Não são apenas as cepas do coronavírus que passam por variantes e prejudicam o combate à pandemia. Fake news sobre a Covid-19 também tem voltado a circular graças a “pequenas variações”. Esse é o tema do A Semana em Fakes.
Em um momento no qual a pandemia tem sido controlada em alguns lugares do mundo (o Brasil, com certeza, não é um deles), a variante delta do Sars-CoV-2 tem se mostrado uma ameaça e feito com que novas medidas de proteção sejam tomadas. Infelizmente, a criação de “versões semelhantes” que driblam o “antídoto” não se restringem apenas a vírus. Isso também ocorre com fake news.
Há um ano e seis meses, o Boatos.org tem desmentido fake news sobre a pandemia. Ao todo, já foram 800. Algumas delas não passam de pequenas variações de outras notícias falsas já desmentidas. Temos três exemplos de notícias falsas que passaram por mudanças depois de serem desmentidas em um primeiro momento e voltaram a viralizar na última semana (todas estão nos “trends da semana” do Boatos.org).
Um dos casos é relacionado a um vídeo de um médico que atestaria que um exame negativo de anticorpos seria a prova de que a vacina Coronavac não imuniza (o que é falso e foi desmentido há cerca de 15 dias). Só que mesmo depois de o Boatos.org e outros sites atestarem que a informação é falsa, alguém pegou o vídeo (publicado inicialmente em redes sociais do médico), fez alguns cortes e colocou uma abertura. Parece pequena a mudança, mas foi o suficiente para o vídeo voltar a circular com mais força ainda.
Outro caso desmentido recentemente que voltou a circular com uma “roupagem nova” é de um texto que falava sobre “sintomas da Covid-19”. Mesmo contendo erros, o texto continuou circulando e ganhou força após deixar de ter a autoria atribuída à Unimed e à prefeitura da cidade de Palestina do Pará. A mudança nos forçou a fazer um novo artigo de checagem.
Houve, ainda, uma informação falsa lá do início da pandemia que voltou a circular: a que falava que a PF havia encontrado caixões vazios com pedras. Para a versão do ano passado para a de hoje, há apenas uma diferença: na época, o boato exaltava supostas ações do ex-ministro Nelson Teich e para negar a pandemia. Hoje, ele circula como forma de ataque a políticos do Amazonas que entraram em rota de colisão com o presidente da República.
Em todos os casos citados, as mudanças nos boatos fizeram histórias antigas e batidas ganharem uma roupagem nova (assim se apresentando como “algo recente” e sendo mais facilmente compartilhado) e, pior de tudo, “driblarem artigos de checagem” (infelizmente, mudar algumas palavras já faz com que desmentidos deixem de ser encontrados mais facilmente no Google). Ou seja: dificultam, ainda mais, a tarefa hercúlea de combater a desinformação na internet.
Enquanto algoritmos de buscadores e redes sociais não fazem nada para melhorar este quadro, cabe a quem trabalha combatendo a desinformação trabalhar com novos desmentidos a cada nova versão deste boato. É repetitivo (também para quem escreve), mas sabemos que faz parte do jogo de “gato e rato” das fake news.
Trends da semana
As palavras mais buscadas no Boatos.org nos últimos sete dias foram, em ordem crescente, Falso enfermeiro, Coronavac, Cuba, Covid delta, Argentina, Bolsonaro, Bolsa Ditadura, Caixões com pedras, Roger Hodkinson e Delta.
Os desmentidos mais lidos do Boatos.org nos últimos 7 dias foram, em ordem crescente, sobre uma história falsa de que um “falso enfermeiro do PCdoB” foi preso no hospital em que está internado Bolsonaro, que o atacante Gilberto, do Bahia, assumiu a homossexualidade, que Bolsonaro foi “envenenado com chumbo”, sobre um suposto Auxílio Cesta Básica por parte do governo e sobre o “teste de anticorpos mostrar que a Coronavac não protege contra Covid-19”
No Facebook a matéria mais compartilhada foi a que falava que um hacker “provava” que as urnas eletrônicas podem ser fraudadas. No Instagram, o conteúdo com maior engajamento é o que desmentia um boato de que uma grande multidão se junto em frente ao hospital que Bolsonaro estaria internado. No Telegram, o conteúdo mais visto é o que desmentia o boato de que o jogador Gilberto seria gay.
No Twitter, o desmentido da história do “falso enfermeiro do PCdoB” foi o que teve mais engajamento na semana. O vídeo mais visto no YouTube na semana também falava desta história:
Edgard Matsuki é editor do site Boatos.org, site que já desmentiu mais de 6 mil notícias falsas
Uma das novidades do Boatos.org para 2021 é a seção “A Semana em Fakes”. Periodicamente, faremos análises sobre os assuntos mais recorrentes em termos de desinformação na internet. Este conteúdo ficará aberto para republicação em outros veículos de mídia. No momento, publicamos o conteúdo no Portal Metrópoles, Portal T5 e Conexão Marília (caso tenha interesse, entre em contato com o Boatos.org para saber as condições). Para ver todos os textos da seção, clique aqui.