Boato – o governo federal está distribuindo um livro em que incentiva as crianças a fazerem rituais satânicos e a matar animais.
O material didático distribuído às crianças do Brasil tem causado muita polêmica entre os meios mais conservadores da sociedade. Depois da história do “Kit Gay”, tão combatido pelo recém-eleito deputado federal Jair Bolsonaro, a bola da vez gira em torno do “Kit Satânico”.
Isso mesmo, de acordo com os críticos, o governo está investindo em ensinar coisas do diabo para crianças. A polêmica começou em uma sessão da Câmara Legislativa de Goiás, quando o deputado estadual Fábio Sousa (PSDB) falou de um livro que estaria sendo distribuído nas escolas Brasil afora.
O tal livro continha receitas de como fazer um feitiço para as pessoas se transformarem num pássaro. A receita incluía penas de pássaro, água benta e alpiste. Leia uma das versões dos textos que circulam na internet:
Final dos tempos: Governo Federal distribui “Kit Satânico” em escolas públicas através do MEC
“Arranque as penas do pássaro preto enquanto ele estiver cantando. Use um pequeno caldeirão para misturar a pena, um pouco de água benta e uma colher de alpiste”. O feitiço acima faz parte de um kit distribuído pelo Governo Federal através do MEC – Ministério da Educação, às crianças entre seis e sete anos.
Além das bruxarias, o Kit consta da cartilha “livro do mestre” que conta a história de um bebê que mata sua família com uma faca. Além da literatura, símbolos satânicos compunham o “material didático” como um diadema com chifres de capeta, um chapéu de bruxa com peruca e unhas de mentira e cálice de caveira, na qual a professora deveria usar ao ler as histórias de terror.
A proibição do material aconteceu graças à denúncia Fábio Sousa (PSDB), de Goiás, que “ protocolou na Assembleia, um requerimento endereçado à Secretaria Municipal de Educação, pedindo a retirada imediata do kit distribuído por toda rede pública de Goiânia que ensina rituais, envolvendo, entre outras coisas, sacrifício de animais”.
O autor da denúncia, Fábio Sousa, manifestou total apoio ao requerimento proposto e pela retirada do Kit não só de todas as escolas públicas de Goiás, mas sim do Brasil. “Vale salientar que a culpa não é de nenhuma prefeitura. É do Governo Federal, através do Ministério da Educação, que aprovou e distribui este material. Novamente, mais um vacilo absurdo do Governo Federal”, salientou o deputado.
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Depois de Fábio, o deputado Simeyzon Silveira (PSC) postou um vídeo na internet de um depoimento sobre o livro. Assista:
Apresentada a história, vamos fazer a análise. O primeiro ponto é que, ao contrário do que disse o deputado goiano no vídeo, o livro não se chama Livro do Mestre. A obra em questão é o livro “Bú! Histórias de medo e coragem”, que faz parte de um projeto de incentivo à leitura e escrita em 19 cidades do Brasil. Essa informação elimina a hipótese de o livro estar sendo distribuído no Brasil todo.
Analisando a história, pode-se até discutir se a literatura não seria pesada para crianças. Pessoalmente falando, eu digo que não seria. Mas não vamos entrar nesse mérito. Afinal, opinião é opinião. Mas, se é difícil apontar se o livro é apropriado para crianças, o mesmo não é dito quanto falamos em “kit satânico”.
Um dos argumentos do deputado para atestar o culto ao mal da obra eram as fantasias (trajes) satânicas distribuídas às crianças. Muito provavelmente, esse deputado nunca deve ter ouvido falar em festa de Halloween. Ou será que elas também são do diabo?
Ainda falando sobre o livro, ele recebeu o apoio não só do governo como também de prefeituras (como a de Cabo Frio como mostra esse texto) e órgãos privados (como nesse encontro promovido pelo Estadão).
Além disso, quando a polêmica surgiu em Goiânia, soube-se que o livro já não era mais distribuído na rede pública local. Essa matéria do Jornal Opção aponta que o projeto só aconteceu em 2013, não eram impostos às escolas (as instituições tinham que se inscrever) e não eram considerados satânicos e sim parte da cultura popular das histórias de terror.
Resumindo a história. O depoimento dos deputados foram exagerados (pelo o que sabemos, nenhuma criança pulou da janela acreditando ser um passado ou virou satanista), fora de tempo (o projeto já não está nas escolas) e eleitoreiro (não, o governo não impôs nada). Típicas falas de um boato. Em tempo: os dois deputados que falaram da história do kit satânico conseguiram se eleger.
PS: esse artigo foi uma sugestão do leitor Robson Maiocchi. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site ou pelo Facebook.