Boato – Por meio de um áudio no WhatsApp e uma imagem, o general do Exército Eduardo Villas Bôas anunciou que teremos uma intervenção militar constitucional no Brasil por causa da corrupção e convoca as pessoas a saírem nas ruas para pedir a volta dos militares.
Agora é definitivo. A paralisação dos caminhoneiros pode ser considerada praticamente encerrada. Porém, o mesmo não se pode dizer do desejo de algumas pessoas por uma intervenção militar. Muito deste ímpeto está sendo, inclusive, fomentado por meio de informações falsas na internet. E hoje vamos falar de mais uma.
Está circulando online uma imagem que seria oficial do Exército brasileiro e assinada pelo general Eduardo Villas Bôas. De acordo com o anúncio, o Brasil terá uma intervenção militar “sem maiores transtornos”, todos os partidos serão extintos e os ministros do Supremo serão afastados de todas as suas funções. Leia o conteúdo da imagem:
Intervenção Militar – Forças Armadas do Brasil – Revolução Brasileira. Sem maiores transtornos, declaramos vago à Presidência da Republica do Brasil, assim suspendemos o Congresso Nacional e afastamos todos de suas funções de Ministros do Supremo e partir de zero hora na data de 30/05/2018. Com isso assume o Governo do BRASIL as forças armadas e Junta Militar que governará até o dia 31 de Dezembro de 2018. Desde então todos os partidos são extintos, e é banido definitivamente com legitimidade e ideologias totalitárias. Políticos ativos que não possuam nenhuma restrição de corrupção poderão se associar para uma nova escala de fórmula partidária que será desenvolvida. Fazemos isso a pedido da Nação Brasileira. General: Villas Boas.
Junto a isso, um áudio que seria do general também está pipocando na internet. De acordo com a gravação, Villas Bôas teria, além de anunciado a intervenção (no áudio o motivo é que Temer entrou no poder por meio de um golpe), pedido para que as pessoas saiam às ruas para pedir “intervenção militar já”. Leia a transcrição do áudio e o escute:
Brasileiros e brasileiras. Aqui quem fala com vocês o general-de-exército do Brasil, Eduardo Villas Bôas. Somos unidos a semana inteira para se tratar da crise dos caminhoneiros, junto ao Almirante de esquadra da Marinha Eduardo Ferreira e o tenente-brigadeiro-do-ar da Aeronáutica do Brasil Nivaldo Postado. A Constituição Brasileira artigo 142 dá ao presidente poder sobre as Forças Armadas. No entanto, esse presidente que instituiu se institui através de um golpe e não do povo e, atendendo ao clamor Popular, nós decidimos que nós iremos tomar uma decisão. O que estamos pedindo para você é que essa quarta-feira dia 30 de maio às 5 horas da tarde em todas as capitais brasileiras, vocês saiam uma rua e peçam pela intervenção militar. No dia 31 a partir das 8 horas da manhã nós iremos intervir. Nós iremos institui o presidente junto com o Congresso Nacional e judiciário. Devido à corrupção que se instalou nesse país, faremos um governo interino e garantiremos a ordem e a segurança. Pedimos aos brasileiros paciência porque não sabemos certo quanto tempo esse governo interino vai durar. Porém, nós não faremos golpe. Convocaremos novas eleições. Peço ajuda a todos os brasileiros e que Deus nos abençoe.
General Villas Bôas anunciou que teremos intervenção militar e convocou povo do Brasil às ruas?
Tanto a imagem quanto o áudio estão sendo compartilhados quase como uma “última esperança” de quem deseja a volta dos militares ao poder. Mas será mesmo que o general Eduardo Villas Bôas fez o anúncio oficial da intervenção militar e pediu para que as pessoas saiam às ruas convocando os militares? A resposta é não. Vamos aos fatos.
Vamos falar primeiro da imagem. Ela não é a primeira relacionada à greve dos caminhoneiros e um anúncio de intervenção que está circulando na internet. Se formos analisar o documento (que tem toda a cara de oficial), é possível perceber erros inadmissíveis para uma “carta histórica”. Vamos enumerar só três aqui.
1) “declaramos “vago” (deveria ser vaga) à (deveria ser a) Presidência da Republica (deveria ser República)”. 2) “Ministros (deveria ser ministros) do Supremo e (deveria ser à) partir de zero hora”. 3) “assume o Governo (deveria ser governo) do BRASIL (deveria ser Brasil) as forças armadas (deveria ser Forças Armadas)”.
Além dos erros citados (que não são todos do documento), não há em qualquer local no site do Exército referências a respeito da tal carta. Ao contrário: instado sobre intervenção militar, Villas Bôas já se posicionou diversas vezes contrário à ação. E no dia 29 de maio, o chefe do Estado-Mario Conjunto das Forças Armadas, almirante Ademir Sobrinho, declarou que os militares não concordam com uma intervenção. “Estou preocupado de fazer o Brasil andar. Não estou preocupado com intervenção”, disse em coletiva.
Com tudo isso, já dá para imaginar que o áudio também é falso, certo? Certíssimo. Some a tudo que falamos até agora a informação de que a voz de quem gravou não tem nada a ver com a voz ou mesmo o sotaque do general Villas Bôas. Se você duvida, compare com esse vídeo em que o general diz, inclusive ser contra a intervenção militar.
Resumindo: a história que aponta que o general Eduardo Villas Bôas anunciou que haverá intervenção militar no Brasil e pediu para o povo ir às ruas é falsa. O documento não é oficial e a pessoa do áudio é alguém se passando pelo militar.
PS: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, no Facebook e WhatsApp no telefone (61) 991779164.