Boato – Em 2010, o ex-presidente Lula proibiu a aplicação da vacina contra meningite no Brasil. Anos depois, seu neto morreu por causa disso.
A morte de Arthur, neto de Lula, e a aparição pública do ex-presidente geraram burburinho em redes sociais. Não apenas isso, o acontecimento fez com que muita desinformação circulasse por aí. E agora vamos falar de uma história falsa que surgiu de uma notícia real (sim, isso é possível).
Assim que Arthur morreu começaram a circular na internet publicações que apontavam que o ex-presidente havia proibido a vacinação contra a meningite (doença que causou a morte do menino de 7 anos). A prova disso seria uma notícia que aponta que ele vetou um projeto que previa a inclusão das vacinas no SUS.
A história circulou por meio de um print de uma notícia (real) do G1 e uma imagem do anúncio no Jornal Nacional. As fontes, claro, foram “temperadas” com a seguinte relação causa-consequência: Lula proibiu a vacina da meningite no Brasil e, nove anos depois, seu neto morreu por causa disso. Leia algumas versões da mensagem:
Versão 1: Lula enquanto presidente, vetou o projeto de lei que incluía outras cinco vacinas no calendário da rede pública de saúde.(Edição do dia 10/12/2010) Vacinas contra hepatite A Meningocócica conjugada C Pneumocócica conjugada 7 valente, Varicela e Pneumococo.
Versão 2: SUA MALDADE EM PROIBIR A DISTRIBUIÇÃO DAS VACINAS PARA A POPULAÇÃO, INFELIZMENTE TEVE EFEITO BUMERANGUE PARA O SR.LULA! Versão 3: Gilmar Mendes pediu arrego ao Lula, através do enterro do neto, acometido de meningite, cuja vacina o avô proibiu..
Lula vetou aplicação de vacina contra meningite no SUS em 2010?
É claro que o assunto gerou muita polêmica na internet. Mas será mesmo que o ex-presidente Lula proibiu a inclusão da vacina contra a meningite em 2010? A resposta é não. Vamos aos fatos.
Como dito antes, de fato, o veto é real. Vamos contextualizar. Em 2007, o então deputado Alexandre Silveira criou um projeto de lei que incluía as vacinas contra meningites pneumocócicas e meningocócicas no calendário básico da vacinação da criança.
O projeto demorou “só” três anos para tramitar no Congresso até ser aprovado. Ele chegou às mãos de Lula no final de 2010. Ao chegar às mãos do Executivo para a sanção (parte final para a promulgação da lei) foi feita uma consultoria ao Ministério da Saúde. E ai “descobriu-se” que três das cinco vacinas (incluindo a da meningite) já estavam no calendário. Leia a justificativa:
O Brasil é o país que oferece gratuitamente o maior número de vacinas aos grupos populacionais alvo, estando disponíveis, atualmente, quarenta e três imunobiológicos. Tanto é assim, que das cinco vacinas descritas no projeto de lei, três já estão contempladas no calendário de vacinação. A pneumocócica conjugada sete valente já foi, inclusive, superada pela disponibilização de uma dez valente, que confere maior proteção. […]
Tudo é descrito na própria matéria do G1 e comprovado por notícias anteriores ao veto. Essa, do próprio G1, aponta que o SUS havia passado a oferecer a vacina contra a meningite C (a mesma descrita no projeto) em março daquele ano. Essa matéria da Revista Crescer reforça a informação.
Vale dizer que não é possível dizer se a meningite que vitimou o neto de Lula foi a tipo C (citada no projeto e que já era oferecida no SUS). A meningite, inflamação nas meninges (membrana que envolve o cérebro) pode ser causada por diversos tipos de vírus e bactérias e ainda não foi especificado qual foi o agente causador da doença.
Resumindo: a história que aponta que Lula proibiu a vacina da meningite no Brasil é falsa. Ele, de fato, vetou projeto que previa a inclusão da vacina no SUS. Mas o motivo é que a vacina já estava no calendário.
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