Boato – Médico que assinou o atestado de óbito de idoso de 81 anos admitiu que colocou a morte como suspeita de Covid-19 para que o hospital ganhe R$ 18.000 do governo. Vídeo mostra tudo.
Infelizmente, o Brasil rompeu marcas negativas em relação ao coronavírus na última semana: mais de 1 milhão de casos confirmados e 50 mil mortes. Em meio a esses números estarrecedores (e, diga-se de passagem, subnotificados), ainda existem negacionistas que insistem na tese de “gripezinha”.
Algumas dessas pessoas estão compartilhando um vídeo em que um homem, em “tom indignado”, diz que recebeu um atestado de óbito de um senhor chamado Henrique José Pena, de 81 anos, com a descrição “suspeita de Covid-19” e que, em seguida, resolveu pedir para o médico para “tirar a suspeita” já que, de acordo com o sujeito, o senhor Henrique teria “morrido de infarto”. Aí, o médico teria dito que colocou “suspeita de Covid-19” para que o hospital recebesse R$ 18 mil.
Junto ao vídeo, há mensagens em tom de denúncia que apontam que o relato do médico e o atestado de óbito seriam a prova de que os hospitais “recebem” R$ 18 mil por atestado de óbito com suspeita da Covid-19. Leia a mensagem que circula online e assista ao vídeo:
Versão 1: Você sabia que toda vez que colocam suspeita de Covid19 no atestado de óbito, o hospital ganha R$ 18.000,00 reais? Entendem agora o número altíssimo de mortes por Covid19? Versão 2: Médico que assina um atestado de óbito! Que o falecido não morreu de COVID-19 e um covarde!! Tu vai prestar conta diante de Deus! Muitas famílias não pode velar seus entes queridos por causa dessas mentiras! Coloca a vítima de outra causa dentro do saco lacra o caixão! E pronto não tem direito de ver o rosto da pessoa e dar o último adeus. Vc médico que compactua com isso, vc é um covarde..
Transcrição: Olha isso aqui ó se tem um cara que morreu senhor de idade Henrique José Pena 81 anos ele infartou dormindo certo aí que tá causa causa morte do cara um bando de causa Mortis tudo será que o cara tinha tira o final f************ do médico colocou ele corrige aí a família tinha que ir na casa colocar o cara no saco e o direto para o cemitério sem ter velório internada Aí eu mandei devolver esse aqui para o médico para refazer e tirar suspeita de covid porque mentir isso aqui ele morreu infartou senhor de idade o médico falou que não tem como porque tem esse documento aqui ó que não pode fazer outro acabou aí depois eu conversei com o médico na boa ele me falou aqui toda vez que tem covid o hospital ganha r$ 18000 Então esse é o Brasil isso é política acabou chega essas palhaçada cara vamos se tratar
Médico disse que atestado de óbito com suspeita de Covid-19 rende R$ 18.000 para o hospital?
A mensagem e, principalmente, o vídeo, causaram muito impacto na internet (principalmente em quem acredita que há uma “supervalorização” da Covid-19). Mas será mesmo que o médico que assinou o atestado de óbito do senhor Henrique José Pena admitiu que hospitais ganham R$ 18.000 por caso suspeito de coronavírus? Não, não admitiu.
Como sempre, a mensagem em questão e o histórico desse tipo de boato já nos chama atenção. Isso porque o texto em questão tem características de boatos online como ser vago, alarmista, com erros de português e não cita fontes confiáveis que comprovem a denúncia.
Para além disso, esse tipo de boato de “fulano que morreu de outra coisa, mas foi notificado como coronavírus” tem sido uma constante. Só para citar alguns exemplos esdrúxulos que tivemos que desmentir: 1) O caso do borracheiro que “morreu com estouro do pneu do caminhão”. 2) O caso dos caixões vazios em Manaus. 3) O caso dos estados que ganhavam R$ 12 mil (ou R$ 16 mil) por morte confirmada de Covid-19… opa, notou uma semelhança com o caso de hoje?
Pois é. Toda a tese do senhor indignado que fez a narração no vídeo se baseia em uma tese falsa já desmentida no Boatos.org: de que o governo federal paga para os estados por “morte por Covid-19”. Na época, explicamos que toda a denúncia estava baseada em fontes não confiáveis e que não havia qualquer “regra” de repasse orçamentário do Ministério da Saúde para os estados que prevê número de mortes vezes valor fixo.
Também na época, outros sites de fact-checking como o Aos Fatos, Fato ou Fake e Agência Lupa confirmaram que se trata de uma denúncia falsa. A informação foi, inclusive, negada pelo Ministério da Saúde e governo de São Paulo (no caso da checagem da Lupa).
Com todo esse histórico, começamos a analisar o vídeo em questão. Não demorou muito para percebermos que o sujeito do vídeo contradiz o próprio atestado de óbito que ele apresenta. Vamos ao jogo dos “três erros” que derrubam a tese.
A primeira coisa que nos chamou atenção foi o sotaque do sujeito, que se assemelha ao sotaque de cidades do Paraná ou interior de São Paulo (quiçá Mato Grosso do Sul ou interior de Santa Catarina). Só que o atestado de óbito é referente a um caso de um morador da cidade de Ipê, interior do Rio Grande do Sul (estado que tem um sotaque bem característico). Estranho, né?
Quem está fazendo o “advogado do diabo” pode falar: “Ué, mas o sujeito pode estar morando a pouco tempo em Ipê ou na região”. Pode, de fato. Mas o que você me diz do segundo furo, em que o sujeito fala no vídeo que a família tem que botar o corpo do falecido num saco? Vamos convir que isso é muito estranho, visto que é preciso muito cuidado com o manuseio de corpos em óbitos por suspeita de Covid-19. Será que iriam deixar a família colocar o “corpo em um saco”.
É claro que a pessoa que faz o “advogado do diabo” pode falar que o sujeito “se expressou mal” ou que “os médicos fazem isso porque “sabem que não é caso de Covid-19”. Seria uma resposta bem fraquinha, mas a coisa não para por aí. Agora que temos o “grande furo”.
O sujeito do vídeo fala claramente que, após a assinatura do atestado de óbito, procurou O MÉDICO responsável e ouviu DO MÉDICO responsável que ele teria que colocar suspeita de Covid-19 por que o hospital recebe R$ 18.000 por morte. Só tem um detalhe, o atestado de óbito não é assinado por UM MÉDICO. Ele é assinado por UMA MÉDICA.
O vídeo mostra claramente o CRM da pessoa responsável pela assinatura. A partir do número 15905 e o estado do Rio Grande do Sul, chegamos ao nome da médica Heloisa Joanette Dossin. Se olharmos com atenção, o último nome da assinatura (Dossin) bate com o que está escrito na filmagem. Então eu lhe pergunto: como que o homem disse que conversou e ouviu a denúncia “do médico que assinou o atestado de óbito em questão” se ele foi assinado por uma mulher? É, para essa questão, não há resposta.
Resumindo: a história que aponta que o médico que assinou o atestado de óbito do senhor Henrique José Pena disse que os hospitais ganham R$ 18.000 por atestado de óbito com Covid-19 é falsa. Toda história cai quando descobrimos que a pessoa que assinou o atestado é uma mulher.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164.
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