Boato – Após denúncia, descobriu-se que o ex-deputado Jean Wyllys vendeu o mandato para David Miranda por US$ 700 mil mais uma mesada de US$ 10 mil.
Exatamente uma semana após o site The Intercept publicar uma matéria com supostas conversas entre o ministro da Justiça Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, o contra-ataque surgiu na internet. Por meio de um perfil no Twitter chamado Pavão Misterioso, informações acusatórias contra Glenn Greenwald pipocaram na internet.
Após a publicação, pode-se ver diversas reações na internet. De um lado, foram apontados diversos “furos” (dos quais vamos falar mais para frente) que enfraquecem as denúncias. Do outro, internautas repercutiram o conteúdo dos tuítes. Por aqui, vamos falar de uma dessas repercussões: a que aponta que Jean Wyllys “vendeu o mandato” de deputado federal para David Miranda.
Tudo começou com uma da publicação do próprio “pavão”: “Não vou poder cotar a compra e venda de vagas no parlamento, mas em breve David Miranda e Jean Willys terão de dar uma explicação sobre 700 mil dólares e uma mesada de 10 mil dólares para a manutenção de certo BBB no exterior”. Bastou a colocação (um tanto quanto aberta a interpretações) surgir na web para “acusações mais diretas” pipocarem por aí. Leia:
Versão 1: Deixa ver se eu entendi. Quer dizer que descobriram no computador do GLEEN GREENWALD que: – ele deu $700mil à vista para JEAN WYLLYS – e mais $10mil mensais para o “exilado” viver na Europa Será que teve gente vendendo o mandato? Agora é com a Polícia Federal!
Versão 2: Pavão Misterioso invadiu o notebook do Gleen Greenwald e descobriu o caminho do dinheiro. Descobriu inclusive que Gleen pagou 700 mil dólares para o Jean Wyllys vender o mandato e mais 10 mil por mês de mesada para viver na Europa! #ShowDoPavão Então Jean wyllys vendeu o mandato para David Miranda (marido do tal Glenn) por 700 mil dólares! Isso é crime!!!!
Jean Wyllys vendeu mandato de deputado para David Miranda por US$ 700 mil?
Assim como todo o conteúdo publicado pela conta do Twitter, a informação de “venda de mandato” causou furor na internet. Mas será mesmo que essa história procede? Com base com o que temos agora, podemos dizer que, no mínimo, a acusação é fraca demais para ser considerada como verdade.
O primeiro ponto está na própria fonte da informação. Ao fazer uma análise sobre o conteúdo do chamado “show do pavão”, conseguimos encontrar (como falamos antes) diversos pontos que enfraquecem a denúncia. Vamos pontuar alguns rapidamente:
1) Os documentos apresentados como “oficiais” têm erros de inglês e contêm uma numeração padrão do Brasil e não de países com língua inglesa. 2) Encontramos alguns erros na cotação do Bitcoin e Ethereum do dia da suposta transação. 3) Ao contrário do que as mensagens apontam, não há registro da transação citada pelos documentos em sites de trade de Bitcoins.
Com esses indícios mais o fato de o conteúdo ter sido exposto por um fonte não-confiável (não dá para sair tomando como verdade algo que foi “jogado” por um perfil em uma rede social que logo foi apagado), já dá para ficar mais do que desconfiado do conteúdo apresentado no Twitter.
A desconfiança é reforçada por um “detalhe”. Ao contrário de todo resto da “denúncia bomba” a tese de que Jean Wyllys vendeu o cargo foi simplesmente “jogada no ar”. Não há qualquer indício de documentação que “comprove” (mesmo que de forma frágil) os tais “depósitos” (ou transferências de Bitcoins) para o deputado apresentado pelo tal “pavão”. O que aconteceu foi um comentário provocativo tomado como verdade absoluta em republicações.
Para encerrar a história, temos uma questão lógica: não há motivos aparentes para David Miranda “comprar o cargo” de Jean Wyllys. Primeiro, porque não há muita ligação entre o cargo de deputado federal e as denúncias do The Intercept. Segundo, porque David era vereador na cidade do Rio de Janeiro. Em tese, ele não precisar sequer “buscar uma imunidade parlamentar”. Terceiro, porque como suplente, ele poderia ter uma vaga em pouco tempo na Câmara dos Deputados. Quarto, porque se a ideia fosse “defender uma bandeira”, a escolha para a compra poderia ser de deputado com outro posicionamento. Quinto, porque “comprar” a vaga de um deputado menos conhecido seria mais barato e mais discreto.
Resumindo: não vamos, pelo menos por enquanto, entrar no mérito da história sobre o hacker e o The Intercept (vamos esperar por mais informações ou pela prometida “operação da PF na quinta”), mas dá para cravar que a história que aponta que Jean Wyllys vendeu o mandato é um boato. A tese foi jogada na web sem provas e comprada como verdade absoluta por aí.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.