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É falso que Gilberto Collard tenha feito um texto sobre o islamismo e Jihad na França

Gilbert Collard fez texto sobre o islamismo e Jihad na França, diz boato (Foto: Reprodução/Facebook)

Boato – O advogado e político francês Gilberto Collard fez um texto sobre o islamismo e Jihad no país. 

  Análise

Em mais um texto da série de boatos que voltaram a circular por conta dos conflitos entre o Hamas e Israel (acreditamos que este seja o último da série), vamos falar de um texto “lacrador” contra o islamismo que voltou a viralizar agora em 2023.

Trata-se de um texto que começa com o título “muito sério o islã” (não com esta qualidade ortográfica) que é atribuído ao advogado e político francês Gilbert Collard. Leia algumas das mensagens que estão circulando na internet:

MUITO SERIO O ISLÃ.* A França (liberal e pioneira na criação de permissividades) está passando por uma fase de “muçulmanização” nos hábitos e na leis. Um advogado francês chamado Gilbert Collard resolveu se manifestar. Todos os países do ocidente correm o mesmo risco. ________ – “Fui obrigado a tomar consciência da extrema dificuldade em definir o que é um infiel, para poder escolher entre Alá ou o Cristo; até porque o Islamismo é de longe a religião que progride mais depressa no nosso país. Participei de um estágio anual de atualização, necessária para renovação da minha habilitação de segurança nas prisões. 

Nesse estágio houve uma apresentação por parte de quatro palestrantes, representando respectivamente as religiões Católica, Protestante, Judaica e Muçulmana, explicando os fundamentos das suas doutrinas respectivas. Foi com um grande interesse que esperei a exposição do Imã. A apresentação deste ultimo foi notável, acompanhada por uma projeção em vídeo. Terminadas as intervenções, chegou-se ao tempo de perguntas e respostas, e quando chegou a minha vez, perguntei: 

– “Agradeço que me corrija se eu estiver enganado, mas creio ter compreendido que a maioria dos Imãs e autoridades religiosas decretaram o “Jihad” (guerra santa), contra os infiéis do mundo inteiro, e que matando um infiel (o que é uma obrigação imposta a todos os muçulmanos), estes teriam assegurado o seu lugar no Paraíso. Neste caso poderá dar-me a definição do que é um infiel?” Sem objetar à minha interpelação e sem a menor hesitação, o Imã respondeu: – “Infiel é todo não muçulmano”. Eu respondi: – “Então permita-me assegurar se compreendi bem; os adoradores de Alá devem obedecer às ordens de matar qualquer pessoa não pertencente à vossa religião, a fim de ganhar o seu lugar no Paraíso, não é verdade? A sua cara, que até então tinha tido uma expressão cheia de segurança e autoridade, transformou-se subitamente na de um menino, apanhado em flagrante com a mão dentro do açucareiro!!! – “É exato”, respondeu ele num murmúrio. Eu retorqui: – “Então, eu confesso ter bastante dificuldade em imaginar o Papa dizendo para os católicos que massacrem todos os vossos correligionários, ou o Pastor Stanley dizendo o mesmo para garantir a todos os protestantes um lugar no Paraíso.” 

O Imã ficou sem voz ! Continuei: – “Tenho igualmente dificuldades em me considerar vosso amigo, pois que o senhor mesmo e os vossos confrades incitam os vossos fiéis a cortarem-me a garganta!” Além disso, me aflige uma outra questão: – “O senhor escolheria seguir Alá que vos ordena matar-me a fim de obter o Paraíso, ou o Cristo que me incita a amar-vos a fim de que eu aceda também ao Paraíso, porque Ele quer que eu esteja na vossa companhia?” Nessa hora, dava para ouvir uma mosca voar, enquanto que o Imã continuava silencioso. 

Será inútil afirmar que os organizadores e promotores do Seminário de Formação não apreciaram particularmente esta maneira de tratar o Ministro do culto Islâmico e de expor algumas verdades a propósito dos dogmas desta religião. No decurso dos próximos trinta anos, haverá suficientes eleitores muçulmanos no nosso país para instalar um governo de sua escolha, com a aplicação da “Sharia” como lei. Parece-me que todos os cidadãos deste país e do mundo deveriam poder tomar conhecimento destas linhas, mas como o sistema de justiça e das “mídias” liberais combinados com a moda doentia do “politicamente correto”, não permitirão de forma nenhuma que este texto seja publicado de forma intensiva. É por isto que eu vos peço para enviar a todos os seus contatos via Internet. Obrigado, Gilbert Collard, cristão, cidadão francês e advogado.

Checagem

Assim como no caso de outras checagens, esta história já havia sido desmentida no Boatos.org (no caso, a nossa checagem foi em 2018). E, assim como em outros casos, a história que viralizou é falsa.

Na parte da checagem, vamos responder às seguintes questões: 1) Quem é Gilberto Collard? 2) É verdade que o texto em questão é de autoria do advogado francês Gilbert Collard? 3) O conteúdo do texto é real ao falar que a Jihad prevê que muçulmanos devem matar todos que não são do islamismo?

Quem é Gilberto Collard?

Como a pessoa em questão está sendo vendida por aqui como uma “grande autoridade”. Por isso, vale explicar, inicialmente, quem é Gilbert Collard. Isso fizemos lá em 2018. Relembre:

Gilbert Collard é um advogado e político francês (afinal, nem todo mundo conhece). Atualmente, Gilbert é secretário-geral do Rassemblement bleu Marine (RBM), uma coalizão política francesa de partidos políticos de direita e extrema direita criada por Marine Le Pen. O advogado também é membro da Assembleia Nacional (antiga Frente Nacional) de Gard.

É verdade que o texto em questão é de autoria do advogado francês Gilbert Collard?

Não é. Na realidade, o texto já circulava na internet antes mesmo do desmentido do Boatos.org. Tanto que na época, apontamos que o próprio político havia desmentido a autoria do texto lá em 2012. “O próprio Gilbert Collard negou a autoria do texto. Em um artigo, publicado em 2012, o advogado afirmou que o texto foi falsamente atribuído a ele e classificou o conteúdo como “violento” e “islamofóbico””, falamos em 2018.

O conteúdo do texto é real ao falar que a Jihad prevê que muçulmanos devem matar todos que não são do islamismo?

Também não. Na realidade, o texto em questão tem uma interpretação errada e sobre o islamismo e também (conforme o próprio advogado descreveu) tem um caráter islamofóbico. Relembre o que falamos sobre o assunto:

Vamos a algumas considerações sobre o texto. A primeira delas é sobre a falsa premissa de que os muçulmanos querem matar todos os não muçulmanos. Digo isso porque o islamismo possui um longo histórico de tolerância. Tudo isso, graças aos “povos do livro” (judeus e cristãos), que seriam os povos irmãos por seguirem a Bíblia Sagrada. Além disso, o islamismo, assim como o Judaísmo e o Cristianismo, acredita nos profetas e mensageiros de Deus. Para eles, a missão dos profetas não é impor seus ensinamentos e, sim, direcionar as pessoas para o caminho de Deus. Logo, não há motivos para acreditar que “muçulmanos querem matar os infiéis”.

O xeque Jihad Hassan Hammadeh, nesta entrevista na Revista IstoÉ, fala sobre o combate aos infiéis. Segundo Jihad, no Corão, livro sagrado do islamismo, as passagens indicam que é preciso combater o injusto e defender o injustiçado, sendo muçulmano ou não. Ou seja, se uma passagem diz “matai os infiéis, onde quer que os encontre”, existe um contexto. Confira o que diz o líder muçulmano:

Entre os incrédulos da cidade de Meca e os muçulmanos de Medina havia um acordo de não agressão. E quebrar esse acordo era passível de pena de morte. É isso que significa. Porém a pessoa que lê sem conhecimento pensa que Deus falou para sair matando todo mundo. É uma interpretação errada dos ensinamentos do Corão.

Conclusão

Fake news ❌

Voltamos agora, em 2023, apenas para reforçar o que falamos há alguns anos: é falso que o texto que está circulando na internet seja de Gilbert Collard. O teor dele também não deve ser levado em conta. No fim, é apenas mais uma fake news que está circulando na internet.

Ps: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo e-mail [email protected] e WhatsApp (link aqui: https://wa.me/556192755610)