Boato – Em um discurso maravilhoso, o general Gramoza indagou “Liberdade para quê? Liberdade para quem?” em apoio à intervenção militar no Brasil.
A crise política que o Brasil atravessa há alguns anos tem dado margem para algumas ideias de “soluções” para o país ressurgirem. Uma delas, defendida normalmente por pessoas de grupos mais à direita, é a da intervenção militar. Essas pessoas têm incessantemente compartilhado uma mensagem na internet.
Assinada pelo “General Gramoza”, a mensagem indaga por que as pessoas querem liberdade. “Liberdade para quê? Liberdade para quem? Liberdade para roubar, matar, corromper, mentir, enganar, traficar e viciar? Liberdade para ladrões, assassinos, corruptos e corruptores, para mentirosos, traficantes, viciados e hipócritas?”, diz o início do texto.
Depois disso, o autor fala dos crimes, da violência urbana, da corrupção e diz que, nos tempos da Ditadura, o país era mais seguro. “Falam de uma “noite” que durou 21 anos, enquanto fecham os olhos para a baderna, a roubalheira e o desmando que, à luz do dia, já dura 26! […] Afinal, aqueles da escuridão eram “anos de chumbo” ou anos de paz?”, diz mais dois trechos.
No final, o texto pede a “liberdade” da intervenção de volta. “Quanta falsidade, quanta mentira, quanta canalhice ainda teremos que suportar, sentir e sofrer, até que a indignação nos traga de volta a vergonha, a autoestima e a própria dignidade? Quando será que nós, homens e mulheres de bem, traremos de volta a nossa liberdade?”, completa.
General Gramoza fez discurso maravilhoso sobre intervenção militar?
Não colocamos o texto por completo por dois motivos. 1) Ele é gigantesco. 2) As informações contidas nele não vão adicionar nada no nosso desmentido, uma vez que o nosso foco está na autoria. E, no caso, as pessoas que apoiam a ditadura militar estão compartilhando o texto com a assinatura de um general “fantasma”, que, simplesmente, não existe. Vamos aos fatos.
De início, desconfiamos que o general Gramoza não escreveu o texto por um simples motivo: já o vimos na internet com outra autoria. Mesmo assim, tentamos buscar por algum vídeo ou áudio do discurso do militar. Como era de se imaginar, nada encontramos.
Não conseguimos o discurso, resolvemos dar uma segunda chance à história e procuramos por algum registro do general Gramoza. Normalmente, nada encontramos. O máximo que achamos no Exército foi um coronel chamado “Gramosa”. Ou seja, nem general, nem Gramoza.
Já que não achamos pelo autor, voltamos a buscar pelo texto. Aí sim, chegamos à autoria. A mensagem foi escrita por um general da reserva, em 2015, mas não de nome Gramoza. O texto, assinado por Paulo Chagas, é uma crítica à Comissão da Verdade. Esta matéria do Estadão aponta que Paulo pedia, na época, a exclusão do nome do seu pai, Floriano de Aguilar Chagas, da lista de torturadores da época da Ditadura.
Vamos nos abster de fazer mais comentários sobre o texto, mas queremos deixar duas coisas bem claras: 1) As pessoas estão compartilhando um texto atribuído a um general que sequer existe. 2) Na minha humilde opinião, a liberdade é importante para, inclusive, pessoas que não concordam com o governo (como que escreveu o texto) expressem suas ideias sem correr o risco de serem presas, torturadas e, talvez, assassinadas.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99432-5485.