Boato – Não é possível que o presidente Jair Bolsonaro seja cobrado pelas 100 mil mortes por Covid-19 no Brasil. O STF o impediu de combater a doença e tirou a responsabilidade dele sobre a pandemia.
Quando o Brasil completou 100 mil mortes causadas pela Covid-19, muitos lembraram do que poderíamos ter feito lá no começo da pandemia para evitar que chegássemos a essa triste marca. Outros, no entanto, já começaram (na realidade, desde antes deste número) a tentar tirar o “seu da reta”.
É o caso de muitos bolsonaristas que começaram a apontar que “ninguém pode cobrar nada do presidente Jair Bolsonaro em relação ao coronavírus”. O motivo seria que o STF teria impedido Bolsonaro de combater a pandemia da Covid-19 no Brasil. A informação circulou por meio de textos e vídeos. Leia algumas das mensagens que circulam online:
Versão 1: Só para lembrar: STF afastou Bolsonaro do controle da COVID, dando esse poder para Governadores e Prefeitos. Não cobrem do Presidente. Versão 2: O STF impediu o Bolsonaro de agir, transferindo o poder de decisão sobre a covid para os governadores. A culpa é do STF e dos governadores! Versão 3: **SO PRA LEMBRAR***GENTE O STF AFASTOU BOLSONARO SOBRE A QUESTAO DO COVID ,DEU A RESPONSABILIDADE PARA GOVERNADORES E PREFEITOS . NAO COBREM O PRESIDENTE.
STF impediu Bolsonaro de combater a pandemia da Covid-19 no Brasil?
O que não faltaram foram compartilhamentos de materiais como esses. Mas aqui essa história não vai colar. Essa informação que aponta que Bolsonaro não pode agir para combater a Covid-19 e que não tem responsabilidade é falsa. Calma aí que a gente explica tudo para vocês.
Toda a conclusão de que “Bolsonaro” não tem culpa de nada tem como base decisões do STF de 25 de março e do dia 8 de abril de 2020. Na última decisão, o ministro Alexandre de Moraes deu direito aos governos estaduais, distrital e municipais de não serem impedidos pelo governo federal de adotar medidas restritivas durante a pandemia.
Em outras palavras, a decisão impedia o governo federal de derrubar medidas de isolamento social definidas pelos estados, municípios e Distrito Federal. Ou seja: o governo não poderia decretar o fim da quarentena no Brasil. É importante citar que a decisão não tira a competência do governo federal de agir contra a Covid-19. Porém, vamos nos debruçar sobre isso mais para frente.
De momento, é importante relembrarmos quais foram as ações do presidente Jair Bolsonaro entre os dias 11 de março de 2020 (quando a OMS passou a considerar a Covid-19 como uma pandemia) e o dia 8 de abril (dia da decisão do STF). Para facilitar a leitura e entendimento (o que para alguns é difícil), vamos colocar em tópicos 7 ações do presidente no período:
1) No dia 15 de março, Bolsonaro participou de um ato de apoiadores na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Além de corroborar para que se formassem aglomerações, o próprio presidente (sem máscara) apertou a mão de correligionários.
2) No dia 24 de março, Bolsonaro fez um pronunciamento absurdo em cadeia de rádio e TV. Além de desacreditar a mídia, Bolsonaro colocou a culpa da Covid-19 no clima, falou que era preciso acabar com a quarentena e “voltar a normalidade”, chamou o coronavírus de gripezinha e começou a sua cruzada em defesa da cloroquina. O pronunciamento foi tão patético que fomos obrigados a fazer um texto citando os pontos errados apresentados para todo Brasil.
3) No dia 27 de março, um vídeo de uma campanha chamada do governo “O Brasil não pode parar” pedindo o fim do isolamento começou a circular. No dia seguinte, a Justiça impediu que o governo veiculasse a campanha.
4) No dia 29 de março, mesmo depois de o ministro da Saúde à época, Luiz Henrique Mandetta, pedir para que as pessoas “fiquem em casa”, Bolsonaro fez mais um “passeio” por Brasília. No dia, ele também publicou vídeos contra o isolamento social que foram excluídos de redes sociais no dia seguinte.
5) No dia 1º de abril, ele publicou um vídeo falso sobre uma situação de desabastecimento no Ceasa em Belo Horizonte. A mensagem, que criticava a quarentena, foi checada no Boatos.org, por outros sites e também excluída de redes sociais.
6) No dia 2 abril, Bolsonaro declarou que o “decreto” para suspensão da quarentena já estava na mesa. O plano seria definir como essencial “toda atividade exercida pelo homem ou mulher que seja indispensável para levar o pão de cada dia pra casa”.
7) No dia 5 de abril, ele deu um recado a “pessoas do governo que estariam virando estrelas” e que iria usar a caneta. O recado era claro para Mandetta, que não seguia as suas orientações de acabar com o isolamento e também não defendia a cloroquina. O ministro da Saúde sairia do governo no dia 16 de abril.
Como vocês puderam ver, o que não faltaram foram ações irresponsáveis por parte do governo do início da “pandemia declarada” até o dia da decisão do STF. Esse histórico deixa bem claro que a decisão não foi para impedir que Bolsonaro combata o coronavírus. Foi (atenção para a caixa alta) para impedir que BOLSONARO ATRAPALHASSE O COMBATE AO CORONAVÍRUS.
Vale lembrar que um estudo do Imperial College de Londres e popularizado no Brasil pelo biólogo Átila Lamartino aponta que, se não fosse tomada medida alguma de isolamento social, o país chegaria a 1 milhão de mortos. Em julho, esse estudo da UFRJ apontou que a quarentena pode ter salvo 118 mil vidas no país apenas em maio.
É difícil saber a real dimensão do que aconteceria se Bolsonaro não fosse impedido pelo STF de decretar quarentena, mas podemos afirmar, com certeza, que chegaríamos a agosto com mais de 100 mil mortes no país.
OK. Vocês já viram que o comportamento de Bolsonaro “pré-decisão do STF” não foi o melhor em relação ao coronavírus. Agora, vamos voltar ao trecho que havíamos prometido: o que aponta para a tese falsa que Bolsonaro foi impedido de agir contra a pandemia.
Além de, como falamos antes, a decisão se restringir à tomada de decisão sobre isolamento social, governo tem a missão de fazer muito mais do que decidir o que “fecha e o que abre” durante a pandemia.
Dar prioridade para o que seria gasto durante a pandemia (em quais medicações haveria investimento), trabalhar para um programa de testagem em massa, criar diretrizes para contratação de profissionais e compra de equipamentos e orientar a população corretamente sobre como se prevenir (assim como, por exemplo, foi feito de forma bem-sucedida na Nova Zelândia) são apenas alguns exemplos do que foi ou poderia ser feito pelo governo.
Em entrevistas, ministros do STF deixaram bem claro que a decisão não tirou a responsabilidade do governo. Há falas de Cármen Lúcia e Marco Aurélio sobre o assunto. Sites de checagem como o Aos Fatos e a Agência Lupa também desmentiram a informação. Ambos ouviram especialistas que confirmaram que a decisão do STF não tira a responsabilidade do governo sobre a pandemia.
Resumindo: não adianta agora defensores do governo virem falar que Bolsonaro não teve culpa alguma pelos 100 mil mortos na pandemia no Brasil e que foi impedido pelo STF de combater o coronavírus. Além de a decisão não ter impedido o governo de lutar contra a doença (ações que ficaram muito aquém do esperado), o fato é que se a decisão sobre o isolamento social ficasse nas mãos de Bolsonaro, estaríamos vivendo uma tragédia muito pior que a atual.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.
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