Boato – O movimento radical Estado Islâmico (EI) do Iraque ordenou mutilação genital feminina para “cuidar da sociedade.
No dia 8 de agosto, os Estados Unidos realizaram um ataque contra o Iraque. A principal motivação do ataque americano é o suposto risco que o Movimento Radical Estado Islâmico (EI) estaria provocando em não-muçulmanos. A Exame chegou a citar 10 crueldades realizadas pelo grupo.
Um dessas ações seria a mutilação genital das mulheres no Iraque. Segundo a publicação da Folha no dia 24 de julho (redigido via agências de notícias), o movimento radical Estado Islâmico (EI) ordenou a mutilação em massa de mulheres entre 11 e 46 anos. Confira um trecho da reportagem:
O movimento radical Estado Islâmico (EI) ordenou que garotas e mulheres da cidade de Mosul, norte do Iraque, e arredores sejam submetidas a mutilação genital. A informação foi confirmada pela ONU nesta quinta-feira (24).
O líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi, emitiu um comunicado de Aleppo, na Síria, no último dia 11, no qual ordena a mutilação genital de todas as mulheres que estão sob sua liderança e tenham idades entre 11 e 46 anos.
…
Localizada a cerca de 400 km ao norte da capital Bagdá, Mosul é a segunda maior cidade do Iraque, e é a principal atualmente sob controle dos extremistas.
O EI dizem que o intuito da mutilação genital em massa é “cuidar” da sociedade muçulmana, evitando “a expansão da libertinagem e da imoralidade” entre as mulheres iraquianas.
O fato da reportagem conter que a informação foi confirmada pela ONU, um órgão oficial, fez com que o assunto repercutisse. Afinal, se a matéria disser que um órgão oficial confirmou a informação é porque é verdade, não é mesmo? Nem sempre. Nesse caso, foi mais um erro de informação.
A história começou quando a segunda oficial sênior das Nações Unidas, Jacqueline Badcock, declarou a alguns repórteres que a prática vinha acontecendo no país a mando de do grupo extremista. A informação foi logo aceita, pois algumas práticas nesse sentido são praticadas pelo grupo. Confira um trecho da entrevista:
“Isso é algo novo para o Iraque, principalmente nessa área, é preocupante e precisa ser endereçado” [SIC].
A história se espalhou rapidamente e logo se transformou em um viral. Porém, logo que a informação se tornou conhecida, jornalistas com informantes no Iraque começaram a desmentir a notícia através de redes sociais. Alguns diziam: meus contatos no Iraque dizem que a história de Mosul é falsa. Outros publicaram: meus contatos em Mosul nunca ouviram falar que o Estado Islâmico ordenou a mutilação feminina para todas as mulheres da cidade. [SIC]
O ultimato chegou com a confirmação do próprio desmentindo toda a notícia. A resposta foi reta e direta: ‘é claro que a ISIS não ordenou isso’ [SIC]. O próprio The Guardian publicou uma matéria afirmando que a história era falsa. Por sinal, um dos jornalistas que alertou para o hoax trabalhava para o veículo.
O que aconteceu é uma história que se repetiu. O mesmo “comunicado” já havia sido atribuído a ordem para a mutilação na Síria. Segundo os integrantes do grupo, o documento passou por um Photoshop e a história foi atualizada para o Iraque.
PS: esse artigo foi uma sugestão da leitora Graziella Davanso e teve a sensacional contribuição dos leitores Cau Brovko e Kalil Santos no Fórum do Boatos.org no Facebook. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site ou pelo Facebook.