Boato – Dados mostram que Brasil é o país com o maior número de recuperados da Covid-19 por causa do protocolo da cloroquina.
Ao longo da pandemia da Covid-19, diversos medicamentos foram alvo de pesquisas que buscavam descobrir um tratamento viável e até mesmo uma cura para a doença. Assim como já era esperado por cientistas, a maior parte dos medicamentos foi descartado por não apresentar resultados satisfatórios.
Uma das medicações mais comentadas nesse percurso foi a cloroquina ou a hidroxicloroquina, especialmente, porque receberam apoio do presidente dos Estados Unidos Donald Trump e do Brasil Jair Bolsonaro.
E quando a gente achava que essa história já estava morta e enterrada, eis que ela ressurge. Nos últimos dias, uma publicação que indicava que o Brasil seria o país com o maior número de recuperados da Covid-19 no mundo ganhou as redes sociais. Segundo o texto, isso teria acontecido única e exclusivamente por conta do tratamento com a cloroquina. Ainda de acordo com a publicação, os dados que mostram a evolução seriam da Universidade “Johns Hopkings”. Confira:
“URGENTE: Após protocolo da Cloroquina, Brasil ultrapassa os EUA e assume o primeiro lugar no mundo em número de curados da COVID-19 com 660 mil curados contra 556 mil dos EUA. Os dados são da Universidade Jonhs Hopkings. Globo, Folha e Antagonista vão tentar esconder. Compartilhe”.
Brasil tem o maior número de recuperados de Covid-19 por causa da cloroquina?
A informação, claro, novamente viralizou nas redes sociais e causou alvoroço. Mas será que essa história de que o Brasil seria o país com o maior número de recuperados da Covid-19 por causa da cloroquina é real? A resposta é não!
Vamos aos fatos! É fato que, de acordo com a Universidade John Hopkins, o Brasil é o país com o maior número de recuperados da Covid-19 no mundo. Porém, é necessário cautela. Nem isso significa uma grande vitória, muito menos que a situação tenha relação com o uso da cloroquina.
O conceito de “número absoluto de recuperados” é importante. Entretanto, esse número não é, de longe, o mais importante para analisarmos se um país está agindo bem no combate à Covid-19. E a explicação é bastante lógica: se um país tem um grande número de recuperados, isso significa que o número de pessoas infectadas é igualmente alto. Logo, entendemos que a doença não está controlada na região. Nesse sentido, ter um baixo número de casos, com uma taxa de letalidade também baixa, é um índice mais relevante para analisar se um país está conseguindo combater a doença. Vale ressaltar que um número baixo de pessoas infectadas, mas com alta taxa de letalidade, pode indicar subnotificação de casos. Ou seja, também não é uma situação boa.
E apesar dos dados da Universidade John Hopkins colocarem o Brasil no topo da lista de recuperados, ainda é preciso levar em consideração outros detalhes para a interpretação dos dados. O conceito de recuperados usado pelo Ministério da Saúde segue aquele preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesse caso, é considerada recuperada aquela pessoa que apresentou dois testes negativos para SARS-CoV-2, com ao menos um dia de diferença, em casos graves. Já a pessoa com quadro leve é considerada recuperada se não apresentar mais sintomas depois de 14 dias do aparecimento do primeiro sintoma. Ou seja, é difícil mapear se a pessoa realmente se curou nos casos leves. Isso sem falar nos casos assintomáticos.
Nesse sentido, nos Estados Unidos, por exemplo, temos 1,3 milhão de casos e 70 mil mortes a mais do que no Brasil. Além disso, nas últimas semanas, os Estados Unidos tiveram cerca de 100 mil casos a mais. Seguindo essa lógica (e também o fato do número de internações por Covid-19 ser pequena e o número de pessoas infectadas procurarem menos o serviço de saúde nos Estados Unidos, que é privado), é bastante difícil que os números reais coloquem o Brasil em primeiro lugar no item recuperados. A própria Secretaria de Comunicação admite que o Brasil é o segundo país em números de recuperados.
Se isso não fosse suficiente, o grande número de recuperados no Brasil e nos Estados Unidos nada tem a ver com a cloroquina. Primeiro, porque não há comprovação científica de que a substância cure a Covid-19. Exemplo disso é que as pesquisas sobre o medicamento relacionadas com a doença foram abandonadas por resultados insatisfatórios. Segundo, porque a recuperação sem medicação alguma, felizmente, ainda é o que acontece na maior parte dos casos. É importante destacar aqui que essa constatação não faz da Covid-19 uma doença simples, isso porque ainda não temos uma proteção efetiva contra o novo coronavírus, que é bastante contagioso.
Por fim, o Projeto Comprova já desmentiu toda essa história. De acordo com o projeto, os dados usados são antigos. Segundo a matéria, no mesmo período, a taxa de recuperação na Alemanha foi de 89%, contra pouco mais de 40% do Brasil.
Em resumo: a história que diz que o Brasil tem o maior número de recuperados da Covid-19 por causa da cloroquina é falsa! Os dados são antigos, antes mesmo do Brasil atingir 500 mil casos de infectados. Além disso, a recuperação nada tem a ver com o uso da cloroquina. A maior parte dos casos se recupera de forma espontânea e pesquisas já mostraram que o uso da cloroquina não têm resultados satisfatórios. Ou seja, a história não faz o menor sentido e não passa de balela. Não compartilhe!
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