Boato – Covid-19 não é um problema respiratório e pode ser curada com a combinação de aspirina, suco de limão e mel. É o fim da pandemia do coronavírus.
A automedicação é uma prática bastante antiga. Basta os primeiros sintomas começarem a aparecer para muita gente buscar aquele remedinho tiro e queda que faz o desconforto passar. Mas além da automedicação não ser recomendada, ela também é bastante perigosa.
No caso de antibióticos, por exemplo, a automedicação além de não curar a infecção, também pode contribuir para o aumento da resistência do microorganismo. O perigo também reside na combinação de medicamentos, que podem desencadear efeitos colaterais graves ou até a anulação do efeito de um ou de ambos os remédios.
Apesar disso, em meio à pandemia da Covid-19, muitas pessoas ainda insistem em compartilhar “dicas” de medicamentos que poderia tratar a doença. Na história de hoje, por exemplo, pessoas estão afirmando que a Covid-19 não é um problema respiratório, mas sim cardiológico. A partir disso, estão recomendando o uso de aspirina com limão e mel. De acordo com as mensagens, esse seria um anticoagulante natural. Toda a história está sendo relacionada com supostos estudos do uso de anticoagulantes no Brasil. Confira:
Vídeo: Atenção! Cuidado com promessas de curas milagrosas da Covid-19
Versão 1: “Covid-19. Descoberta a cura. O problema não é respiratório e sim cardiologico. Descoberto por autópsias por médicos italianos. Trata-se com anticoagulantes. — caseiro: aspirina dissolvida em suco de limão feridas com mel. Tomar quente”. Versão 2: “Fim do Coronavirus! Tratamento é descoberto no Brasil. 22/04/20”. Versão 3: “Coronavirus tem cura! Nascendo uma luz no fim do túnel”.
Aspirina, suco de limão e mel curam a Covid-19 e decretam o fim do coronavírus?
A informação foi recebida com esperança por quem aguarda um tratamento eficaz da doença. Mas será que essa história de que a combinação de aspirina, limão e mel realmente cura a Covid-19? Não é.
Vamos aos fatos! A publicação levantou suspeitas logo de cara. A mensagem apresenta diversas de características de boatos online, como o caráter vago, alarmista, os erros de português e não cita fontes confiáveis.
A pesquisa sobre o uso do anticoagulante, de fato, parece promissora. Porém, ainda é muito cedo para dizer mais alguma coisa. Além disso, isso por si só não é justificativa para sair recomendando o uso de aspirina, limão e mel e, muito menos, afirmar que a mistura cura a Covid-19.
O texto usado como base para a criação dessa história é uma publicação que já foi desmentida aqui no Boatos.org. A mensagem em questão dizia que a Covid-19 não causava pneumonia, mas sim trombose.
Como já explicamos no outro texto, todas as autoridades de saúde classificam a Covid-19 como uma doença infecciosa com sintomas de doenças respiratórias. Não há, até o momento, a classificação da doença como problema circulatório. No desmentido do Boatos.org, também é possível ver que o virologista italiano Roberto Bironi também desmentiu a informação, explicando que a história não identifica os profissionais citados na publicação e ainda não há estudos publicados sobre a Covid-19 ser uma doença circulatória.
Além de tudo isso, a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) já deixou claro que a palavra cura ainda não pode ser empregada no contexto da Covid-19. Isso porque ainda existem questões sem respostas sobre a doença, como a transmissão do vírus e a recontaminação de infectados que se recuperaram.
Vale destacar que essa história de misturar ingrediente X com Y para curar a Covid-19 é bem antiga. Como já dissemos em outros textos, o limão e o mel têm boas propriedades e até podem ser ótimos para aliviar os sintomas da gripe. Porém, não existe qualquer estudo que comprove a eficácia dos dois alimentos no combate à Covid-19. É importante ressaltar que não há notícias de que alguém tenha se curado com essa combinação.
E apesar do tratamento experimental realizado no Hospital Sírio Libanês com anticoagulantes ter trazido bons resultados, ainda é cedo para sair afirmando por aí que ele é a cura ou um tratamento viável contra a Covid-19. Em outros desmentidos, já explicamos que a pesquisa científica passa por todo um processo bastante rígido para ser considerada válida. Uma das etapas consiste na chamada revisão por pares, quando o pesquisador elabora um artigo detalhando as descobertas do experimento. Para ser publicado em uma revista científica (e ter validade perante à comunidade científica), o artigo precisa ser revisado por outros cientistas que vão dizer se a pesquisa seguiu a metodologia corretamente e possui análises importantes.
O estudo sobre o uso de anticoagulantes no Hospital Sírio Libanês resultou, até o momento, em um pre-print (uma pré-publicação que não foi publicada em uma revista científica e nem revisada por pares). De acordo com os dados dos pesquisadores, ainda não se sabe porquê as pessoas infectadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) têm maior chance de desenvolverem coágulos no sangue.
Entre fevereiro e março de 2020, o Journal of Thrombosis and Hemosthasis publicou quatro artigos sobre a relação entre a Covid-19 e a trombose. O fato é que ela ainda não é totalmente compreendida. Segundo a pneumologista Elnara Marcia Negri, do Hospital Sírio Libanês, em SP, quando o SARS-CoV-2 entra no corpo humano, ele agride os brônquios e os alvéolos, deixando suas membranas expostas, como se fosse um machucado. O corpo entende que precisa estancar a lesão, ativando o sistema imune. Essa resposta em massa estimula a coagulação.
Os cientistas informaram também que o uso do anticoagulante está sendo feito apenas em pacientes com quadros graves de insuficiência respiratória. O experimento realizado no Hospital Sírio Libanês mostrou que o medicamento conseguiu desfazer os coágulos presentes no pulmão e no restante do corpo. Porém, os próprios pesquisadores destacaram que ainda são necessários mais testes e que cada caso deve ser avaliado antes de se ministrar a droga.
Por fim, é importante lembrar que a automedicação é perigosa. Nos Estados Unidos, por exemplo, um homem morreu e uma mulher precisou ser hospitalizada após tomarem cloroquina por conta própria. Em relação à aspirina, bastante recomendada para casos de dor e febre, a overdose do medicamento muitas vezes acontece de forma acidental. O uso abusivo pode levar ao choque cardiovascular, insuficiência respiratória, hemorragia, úlceras e sangramentos intestinais. Em alguns casos, como dengue, o medicamento é contra-indicado e, nessas situações, o uso da droga pode levar ao óbito. Cerca de 8 mil pessoas morrem anualmente por conta do uso indiscriminado de aspirina nos Estados Unidos e Canadá.
Em resumo: a história que diz que aspirina, limão e mel podem curar a Covid-19 é falsa! A história parte de um caso já desmentido aqui no Boatos.org que dizia que o coronavírus não causava pneumonia, mas sim trombose. Nem a aspirina, nem o limão e muito menos o mel podem curar a doença. E a automedicação com aspirina, além de errado, também pode levar à morte. Ou seja, a história não passa de balela.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164.
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