Boato – Agora, descobrimos que estava certa a pessoa que não se vacinou porque a Anvisa alertou que há risco de miocardite e pericardite na vacina contra Covid-19 da Pfizer.
Canalhice! É raro começarmos um texto adjetivando uma desinformação desta forma, mas é exatamente o termo que mais se aplica na história de hoje. Falamos isso porque agora, em pleno 2023, ainda há pessoas que estão se utilizando de subterfúgios para justificar um comportamento negacionista perante à pandemia e à vacinação.
Muitas pessoas estão compartilhando um link de 2021 do site da Anvisa com o título “Anvisa alerta sobre risco de miocardite e pericardite pós-vacinação” e apontando que esta seria a prova de que a melhor decisão seria não se vacinar para que possamos fugir dos efeitos colaterais da vacinação.
Um trecho em especial está circulando com força na internet: “A Anvisa orienta aos vacinados com Pfizer para procurar atendimento médico imediato se tiverem dor no peito, falta de ar e palpitações. Miocardite é a inflamação do músculo cardíaco e pericardite é a inflamação do revestimento externo do coração”.
Em muitos casos, o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro, um contumaz negacionista em relação à vacinação, é aclamado como a “pessoa que tem razão”. E, claro, há a recomendação de que não se vacina. Leia algumas das mensagens que estão circulando online:
Versão 1: Parece que fomos todos enganados… (Menos aqueles que foram inteligentes suficiente para comprar o “cartão-vacina fake”. Chamei vocês de corruptos mas no fundo vocês estavam certos)
Versão 2: Bolsonaro acertou TODAS as previsões! Lockdown Ñ funciona✅ Máscara não protege✅ Se parar a economia a fome mata✅ Tratamento precoce salva vidas✅ Vacinas q NÃO imunizam ñ prestam✅ Vacina tem efeito colateral✅ Bolsonaro é 1 FENÔMENO!
Versão 3: Quem se deu bem mesmo nessa patacuada das vacinas de Covid-19, foram os NEGACIONISTAS @jairbolsonaro e os seus seguidores, que decidiram por não inocular esse veneno em seus corpos. Quem diria! O homem estava certo.
Alerta da Anvisa sobre miocardite justifica decisão de não tomar vacina contra Covid-19?
Por incrível que pareça, “influenciadores” (maus influenciadores) começaram a compartilhar a tese em questão. Ele só não explicaram (de forma dolosa, aliás) que o “alerta da Anvisa” (que veio, aliás, em uma nota péssima) não significa que a melhor decisão é não se vacinar.
Ainda na época da nota, uma fake news distorcendo o que seria miocardite e pericardite viralizou. Na ocasião, era dito que seria igual a “infarto e morte súbita”. Desmentimos a mentira na época. Veja o que foi escrito:
Mais importante do que isso é esclarecer que a mensagem que viralizou deturpa toda a nota da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Primeiro, porque os conceitos das doenças estão completamente errados.
Ao contrário do que apontam as mensagens, a miocardite não significa “enfraquecimento do coração que leva a insuficiência cardíaca e morte súbita” e a pericardite (escrita na mensagem erroneamente como periocardite) não significa “ataque cardíaco”. Veja o que diz a nota:
Miocardite é a inflamação do músculo cardíaco e pericardite é a inflamação do revestimento externo do coração. Em ambos os casos, o sistema imunológico causa uma inflamação em resposta a uma infecção ou algum outro fator. Os sintomas podem incluir dor no peito, falta de ar ou palpitações.
A gravidade dos casos pode variar. A maioria das pessoas que apresentou o evento após vacinação com imunizante contra a Covid-19 de RNAm nos Estados Unidos e procurou atendimento médico respondeu bem ao tratamento aplicado.
O site do Dr. Drauzio Varella aponta que a pericardite é a inflação de uma membrana que protege o coração que se dá após uma infecção viral. O site também aponta que, na maioria das vezes, o quadro tem regressão natural. Ou seja: não significa “enfraquecimento do coração que leva a insuficiência cardíaca e morte súbita”.
O site do Instituto Fleury aponta que a miocardite, por sua vez, é a inflamação do miocárdio. Também tende a ocorrer após uma infecção e pode ter regressão natural. Ou seja: não significa “ataque cardíaco”.
Vale apontar que a Anvisa deixa bem claro na nota que o alerta não muda a recomendação de que todas as pessoas que estão aptas a se vacinar se vacinem. “A Anvisa ressalta que mantém a recomendação de continuidade da vacinação com a vacina da Pfizer, dentro das indicações descritas em bula, uma vez que, até o momento, os benefícios superam os riscos”, diz a nota.
Preste atenção que eventos adversos como esses são raros em quem se vacina. A nota foi emitida apenas no intuito de orientar médicos. Aliás, se você ainda está com medo de se vacinar por medo de ter uma “morte súbita” ou um “ataque cardíaco”, saiba que pesquisas apontam que a chance de a pessoa ter problemas vasculares é muito maior em quem adquire a Covid-19 do que em quem se vacina. Ou seja: como aponta a própria Anvisa, os benefícios da vacinação são muito maiores do que os riscos.
Agora, em 2023, temos mais elementos para apontar que, além de as vacinas não causarem morte súbita e infarto, os dados da realidade mostram que a decisão de se vacinar (felizmente, decisão da maioria) foi a melhor que foi tomada em relação à pandemia.
Em março (pouco tempo depois de o Boatos.org ter feito uma nota rememorando a checagem de 2021), a Anvisa fez uma nota contextualizando a situação. Dois pontos são importantes para entendermos porque se vacinar é a melhor decisão.
O primeiro é em relação aos números. A própria Anvisa apontou que, após a administração de 501 milhões de doses de vacinas, houve 154 relatos de miocardite. Isso resulta em 0,031 casos a cada 100 mil pessoas. Sabe quantas pessoas morreram? Zero! Sim, vou repetir: zero!
A título de comparação, estudos apontam que a taxa de miocardite relacionada à Covid-19 é de 3 por 100 casos. Ou seja: se o seu medo é não ter miocardite, deveria evitar ter a Covid-19 de forma grave. Sabe como é possível? Com vacinação!
O segundo está na nota de 2021 da própria Anvisa. Os “desinfluenciadores” não falaram nada sobre isso, mas veja o que está escrito: “A Anvisa ressalta que mantém a recomendação de continuidade da vacinação com a vacina da Pfizer, dentro das indicações descritas em bula, uma vez que, até o momento, os benefícios superam os riscos”.
Resumindo: a nota de 2021 da Anvisa (que deveria ser abordada com outro título, por exemplo, sem a palavra “alerta”) não justifica a decisão de não se vacinar. As mensagens que estão circulando tentam justificar o negacionismo malsucedido durante a pandemia.
Ps: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99458-8494.
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