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O melhor do Boatos.org em 2022, por Kyene Becker

O melhor de 2019 no Boatos.org, por Kyene Becker (Foto: Divulgação/Kyene Becker)

Em mais uma parte da nossa retrospectiva, Kyene Becker escolhe as cinco fake news que mais a impactou em 2022. 

Se existe uma palavra para descrever o ano de 2022, essa é “intensidade”. Após dois anos de muitas perdas e muito medo, o ano de 2022 veio para trazer esperança. Com o avanço da vacinação e o controle dos casos de Covid-19, o retorno ao “antigo normal” foi possível. E ao contrário dos outros anos, onde a Covid-19 comandou as discussões, 2022 teve de tudo um pouco.

Tivemos novas preocupações e ansiedades. A Guerra entre Rússia e Ucrânia, as eleições presidenciais no Brasil e a Copa do Mundo no Catar foram algumas delas. No cenário político, novamente, tivemos um panorama bastante polarizado (e dominado por fake news que tentaram conduzir o debate político e enganar os mais desavisados). Mas depois de muito trabalho (muito mesmo, de domingo a domingo), os checadores de informação conseguiram frear muitas histórias falsas.

Já no cenário esportivo, o hexa, infelizmente, não veio. Mas o que não faltou aqui no Brasil foi torcida (e um pouco de desinformação, é claro). Nem o país sede, nem os jogadores e muitos menos os técnicos escaparam das temidas fake news. E para relembrar tudo isso, a equipe do Boatos.org preparou uma lista especial. Então, vem conferir a minha!

#5 – Ataque a maternidade na Ucrânia foi uma farsa porque modelo grávida foi fotografada #boato

O ano de 2022 começou com uma preocupação mundial: a guerra entre Rússia e Ucrânia. O conflito, que colocou em risco a vida de milhares de pessoas e causou problemas econômicos em diversos países, ainda segue. E é claro que não demorou muito para histórias falsas sobre a guerra começarem a circular nas redes sociais. Em março de 2022, uma fake news sobre o assunto começou a ganhar força na internet.

A história indicava que o ataque à maternidade de Mariupol, na Ucrânia, que deixou 2 pessoas mortas, foi uma farsa. A história indicava que a prova seria a presença de uma modelo no local, que teria feito uma maquiagem para forjar o ataque. Muitas pessoas destilaram ódio contra a mulher que aparece nas imagens, mas não sabiam do mais importante: a história era falsa.

Marianna Podguskaya, a mulher fotografada na maternidade após o bombardeio russo, de fato, é uma modelo ucraniana. A jovem estava grávida da sua primeira filha e internada na maternidade de Mariupol, prestes a dar à luz. Após o ocorrido, ela deixou o hospital às pressas com machucados no rosto. No dia seguinte, após ser transferida, Marianna entrou em trabalho de parto e deu à luz a uma menina. O momento foi compartilhado por uma jornalista ucraniana e mostra que nada foi encenado.

#4 – Seção eleitoral de Miami não foi contabilizada nas eleições e prova fraude contra Bolsonaro #boato

Sem dúvida alguma, as eleições de 2022 deram o que falar na internet. Mas o que ninguém esperava era que o final das eleições também tivesse a mesma repercussão. O resultado das urnas eletrônicas desencadeou uma onda de manifestações e de fake news que alimentaram os protestos e proporcionaram situações bizarras.

No dia 8 de novembro de 2022, uma história indicava que algumas seções eleitorais de Miami (EUA) não teriam sido contabilizadas na apuração. A história ainda apontava que essa seria a prova de que as eleições foram fraudadas para prejudicar o presidente Jair Bolsonaro. E apesar do desejo dos bolsonaristas, a história foi apenas um delírio coletivo.

A publicação usava dois vídeos, recheados de acusações, como prova. Mas uma busca rápida pelo site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostrou que as seções citadas no primeiro vídeo foram agregadas a outras e, por isso, não aparecem na página de resultados. Os votos dos eleitores das seções em questão aparecem nas seções onde foram agregadas. Um comunicado do TSE explicou que a prática é comum. Ela ocorreu porque as seções registravam poucos eleitores e o gasto para mantê-las era alto. Já no outro vídeo, a busca pelo resultado foi feita de maneira incorreta.

#3 – Lula usou boné CPX no Complexo do Alemão como homenagem ao Comando Vermelho #boato

Na última década, as eleições presidenciais no Brasil são sinônimo de caos por conta das fake news. Em 2022, as histórias falsas deram muito trabalho (muito mesmo!) para os checadores de informação. O pleito eleitoral deste ano proporcionou uma verdadeira avalanche de fake news, que se intensificaram entre o primeiro e o segundo turno. E, principalmente, contra o agora presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Logo após o primeiro turno das eleições, uma história afirmava que Lula teria usado um boné com a inscrição CPX, durante a visita de sua campanha eleitoral, no Complexo do Alemão. A história ainda indicava que o uso do boné foi uma homenagem ao Comando Vermelho, pois CPX seria uma sigla usada para identificar armas e lugares controlados pelo tráfico.

Apesar do enorme burburinho, a história não procedia. Assim que a publicação viralizou, o fundador da Voz da Comunidade, Rene Silva, explicou que a sigla é apenas uma gíria que significa Complexo (no caso, Complexo do Alemão). Já o Dicionário inFormal indica que a sigla também pode ser uma abreviação de “cupinxa”, que significa parceiro, companheiro ou amigo. Dessa forma, o boné não tem nada a ver com o crime, mas sim com a comunidade do Complexo do Alemão.

#2 – Vídeo mostra símbolo da Copa do Catar, uma animação em um prédio arranha-céu #boato

Não há dúvidas de que o evento mais esperado de 2022 foi a Copa do Mundo. Neymar, Richarlison, Vini Jr. e companhia trouxeram esperança e alegria para a torcida brasileira. O sonho do hexa, infelizmente, caiu por terra novamente nas quartas-de-final (faltavam apenas 4 minutos!). E se você pensou que esse momento de alegria para a torcida brasileira passaria impune pelas fake news, está enganado.

Em julho de 2022, uma história apontava que o símbolo da Copa do Mundo do Qatar teria sido mostrado em uma animação, que foi exibida em uma arranha-céu, no país árabe. O vídeo que acompanhava a publicação mostrava uma animação repleta de tecnologia e que parecia encantar o público.

Apesar de muito bonita e encantadora, a animação não mostrava o símbolo da Copa do Mundo do Qatar e muito menos foi exibida no país árabe. Ao analisar as imagens, percebemos que as pessoas que apareciam no vídeo eram asiáticas e não lembravam em nada a fisionomia de pessoas do Oriente Médio. Além disso, o mascote da Copa do Mundo já havia sido divulgado na época. Tratava-se do simpático La’eeb, um grutah, que nada mais é do que um lenço de cabeça típico da cultura árabe. E se isso não bastasse, o vídeo ainda mostrava diversos esportes e os arcos olímpicos.

#1 – Bolsonaro criou o sistema de pagamentos Pix #boato

Não é preciso nem dizer que o ano de 2022 foi dominado pelas fake news sobre política, não é mesmo? Em ano de eleições presidenciais, tivemos histórias falsas sobre os mais diversos assuntos que englobam o cenário político. Urnas eletrônicas, Tribunal Superior Eleitoral (TSE), partidos e, especialmente, os candidatos à Presidência da República. E assim como em 2018, o tom das fake news foi ditado pelos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

Além de encontrarmos centenas de histórias falsas sobre os concorrentes de Bolsonaro, também encontramos diversas fake news que apontavam supostos feitos do presidente (e que não eram verdade). Uma história que ganhou bastante força e destaque, durante o período eleitoral, apontava que o presidente Jair Bolsonaro teria sido o responsável pela criação do sistema de pagamentos Pix. A história ainda apontava que Bolsonaro teria criado o Pix, porque ele se preocupa com o povo.

Não precisou procurar muito para descobrir que a informação era completamente falsa. Assim que a história viralizou, o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (SINAL) emitiu uma nota, onde explicou todo o processo de criação do Pix. A nota apontava que o sistema de pagamentos Pix foi criado e implementado por analistas e técnicos no Banco Central. E que o projeto não tem nada a ver com presidente X ou Y. Além disso, o sistema de pagamentos começou a ser pensado e desenvolvido em 2018, no governo Temer. Se isso não bastasse, em 2020, durante uma entrevista, Bolsonaro foi questionado por um apoiador sobre o Pix, mas ele demonstrou não conhecer o projeto do Pix.

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