o tema, confira:
A história por trás do 1º de Abril e o Dia da Mentira vem do século XVI, tem a ver com mudanças de calendário e piadas entre os franceses. Mais de 500 anos depois, a tradição ainda permanece e é celebrada em grande parte do mundo.
As brincadeiras infames inventadas em 1º de abril tem ar cômico. Nas redes sociais pessoas se casam, anunciam gravidez, prêmios da loteria e até mortes só para enganar seus conhecidos. O senso de humor é liberado nessa data, afinal, é só um dia do ano, que mal tem mentir?
Mau algum haveria mesmo se essas enganações ficassem restritas a uma única data. Afinal, o diferencial bacana das histórias falsas que todos nós inventamos em 1º de abril é que existe por trás do pano aquele acordo cordialmente seguido por todos: no fim só estamos mentindo para celebrar a data.
Essa realidade é completamente diferente do que enfrentamos todos os outros dias do ano com os boatos da internet, quando a mentira e a história falsa não são usadas para “brincar”, mas sim tem como razão central enganar pura e simplesmente.
Com o avanço tecnológico, as possibilidades do universo online e uma conta de rede social ao alcance de qualquer pessoa minimamente provida de recursos, o mundo parece ter se transformado em um eterno e descuidado 1º abril. Compartilhamos mentiras só que sem a parte da celebração e do acordo há pouco mencionado. Por trás destas está a pretensão de se passarem por verdadeiras para sempre e a intensão de desestabilizar, induzir e, infelizmente, de perpetuar desinformação.
Outra diferença primordial é que não somos os autores de todas as mentiras. E justamente por isso, por não termos conhecimento sobre a verdadeira intenção por trás da história é que nossa responsabilidade sobre aquele conteúdo aumenta. Um exemplo simples: compartilhar que eu tenho um affaire sendo que não tenho não é um problema, mas repassar que o vizinho tem sem saber se de fato tem mesmo, pode virar um problemão. Afinal, e se o vizinho é casado?
É nesse ponto que reside a questão da responsabilidade da qual grande parte das pessoas tem se esquivado no dia-a-dia. Principalmente por não se preocupar em diferenciar o que é piada e o que sério. E a proposta não é ser eternamente desconfiado, mas apenas manter o olhar atento do 1º de abril. Aquela perguntinha insistente “será que é verdade” é a pausa necessária antes de qualquer compartilhamento.
Até por que pessoas que se dedicam a inventar mentiras na internet não veem limite para aquilo que criam, e isso é um risco. Uma mentira no mundo real, sem tradição ou festejo envolvido, pode fazer o homem errado ser acusado de estupro, a mulher errada ser assassinada na rua, uma família ter a vida virada de ponta cabeça por causa de uma foto circulando o país.
No dia da mentira, onde inventar, criar e enganar é livre de julgamentos vale refletirmos sobre o poder de alcance de um boato. Durante um dia nós paramos para prestar atenção a isso e ficamos atentos às reações das pessoas sobre aquilo que dissemos ser verdadeiro.
Uma vez que temos sido descuidados ao ponto de continuar brincando de 1º de abril o ano todo, o mínimo que devemos fazer é continuar atentos.