Editor do Boatos.org faz seleção dos textos que mais gostou de escrever em 2015.
Não sei se você, querido leitor do Boatos.org, tem sentido o mesmo do que eu em relação a este ano, mas para mim 2015 parece que ainda não terminou (e nem está perto de acabar). Não sei se foi a turbulência política, a crise econômica ou a sensação de que algo ainda pode acontecer para melhorar este ano, mas escrevo o balanço deste ano com medo que seja surpreendido e aconteça algo depois que eu escrevo.
Este texto, já “tradicional”, é para falar um pouco do que eu mais gostei no trabalho do Boatos.org em 2015 e faz parte da nossa retrospectiva (já publicamos material sobre o assunto aqui e aqui). Mas antes de falar sobre os textos em si, queria agradecer a você, leitor, pelo prestígio que nos deu em 2015.
Em meio a altos e baixos, fechamos o ano com cerca de 6,8 milhões de visualizações de páginas e Facebook, chegamos a quase 40 mil seguidores. Mas, para além dos números, ficamos felizes por saber que ajudamos na missão de tornar a internet um lugar um pouco melhor para viver. Esperamos que em 2016 vocês continuem nos prestigiando. Dito isso, vamos aos meus favoritos:
Para começar a lista, eu vou com um campeão de audiência. Por mais que o ano fosse recheado de boatos sobre o governo, golpe militar, confisco, terrorismo e outros temas, o texto que mais teve visualizações no ano foi o desmentido de um áudio do WhatsApp que falava que dez pessoas haviam morrido após comer feijão contaminado.
Coloco ele na lista por dois motivos: pelo alcance que teve (o que prova que fez o papel) e pela forma que foi sugerido. Soube da informação por meio do grupo do Boatos.org no WhatsApp. Sim, tentamos criar um grupo por lá para averiguar boatos. Infelizmente, a experiência não deu certo. Mas conseguimos o texto mais bombado do ano por lá.
4º Guerra fraterna entre militares vai acontecer no Brasil
O quarto lugar na nossa lista é uma história que circulou semanas antes dos protestos contra o governo em março deste ano. Pelo WhatsApp, um áudio de um suposto militar apontava que haveria uma guerra entre militares de esquerda e direita em “pouco tempo”.
A história, claro, não tinha um pingo de verdade. Mas mesmo assim, muitas pessoas acreditavam que uma guerra civil sangrenta poderia acontecer no Brasil. A gente até desmentiu a história. Esperamos ter tranquilizado algumas pessoas.
3º Ex-deputado é dono de lotérica de aposta premiada
Quando o maior prêmio da história da Mega-Sena saiu em novembro, diversos boatos começaram a circular na internet. Um deles falava que o dono da lotérica em que o prêmio saiu era de um ex-deputado (Nasser Youssef Nasr) condenado por corrupção.
Esse boato entrou na nossa lista pela circunstância da apuração. Em um sábado à tarde, assessoria da Caixa me ligou falando da história e dizendo que havia conversado com o dono da lotérica e ele havia garantido que não era o ex-deputado. Desconfiado, pedi uma prova e ele ficaram de pedir ao homem um vídeo ou o telefone. Nunca mais retornaram.
Por conta, comecei a procurar algum documento que provasse que os Nasser não eram a mesma pessoa. Fiquei quase quatro horas vasculhando a internet até que achei a informação que o CPF dos dois era diferente. Mais do que isso, um nasceu em 1938 e outro em 1955. No fim, eles eram xarás.
2º Brasil alvo do Estado Islâmico?
Em termos de impacto instantâneo, os atentados do Estado Islâmico em Paris foi o fato que mais gerou boatos na internet (inclusive suscitou boatos relacionados ao desastre em Mariana). Escolhemos o que mais circulou no Boatos.org.
Entre os muitos textos que fiz sobre o assunto, um deles falava que o Brasil seria o próximo alvo do Estado Islâmico. A história assustou tanto as pessoas que o nosso desmentido acabou sendo um dos textos mais lidos do ano. E isso fez de novembro o mês em que mais tivemos leitores.
1º Casal do Paraguai sequestra crianças
O primeiro lugar na nossa lista não foi tão lido, mas pessoalmente foi o texto mais marcante. Quando a história que um casal do Paraguai estaria sequestrando crianças, logo lembrei do caso da mulher morta no Guarujá (SP) após um boato. Pesquisando, descobri que o boato já havia se espalhado por diversos estados do país e até em outros países da América Latina.
Ao contrário do que no caso que resultou em morte, logo escrevemos um texto. Depois, diversos sites copiaram o nosso conteúdo e até alguns veículos de mídia (a Hellen até deu uma entrevista junto com a mulher que era apresentada na imagem do boato) falaram sobre o boato, que se dissipou. De fato, o nosso desmentido nos deixou com a sensação que cumprimos com o nosso dever. E vai saber se não salvamos uma vida.
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