Boato – Denúncia dá conta que médica que trabalha no posto de saúde de Ceilândia (DF) teria sido mandada para Cuba para realizar um aborto. Isso seria feito para que ela evitasse ter um filho brasileiro.
Em ano de eleição, as polêmicas envolvendo o poder público tendem a se intensificar na internet. E grande parte dessas críticas, no Brasil, envolvem o Programa Mais Médicos do governo federal. Um dos espaços mais críticos ao programa é um blog que “denuncia” erros médicos de cubanos. E é justamente dele que vem uma denúncia muito grave.
De acordo com o texto do blog, que seria de Médicos Peritos do INSS, e que pode ser lido neste link, o governo brasileiro estaria obrigando médicas cubanas que engravidassem no país a realizar abortos em Cuba. Pelo o que conta o texto, três cubanas já teria sido obrigadas a fazer o procedimento.
O texto conta a história de uma médica que trabalha na cidade de Ceilândia (DF) e que teria sido “devolvida” como mercadoria a um dos 12 postos de saúde da cidade. Além disso, ela ficou sem receber salários por dois meses. Ainda por cima, ela “provava” que não era médica ao receitar apenas chás e ervas nas consultas no posto de saúde.
Após ser publicados no blog, o texto circulou a internet por meio de outros endereços e viralizou nas redes sociais. Mas será verdadeira a história desta médica cubana? Ao que tudo indica, é uma história, no mínimo, suspeita.
Vamos ao que é fato no texto. De acordo com a Opas, os médicos cubanos realmente não recebem o salário integral do governo de Cuba. Porém, o valor do salário é US$ 1.000. Isso gera polêmica e, inclusive, já fez médicos cubanos abandonarem o Mais Médicos.
Agora, em relação ao texto. Não há argumentos consistentes que comprovem que a história é verdade. Primeiramente, a foto utilizada não é da médica. A imagem é encontrada na web como ilustrativa de “abortos de adolescentes”.
Além disso, a não identificação da médica enfraquece os argumentos. Está escrito “identidade proibida”. Mas se haveria risco em divulgar a pessoa, por que falaram o posto em que ela trabalha? Será que há tantos cubanos em Ceilândia (DF) que ela estaria protegida?
Tentamos encontrar mais algum registro da denúncia em um site “mais confiável” (cita-se imprensa), mas não encontramos nada. Será que a tal médica cubana acuada iria procurar um blog e não um jornal ou uma TV para falar do caso. E se ela tivesse medo, será que um dos colegas “transtornados” não faria isso?
Por fim, mais três questões: se a médica receita tudo “com chás e ervas” por que ainda não foi feita uma denúncia de paciente contra ela? E por que razão o governo brasileiro “mandaria” ela para Cuba abortar. Se o problema fosse o filho no Brasil, não seria mais simples desligá-la do programa? E se foram três cubanas que abortaram a mando do governo, cadê as outras duas?
Com a falta de provas mais consistentes (documentos, testemunhos, identificações etc) e informações no texto, chegamos a conclusão de que tudo não passa de uma denúncia sem comprovação nenhuma. Ou seja, até que se tenha mais dados, tudo não passa de um boato.