Boato – A tentativa de um ataque hacker revela a fraude das urnas eletrônicas com a chancela do TSE nas eleições de 2020. Urnas podem ser hackeadas.
Quem teve que justificar o voto nas eleições 2020 sofreu com instabilidades no sistema do aplicativo e-Título. De acordo com o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, a instabilidade foi causada pelo desligamento preventivo de um servidor após ataque hacker no STJ no início do mês. A fala de Barroso somada a publicações de um grupo hacker fez uma teoria da conspiração surgir na internet.
Primeiro, um grupo hacker divulgou supostos documentos do TSE na internet. Depois, mensagens que circulam na internet tentaram relacionar a tentativa de ataque a supostas fraudes nas urnas eletrônicas. De acordo com textos que circularam em redes sociais como Twitter e Facebook, hackers poderiam fraudar as urnas eletrônicas. Leia algumas das versões da história que circula online:
Versão 1: URGENTE: A invasão hacker do TSE revela a fraude nas urnas com a chancela da justiça eleitoral. Os votos válidos e os de quem justifica estão em banco de dados diferentes. Eles podem descarregar os votos de quem vai justificar na esquerda.
Versão 2: Luís Roberto Barroso, STF e Tribunal Superior Eleitoral, sofreu um ataque hacker. Mas as urnas eram invioláveis! Cada vez a mentira se desmancha! Que m…, Bolsonaro e Trump tinham razão.
Versão 3: Mais uma vez um ataque de um hacker ao TSE no dia das eleições deixa bem claro o perigo que corre um processo eleitoral com urna eletrônica pelo fato que não tem como auditar depois quem votou realmente ou não. Em 2018 tiveram vários relatos de urnas votando sozinhas. Hoje mais uma vez fica bem evidente a necessidade do voto impresso.
Ataque hacker revela fraude nas urnas eletrônicas nas eleições de 2020?
Como vocês viram, o que não faltaram foram mensagens ligando o suposto ataque hacker a uma suposta fraude nas urnas eletrônicas. Porém, trata-se de, no mínimo, uma ilação. Nem o ataque hacker ocorreu “hoje” (como muitos dizem) tampouco hackers podem acessar o sistema das urnas eletrônicas.
Para que você entenda o caso, precisamos relembrar alguns acontecimentos. No início do mês, os bancos de dados do STJ e de alguns outros órgãos públicos foram alvo de um ataque com um ramsomware. Em meio ao “sequestro de dados” (que já foram reestabelecidos pelos órgãos em questão), o TSE desligou um dos servidores por questões de segurança.
O desligamento ocorreu justamente nos dias em que os serviços do TSE têm mais demanda (só o e-Título teve 3 milhões de downloads no sábado). Isso acarretou em instabilidades. Vale dizer que as instabilidades não têm relação com um ataque direto de hackers.
Mas e a divulgação do grupo hacker? De acordo com checagem feita pela Aos Fatos e Projeto Comprova, os dados em questão não são de vazamentos recentes e não houve qualquer ataque hoje ou nos últimos dias ao TSE (algo endossado pelo próprio ministro Barroso).
Recapitulando: houve instabilidade em sites do TSE e sistemas como o e-Título, mas não houve qualquer ataque hacker no dia das eleições (pelo menos até o momento da apuração deste texto). Mas e as urnas eletrônicas, o que têm a ver com isso? Na realidade, nada.
Mesmo que tivesse existido um ataque ao TSE similar ao do STJ, ele não afetaria as urnas eletrônicas. O motivo é muito simples: a urna eletrônica não é conectada à internet. Trata-se de um sistema “offline”. A própria página Fato ou Boato do TSE explica isso. Leia:
A urna eletrônica brasileira foi projetada para funcionar sem estar conectada a qualquer dispositivo de rede, seja por cabo, wi-fi ou bluetooth. Ou seja, a urna é um equipamento isolado, o que preserva um dos requisitos básicos de segurança do sistema.
Vale dizer também que comentários de que “votos de quem justificou pelo e-Título poderia ir para a esquerda” não só não fazem sentido como também não se sustentam. O mesmo podemos falar sobre o “voto impresso”. Ao contrário do que muita gente sugere, a votação impressa (mais sujeita a falhas humanos) poderia causar mais confusão ainda no pleito. O TSE, inclusive, se pronunciou sobre o boato. Leia:
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recebeu relatos de mensagens circulando nas redes sociais alegando, sem qualquer fundamento técnico, que uma suposta fraude nas eleições estaria em curso “com a chancela da Justiça Eleitoral”. Segundo a mensagem, “os votos válidos e os de quem justifica estão em bancos de dados diferentes” e, em tese, esses supostos “votos de quem justifica” poderiam ser atribuídos a “candidatos da esquerda”.
Essa alegação não tem qualquer cabimento fático ou razoabilidade por inúmeras razões.
A principal delas é o fato de que o eleitor que justifica a ausência nas eleições, obviamente, não vota. Assim, não há votos a serem “descarregados” a quem quer que seja. A urna eletrônica só computa os votos que foram efetivamente recebidos, digitados por quem compareceu à seção eleitoral e teve o seu acesso liberado após a identificação pelos mesários.
A urna eletrônica grava os arquivos de votação separadamente dos arquivos de justificativa. Da mesma forma, o Cadastro Nacional de Eleitores é atualizado com a informação de que o eleitor fez sua justificativa. Nesse sentido, havendo justificativa de ausência às urnas e votação ao mesmo tempo, a situação é facilmente identificada e a Corregedoria-Geral da Justiça Eleitoral – em seu papel de fiscal do cadastro – pode adotar medidas de apuração quanto ao fato.
Esclarecemos também que não há separação de banco de dados em relação aos votos, abstenções e justificativas. Todas essas informações são tratadas em um mesmo sistema de totalização, devidamente auditado e com assinaturas digitais lacradas em audiência pública com a participação de partidos políticos, Ministério Público e Ordem dos Advogados do Brasil.
É importante lembrar que toda urna eletrônica emite um boletim de urna com os votos coletados ao longo do dia. Assim, eventual tentativa de alteração de banco de dados seria rapidamente identificada com uma simples conferência do Boletim de Urna, que é impresso e entregue a representantes de partidos políticos presentes nos locais de votação e disponibilizados posteriormente na internet.
Resumindo: a história que aponta que um ataque hacker do TSE denota uma fraude nas urnas eletrônicas é falsa. Nem houve qualquer ataque hacker recente ao TSE (as instabilidades se deram por prevenção após um ataque a outro órgão) tampouco a urna pode ser “invadida” (uma vez que não é conectada a qualquer rede).
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99458-8494.
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