Boato – Secretaria de Educação do Distrito Federal suspendeu aulas e promoveu curso obrigatório para ensinar professores como atrapalhar o próximo governo, de Jair Bolsonaro.
O projeto Escola sem Partido está no centro das polêmicas do debate político. A proposta, que é umas das bandeiras do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), divide opiniões. Por um lado, há quem defenda e no outro há quem questione. No meio da discussão, professores são tachados de “inimigos do Estado” e até viram protagonistas de alguns boatos.
O último deles aponta para a informação de que um curso de formação para professores, promovido pela Secretaria de Educação do Distrito Federal, ensina técnicas para atrapalhar o governo do presidente eleito. A informação aponta que o curso é obrigatório e que a intenção é doutrinar todas as crianças e adolescentes contra o governo Bolsonaro. A mensagem diz que “está sendo feito um esquema de guerra contra o governo”. Leia o que diz a mensagem:
Pessoal, leia isso: conheço uma pessoa na secretaria de educação do DF. Esses dias teve um curso obrigatório p todos os professores. Não teve aula p as crianças porque os professores estariam em curso de formação. Chegando lá, não poderia entrar com celular. Passaram o dia inteirinho do curso ensinado como atrapalhar ao máximo o próximo governo. Dizendo que é pra doutrinar todas as crianças e adolescentes contra o governo, fazer greve o máximo que puder e provocar a ira do presidente.
Quando o presidente reagir com policiamento é pra todos o acusarem de ditador e tentar o impeachment. Está sendo feito um esquema de guerra contra o governo. Vai começar pelas escolas e universidades e depois em todos os órgãos públicos. Tem uma prima de Goiânia que disse que lá está tendo a mesma articulação. Cuidado!!! Estou encaminhando, para que fiquemos atentos, pois os esquerdistas estão agindo.
Curso obrigatório para professores ensina como atrapalhar governo Bolsonaro?
É claro que não demorou para a mensagem viralizar. Mas será mesmo que existe um curso obrigatório para professores com técnicas para atrapalhar o governo Bolsonaro? A resposta é não. Entenda os porquês.
A própria mensagem carrega o enredo clássico de boatos (mais do que isso, o texto é um exemplo de mensagem falsa). Vamos pontuar cada item com detalhes. Para começar, ela é extremamente alarmista. Imagine um órgão governamental (neste caso, a secretaria de educação do Distrito Federal) organizar um “curso obrigatório” para professores, suspender todas as aulas e organizar uma logística gigantesca (afinal, são algumas dezenas de milhares de professores na rede pública do DF) só para ensinar a atrapalhar o novo governo. Pois bem, qualquer coisa perto disso vazaria na imprensa. Porém, ao buscar sobre o assunto, não encontramos nenhuma notícia ou qualquer informação sobre aulas canceladas para cursos no DF.
Isso nos leva à segunda característica: a mensagem é extremamente vaga. Não informa onde ou quando teria acontecido o curso e nem dá detalhes sobre o conteúdo da formação. Também não há fontes confiáveis sobre o assunto, nem na secretaria de educação e muito menos em portais de notícias confiáveis. Mesmo com a tal “proibição” de celular, também é improvável que não vazaria nenhum vídeo sobre o curso (até nas eleições, que o celular também é proibido, vazam imagens).
Além disso, a mensagem possui diversos erros de português e pedidos de compartilhamento. Como já explicamos anteriormente, a mensagem não é referenciada por nenhuma fonte confiável e, inclusive, se parece com diversos boatos absurdos que circulam por aí, como a história de que Haddad e o PT teria organizado um falso atentado antes do segundo turno das eleições ou que Bolsonaro estava com câncer.
Por fim, a história é meio sem lógica. Para começar, ela parte do pressuposto de que os professores são “manipulados” e que, por causa do curso, farão tudo que for pedido pela Secretaria de Educação (se fosse assim, nunca haveria greves). Também dá a entender que “todos” os professores são contra Bolsonaro e de que as greves dos profissionais da rede pública são contra o presidente eleito, o que não é verdade. A maioria das greves são contra os governos estaduais e é estatisticamente impossível “todos os professores” não gostarem de Bolsonaro.
Resumindo: a história de que existe um curso obrigatório para professores ensinar técnicas para atrapalhar o governo Bolsonaro surgiu do nada, tem características de boatos e é sem provas (e lógica). Ou seja, é uma informação das mais malucas só para gerar teorias da conspiração por aí.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.