Boato – Lei aprovada na Arábia Saudita pune com morte pessoas que estiverem carregando uma Bíblia.
Não são poucas as histórias que aparecem na internet denunciando casos de intolerância religiosa vinda do Oriente Médio. O volume é tão grande que algumas delas, claro, não são verdadeiras. E hoje vamos falar de mais uma: de acordo com um texto que circula na internet, a Arábia Saudita criou uma lei que institui a pena de morte para pessoas que estiverem carregando uma Bíblia.
O texto surgiu em sites religiosos norte-americanos e foi traduzido para sites brasileiros do mesmo estilo no final de 2014. Em setembro de 2015, o tema voltou à tona após publicação em uma página chamada Portal Conservador. Leia trechos do texto:
Arábia Saudita decreta pena de morte para quem carregar Bíblia. A Arábia Saudita é o “berço” do Islamismo, tendo em Meca a cidade mais sagrada desta religião. Já é proibido aos não muçulmanos entrarem naquela cidade. De modo geral, a perseguição religiosa só aumenta. Não há igrejas conhecidas e a maioria dos cristãos naquela nação são imigrantes estrangeiros.
Agora, o governo do país que já se diz regido pela lei sharia, anuncia modificações em uma lei sobre literatura. Isso poderá marcar o fim do cristianismo na região. O motivo é simples: está Adultério, prevista pena capital para quem carregar Bíblias para dentro da Arábia. Ou seja, o que já era considerado contrabando, agora chega ao extremo. Não se pode comprar legalmente uma cópia das Escrituras por lá. […]
O portal WND entrou em contato com a embaixada da Arábia Saudita para confirmar as mudanças na lei, mas a resposta oficial é que não haveria comentários. Por ser um importante parceiro comercial dos EUA, a Arábia raramente recebe cobertura negativa da imprensa. […]
A história é realmente alarmante. Por isso, vamos explicar o que é fato e o que é boato no que está descrito. Primeiramente, vamos falar do que é verdade:
1 – Realmente há uma preocupação internacional com os casos de pena de morte na Arábia Saudita. Este relatório da Anistia Internacional aponta que 102 pessoas foram mortas nesse ano. Além disso, há uma lista de “crimes” que poderiam ser punidos com pena de morte como adultério, ser gay, bruxaria e apostasia (renúncia a uma fé). Porém, a maioria absoluta das execuções se dá por casos de assassinatos e tráfico de drogas.
2 – Realmente, há problemas de perseguição religiosa na Arábia Saudita. O islamismo é considerada a religião do país e há muitas dificuldades em se praticar outra fé por lá. Apenas estrangeiros podem tem outra religião. Porém, de acordo com a lei do país não há uma restrição formal para pessoas que não sejam muçulmanas de estarem no país. Isso é apontado nessa matéria do USA Today.
Esclarecido de que a situação realmente não é fácil por lá, temos que fazer a ressalva de que a história da pena de morte por carregar a Bíblia não passa de uma boato. O primeiro ponto que nos levanta dúvida em relação a isso é a falta de fontes e casos. Não há um único caso de pessoa que morreu por lá após carregar uma Bíblia.
Mais do que isso: apesar das dificuldades, há sim grupos religiosos cristão que se reúnem no país. Filipinos constituem uma grande comunidade católica no país e se reúnem em encontros pequenos. E claro, ninguém morre por portar Bíblias. Também há missões cristãs pelo país (inclusive a que fez a denúncia sobre pena de morte). Detalhe: na própria página deles, eles apontam que 4,3% da população é cristã. Das duas uma: ou são cristãos sem Bíblia ou deveriam já sido condenados e não foram.
A história é complicada, mas resumindo fica assim: há pena de morte e problemas relacionado à religião na Arábia Saudita (até para quem é muçulmano e larga a religião). Porém, não há nenhuma lei que aponte que carregar Bíblia pode acarretar em pena de morte. Pelo menos por enquanto isso não passa de um boato.
Em tempo: o Boatos.org já desvendou uma história parecida que apontava que quem lia a Bíblia na Arábia Saudita estaria condenado a ter a mão cortada. Leia aqui.
Esse artigo foi uma sugestão dos leitores Jacyra Guapindaia e Ernesto de Lima. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site ou pelo Facebook.