Boato – 37 milhões de abelhas foram encontradas mortas em Ontário, no Canadá. Motivo da morte é o plantio de milho transgênico (geneticamente modificado).
As polêmicas sobre os alimentos transgênicos estão longe de chegar ao fim. Entre acusações de que esses produtos “trazem riscos à nossa saúde e ao meio ambiente” e a defesa de que são produtos “melhorados” que não apresentam riscos, tem circula na internet uma informação bombástica: a de que o plantio de milho transgênico tem causou a morte de milhões de abelhas.
Segundo um texto publicado em blogs, WhatsApp e Facebook, 37 milhões de abelhas morreram por causa de uma plantação de milho transgênico no Canadá. A informação aponta que as “abelhas morreram depois que o milho transgênico foi plantado há algumas semanas em Ontário, no Canadá”. Confira trechos da notícia:
37 milhões de abelhas são encontradas mortas após o plantio de milho geneticamente modificado Milhões de abelhas morreram depois que o milho transgênico foi plantado há algumas semanas em Ontário, no Canadá. O apicultor local, Dave Schuit, que produz mel em Elmwood, perdeu cerca de 37 milhões de abelhas, que são cerca de 600 colmeias.
“Quando o milho começou a ser plantado, nossas abelhas morreram aos milhões”, disse Schuit. Enquanto muitos apicultores culpam os neonicotinóides, ou neonics, pelo colapso das colônias de abelhas e muitos países da UE baniram a classe neonicotinóide de pesticidas, o Departamento de Agricultura dos EUA não proíbe os inseticidas conhecidos como neonicotinóides, fabricados pela Bayer CropScience Inc.
Dois dos pesticidas mais vendidos da Bayer, Imidacloprid e Clothianidin, são conhecidos por entrarem no pólen e no néctar, e podem danificar insetos benéficos como as abelhas. A comercialização dessas drogas também coincidiu com a ocorrência de mortes de abelhas em larga escala em muitos países europeus e nos Estados Unidos.
37 milhões de abelhas morreram por causa de plantação de milho transgênico?
A pergunta, que não quer calar, é uma só: será mesmo que milhões de abelhas morreram após o plantio do tal milho geneticamente modificado? A resposta é não. Para entender o porquê, continue lendo.
Bom, tudo começou quando a rede pública canadense CBC (Candian Broadcasting Corporation) publicou uma notícia sobre o colapso de colmeias em Elmwood, Ontário. Na publicação, o apicultor Dave Schuit indicava o pesticida neonicotinoide como o responsável pela morte de milhões de abelhas e cobrava um posicionamento do governo local.
Diversos blogs em inglês começaram a replicar o material. Até aí, tudo bem. O problema é que, após a divulgação da matéria, um deles “modificou o título” e a causa da morte das abelhas passou “de pesticidas” para “plantação de milho geneticamente modificado”. Bom, nem precisamos dizer que a notícia de que a morte das abelhas foi causada pelo plantio de milho transgênico fez sucesso na internet e foi replicada em diversos idiomas, inclusive, em português.
Mas quem compartilhou não deve ter se atentado ao fato de que as matérias originais não relacionaram a morte das abelhas ao milho geneticamente modificado e, sim, ao uso dos pesticidas citados, inclusive, no texto do boato. Pois bem, cinco anos depois do caso, temos o veredito: o pesticida neonicotinoides representa um risco para as abelhas. A pesquisa realizada pela Unidade de Pesticidas da EFSA conclui que três tipos de neonicotinóides (clotianidina, imidaclopride e tiametoxame) representam ameaças para as abelhas.
A propósito, apesar das críticas sobre a produção de milho transgênico, não há nenhuma prova de que o plantio do produto esteja relacionado a morte de abelhas (e também não descobrimos nenhum caso de morte causada por transgênicos). Aliás, vale dizer que algumas sementes são geneticamente modificadas justamente para tentar reduzir o uso de agrotóxicos.
Resumindo: a notícia não passa de uma “adaptação” de uma história real. As abelhas morreram, mas não foi por causa do plantio de milho geneticamente modificado e, sim, por causa do uso de pesticidas. Ou seja, é boato.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.