Boato – Saiu a lista de 42 empresas que participaram do suposto esquema de caixa 2 e fizeram doações ilegais para Bolsonaro. Compartilhem.
No dia 18 de outubro de 2018, uma matéria do jornal Folha de S.Paulo balançou o cenário das eleições e teve impacto maior ainda no debate sobre fake news na internet. A reportagem apontou que empresários financiaram campanhas contra o PT (e consequentemente a favor de Bolsonaro) no WhatsApp.
Após a matéria, começaram a surgir diversas informações na internet. Do lado de Bolsonaro, ele disse que não “tem controle” de quem pode ajudá-lo. Do lado de Haddad, surgiu até um pedido de impugnação da chapa de Bolsonaro pela prática de caixa 2. Em relação a essas acusações e a própria matéria (muito bem amarrada, por sinal), não teremos nenhum comentário (deixemos ao TSE decidir sobre o dolo ou não-dolo do impulsionamento).
Vamos falar de outra história relacionada ao assunto e que surgiu na internet. Uma suposta lista de 42 itens começou a circular na internet como se fosse das “empresas que financiaram o caixa 2 de Bolsonaro”. Junto à mensagem, há o pedido de compartilhamento. Em alguns comentários, é informado que a fonte é o “processo do PT contra Bolsonaro” e “a reportagem da Folha”. Leia:
Versão 1: Caixa 2 Bolsonaro. Lista de empresas que apoiam o Bolsonaro e seu caixa 2. Versão 2: Saiu a lista das empresas envolvidas no escândalo do Caixa 2 da campanha do candidato B17. Ele disse na.maior cara de pau que sabia, ou seja, réu confesso. Segue abaixo; Versão 3: Lista de empresas que fizeram doação ilegal de campanha a Bolsonaro (Organização Criminosa para prática do crime de Abuso do Poder Econômico) – BOICOTE TOTAL À: [lista] REPASSEM.
Lista: 1. Hirota Supermercados / Hirota Food Express 2. Gazin 3. Tecnisa 4. Artefacto 5. Centauro / By Tenis / Almax Sports / Nike Store (operador-representante no Brasil) 6. Havan 7. Brinquedos Estrela 8. UPS Transportes 9. Habib’s / Ragazzo / Arabian Bread / Ice Lips / Promilat / Vox Line 10. Bio Ritmo / Smart Fit 11. Grupo GS& Gouvêa de Souza 12. Grupo Guararapes: Riachuelo / Midway Financeira / Transportadora Casa Verde / Confecções Guararapes / Shopping Midway Mall 13. JR Diesel 14. Dudalina
15.Polishop 16. ALE Combustíveis 17. Hemmer 18. Grupo Newcomm: Y&R Grey Brasil / Wunderman / VML / Red Fuse / Ação Premedia e Tecnologia 19. Holding Clube: Banco de Eventos / Rio360 / Samba.pro / Lynx / Cross Networking / The Aubergine Panda 20. Grupo Marisol: Mineral / Pakalolo / Rosa Chá 21. Estácio 22. Óticas Carol / General Optical 23. Ranking dos Políticos / Multilaser / Aluno 10 24. ANAPRE / CIESP Campinas / SOLEPOXY Ind. e Com. de Resinas 25. Raia Drogasil 26. Schneider Eletric 27. Barilla 28. Victor Vicenzzo
29.Dolce Gabbana 30. Sergio K 31. Purina 32. Cinemark 33. Localiza 34. Chilli Pepper Single Hotel 35. Coco Bambu 36. Movement Fitness Equipment 37. Biscoitos Zezé 38. Anjos Colchões 39. Curtume Moderno S.A. 40. IBMEC 41. Grupo Bozano 42. Condor Hipermercados
Lista de empresas que fizeram doação ilegal (caixa 2) para Bolsonaro vazou na web?
A tal lista se espalhou muito na internet e já deixou muita gente decepcionada com a sua “marca favorita”. Mas será mesmo que as empresas citadas participaram do suposto esquema de caixa 2 de Bolsonaro e essa lista está correta? A resposta é não. Vamos aos fatos.
A própria mensagem já nos causou desconfiança. O primeiro ponto é que ela parte do pressuposto de que o tal “esquema” já foi todo desbaratado. Vamos com calma. Ainda é preciso uma apuração maior das autoridades para saber se as mensagens eram parte de uma ação coordenada, apenas iniciativas individuais de empresários ou qualquer outra hipótese.
Ainda na mensagem. Ela segue aquele roteiro “básico” das fake news (inclusive as impulsionadas): vaga (apenas joga os nomes das empresas e não contextualiza), alarmista, com erros de português e pedido de compartilhamento. Na mensagem em si, não há a citação de fontes confiáveis. Mas vamos às fontes explanadas em comentários.
Ao buscar pela matéria da Folha, vimos que, de todas empresas citadas, apenas a Havan (na figura de Luciano Hang) é citada como suposta participante no impulsionamento de conteúdo. Além dela, só há a citação das empresas prestadoras do serviço de impulsionamento. Ou seja: de lá, não saiu.
Fomos, então, buscar pelo processo movido pela chapa de Haddad para saber se há alguma empresa citada lá. Novamente (como é possível ver nesta matéria), há a citação dos nomes das empresas que impulsionaram o conteúdo, da Havan e do Facebook (responsável pelo WhatsApp). Ou seja: de lá também, não saiu.
Foi aí que a gente começou a vasculhar a internet e descobrimos que a tal lista é uma modificação de uma outra suposta lista espalhada no Twitter na semana anterior ao primeiro turno das eleições. À época, a lista era apenas descrita como “lista de apoiadores de Bolsonaro”.
Então a lista está correta, certo? Errado. Dentre as empresas da lista, há algumas que, de fato, fizeram doações para Bolsonaro (de forma legal). Duas delas são o Coco Bambu e a Tecnisa (como consta nesta matéria do UOL). Há, ainda empresas nas quais os donos demonstraram apoio público a Bolsonaro. É o caso da Centauro e da Havan (que tem o “bônus” de ser acusada de impulsionar posts pró-Bolsonaro).
Na lista, também há empresas que não declararam apoio a Bolsonaro, mas já foram envolvidas em polêmicas (neste caso, houve uma associação por conta da polêmica). É o caso do supermercado Hirota (acusado de ter criado uma cartilha homofóbica) e de empresas que foram acusadas de planejar um lobby pró-intervenção federal. Por fim, há empresas que negaram que tenham dado apoio a Bolsonaro (como a Barilla e a Riachuelo).
Então, vamos resumir: a denúncia existe e precisa ser apurada, mas a lista de empresas apontadas como “doadores ilegais” é falsa. Até segunda ordem, nela há empresas que doaram legalmente, que só deram apoio público ou que não tem relação com o candidato do PSL. Ou seja: cuidado com o que você compartilha. Se eu fosse você, esperaria os próximos capítulos antes de sair acusando tudo que é empresa por aí.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.