Boato – A apresentadora do SBT, Rachel Sheherazade, estaria exercendo o cargo de escrivã no Tribunal de Justiça da Paraíba mesmo morando em São Paulo.
Um dos nomes mais polêmicos do jornalismo televisivo brasileiro é o de Rachel Sheherazade. A apresentadora do telejornal SBT Brasil é adorada por militantes de posicionamento mais conservador (cita-se membros de partidos de direita e religiosos) e detestada por militantes de esquerda.
Comentários polêmicos de Sheherazade fez com que ela se transformasse em um fenômeno também na internet. E claro, fez com que ficasse visada. Após entrevista no dia 12 de janeiro para a jornalista Mônica Bergamo da Folha S. Paulo, começou a circular na internet a informação de que ela seria funcionária-fantasma do Tribunal de Justiça da Paraíba.
A notícia surgiu no site Brasil 247 no dia 14 de janeiro. A nota intitulada “Confissão de Sherazade: é funcionária fantasma” (perceba que o nome da jornalista está escrito de forma errada) aponta que, durante a entrevista, ela havia admitido ser funcionária-fantasma do governo da Paraíba. Leia o trecho do site:
247 – Um trecho da entrevista de Rachel Sherazade à jornalista Mônica Bergamo, em que a apresentadora do SBT afirmou, entre outras coisas, que “Reinaldo Azevedo é um fofo” (leia aqui), vale como uma confissão. A jornalista, que vem ganhando terreno na arena neoconservadora, admitiu ser funcionária-fantasma do governo da Paraíba, a despeito dos rendimentos mensais de R$ 150 mil
Independente de gostar ou não dos comentários da apresentadora, a informação é, no mínimo, uma má interpretação do que foi dito na Folha de S. Paulo. Rachel Sheherazade é, na realidade, funcionária licenciada do Tribunal de Justiça da Paraíba. Na entrevista à Bergamo, ela aponta que vai pedir exoneração agora quando completar três anos de licença. Isso pode ser lido neste trecho:
Até então [ser apresentadora do SBT Brasil] fazia dupla jornada. Passou em um concurso para ser escrivã em um tribunal para ajudar a fechar as contas, porque o jornalismo na Paraíba “não bastava”. Está licenciada e termina nos próximos dias o período máximo de afastamento. “Vou pedir desligamento.”
Há grandes diferenças entre um funcionário público licenciado e funcionário-fantasma. Uma delas está nos vencimentos. O primeiro não recebe nada de salários. Já o segundo vive às custas do serviço público sem trabalhar. Vale lembrar que ser funcionário-fantasma é ilegal. Tirar uma licença não-remunerada de até três anos, não. Leia esse trecho da lei que trata dos funcionários públicos:
Art. 91. A critério da Administração, poderão ser concedidas ao servidor ocupante de cargo efetivo, desde que não esteja em estágio probatório, licenças para o trato de assuntos particulares pelo prazo de até três anos consecutivos, sem remuneração. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001).
Casos de funcionários-fantasmas em cargos públicos periodicamente causam burburinho na imprensa. Só para citar alguns: Esta matéria da Folha fala de um caso de funcionário-fantasma na Câmara dos Deputados. Já esta matéria do G1 fala sobre um caso na cidade de Campinas. Por fim, a Gazeta do Povo fala de casos no Paraná.
Ou seja, na realidade, Rachel Sheherazade não é funcionária-fantasma. O próprio Brasil 247 se deu conta do erro na nota e modificou o título para “Confissão de Sherazade: três anos sem ir ao emprego público”. Porém, a notícia com a acusação de corrupção já havia se espalhado pelo internet. Notícia, por sinal, que informa erroneamente uma situação.