Boato – Jovem que usava adesivo da campanha “#elenão” tem pele marcada por suástica por seus seguidores do candidato Jair Bolsonaro em Porto Alegre (RS).
Algumas histórias extrapolam os limites do Boatos.org. É sempre assim: uma história gera muita polêmica e acaba sendo apresentada como “suposta” pela mídia, e é aí que a confusão começa. Falamos do caso do vídeo de Doria. Agora, vamos tratar do caso da “notícia” da mulher que teve a pele marcada por suástica por seguidores de Bolsonaro.
Há algumas semanas, surgiu uma denúncia de que seguidores do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL) teriam agredido e desenhado uma suástica nazista em uma mulher em Porto Alegre viralizou na internet. Segundo o relato, ela foi agredida e abordada por três homens por causa um adesivo com a bandeira LGBT e os dizeres “ele não”. Leia o que diz as mensagens:
Versão 1: Inaceitável! “Bolso-naltistas” agridem uma jovem de 20 anos em Porto Alegre e escrevem símbolo da suástica-nazista em seu corpo com canivete! Versão 2: Em Porto Alegre uma jovem de 19 anos foi torturada por seguidores de Bolsonaro. Ela usava uma camiseta da campanha contra o candidato, com os dizeres #EleNão. Ao descer de um ônibus foi abordada por um grupo de três homens que questionaram a camiseta, e logo em seguida foi atingida com socos e marcada com um canivete, fizeram a suástica, símbolo nazista, em sua barriga. Não podemos aceitar com naturalidade atos como esse! Não à barbarie, não à ditadura, não ao fascismo!
Mulher teve pele marcada por suástica por militantes de Bolsonaro no RS?
É claro que assim que a informação começou a circular, um bocado de gente começou a comentar e compartilhar a história. Mas será mesmo que uma mulher teve a pele marcada por suástica por militantes de Bolsonaro no RS? A resposta é não.
Antes de começar, vamos entender como chegamos até aqui. Pois bem. Após a publicação do “relato” da jovem, a história causou muita polêmica e repercussão na mídia e nas redes sociais. Na época, o delegado Paulo César Jardim, responsável pelo caso, afirmou que não se tratava de uma suástica e sim de símbolo budista, o que fez o caso ganhar ainda mais repercussão.
Curiosamente, no dia seguinte (11/10/2018), a jovem decidiu não seguir com a ação. Naquela altura do campeonato, a história já havia sido usada politicamente, inclusive, o PT chegou a utilizar a notícia em uma das suas propagandas eleitorais.
Alguns dias depois, outro caso chamou a atenção da internet ao dar conta de que a capela de São Pedro da Serra, em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, amanheceu pichada com símbolos da suástica nazista.
Pois bem, o tempo passou e o Boatos.org ficou esperando uma solução para os casos. Seguindo o ditado popular de que a Justiça tarda, mas não falha, as soluções chegaram e, para a nossa surpresa, são falsas.
A primeira a ser solucionada foi a igreja pichada em Nova Friburgo. Na verdade, não foram simpatizantes de Bolsonaro. Ao contrário, a manifestação teve a participação de pessoas contrárias a candidatura de Bolsonaro que, inclusive, também picharam “#elenão” e “#elejamais”. O protesto aconteceu após o padre se pronunciar a favor do candidato do PSL. Vale dizer que os autores da pichação já foram identificados e autuados pela Polícia Civil de Nova Friburgo.
Já a história da suástica de Porto Alegre, demorou um pouco mais. O primeiro indício que nos levou a conclusão do caso está no resultado do laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP), que indicou automutilação. Acontece que a perícia concluiu que as lesões na barriga da jovem foram feitas pela própria jovem ou com o consentimento dela. Isso porque as lesões foram superficiais, contínuas e sem profundidade em uma região do corpo de fácil acesso.
Segundo a perícia, os cortes foram feitos de forma cuidadosa, ou seja, não condiz com a situação descrita pela jovem. Além disso, ela não apresentou hematomas ou marcas na rosto, mãos e braços, o que indica que não houve reação a agressão.
Esta matéria da BBC aponta contradições a versão informada pela jovem à polícia e corrobora com a tese de que trata se de um caso de automutilação. Isso porque não há imagens ou testemunhas que confirme a versão da garota. Nas imagens das 12 câmeras que cobrem a área aponta pela jovem, não há nada relacionado ao caso. O mesmo acontece com as mais de 20 pessoas ouvidas pela polícia. Vale dizer que a jovem foi acusada de comunicação falsa de crime e que há indícios de que ela possui problemas psicológicos.
Resumindo: de fato, uma igreja foi pichada em Nova Friburgo. Porém, a informação de que foram militantes do Bolsonaro é falsa, assim como na história da jovem que teve a pele marcada por suástica. Ou seja, tudo boato.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.