Dentre todos os tipos de boatos que viralizam na internet, o que pede o compartilhamento de fotos de crianças doentes para o “WhatsApp / Facebook / Etc” doar dinheiro é um dos que mais mostram como as pessoas são presas fáceis para fake news.
Situação 1: Uma menina nasceu com cirrose. Com a saúde delicada, está fazendo um tratamento em outro estado. A mãe envia a foto da criança para um contato, que repassa, repassa e repassa. Logo, inventa-se uma campanha que nunca existiu.
Situação 2: Um menino sofre um acidente em uma carvoaria. Gravemente ferido, ele é fotografo no hospital e a imagem cai no WhatsApp. Logo, inventa-se uma campanha que nunca existiu.
Situação 3: Uma menina com escoliose não consegue atendimento no serviço público. A mãe resolve angariar fundos com um vídeo em redes sociais divulgando o número da conta. Logo, o número da conta some, o vídeo continua sendo compartilhado e se inventa uma campanha que nunca existiu.
As três crianças citadas acima têm algo em comum. Todas tiveram fotos e vídeos compartilhados exaustivamente em redes sociais por um motivo: o nome delas foi ligado a uma corrente que aponta que o WhatsApp (ou qualquer outra rede social) estaria dando dinheiro a cada vez que a imagem (que normalmente expõe a doença da criança e a coloca em situação degradante) fosse compartilhada no WhatsApp.
Antes de continuarmos, uma pausa para uma explicação óbvia. De forma alguma, uma rede social vai dar dinheiro pelo compartilhamento de imagens de fotos de crianças doentes. Assista aos vídeos para entender melhor:
Tendo em vista que essa informação de “solidariedade por compartilhamentos” é falsa e absurda, vamos tentar refletir por que as pessoas insistem em compartilhar as fotos dessas crianças doentes achando que vai ajudar.
Pensando na pessoa que compartilha esse tipo de informação, é possível perceber que há um “mix” entre desejo de ajudar sem precisar se esforçar muito, falta de conhecimento sobre como funcionam as redes sociais e falta de reflexão. Para ilustrar isso, vamos pensar em uma situação hipotética (mas muito verossímil):
A pessoa recebe uma foto chocante. De cara, fica espantada e morrendo de dó da criança. Antes mesmo que ela parta para a próxima mensagem, descobre que pode ajudar. Ela recua, afinal, tem coisas a fazer, contas a pagar e acha que “não dá para ajudar todo mundo”. Aí ela descobre que não é preciso dinheiro, só é preciso repassar a mensagem. E, ao clicar em share e marcar seus contatos, a pessoa já sente uma paz de espírito.
É claro que sem uma “mistura bombástica” (e apelativa), esse sentimento não é despertado. E aí entra a pessoa “cria a mensagem”. De cara, não dá para entender por que uma pessoa cria esse tipo de coisa. Mas acreditamos que se trata de uma pessoa que deseja apenas “trollar” outras na internet. Para tanto, lança mão de alguns elementos:
1) O anonimato (com raras exceções, como a de um site de fake news no Maranhão que inventou essa notícia falsa, não é possível saber quem está por trás desse tipo de publicação). 2) Uma foto impactante com uma história apelativa. 3) Uma mensagem com características de boatos online que só ajudam a “botar fogo na situação” (vaga, alarmista e com pedido de compartilhamento).
É com essa junção que, de tempos em tempos, imagens de crianças são expostas em redes sociais. E é esse tipo de boato que prova que há gente “sem noção” (tanto as que criam como as que acreditam nesse tipo de boato) usando internet e nos faz refletir o quanto o brasileiro (lembrando que esse tipo de informação falsa circula em outros países também) é suscetível a acreditar em fake news.
E para solucionar isso, o que deveríamos fazer? Sinceramente, creio que a única solução é educação. Educação para que as pessoas reflitam antes de criar esse tipo de boato e educação para as pessoas conseguirem perceber o quão absurdo e ridículo é compartilhar esse tipo de história. Ah, antes de terminar, peço um favor. Repasse esse link para quem lhe enviar uma foto de criança doente. Ninguém vai ganhar um real com isso, mas, nesse caso (e em muitos outros) consciência vale mais do que dinheiro.