Boato – Carvativir (gotas milagrosas) é a cura para a Covid-19 e isso já foi comprovado cientificamente na Venezuela.
Em uma semana onde todos os países do mundo estão envolvidos em discussões sobre a aquisição das vacinas contra a Covid-19, a Venezuela decidiu andar na contramão.
No dia 25 de janeiro de 2021, o presidente venezuelano Nicolás Maduro anunciou “gotas milagrosas 100% eficazes” contra a Covid-19. Em seu pronunciamento, o presidente afirmou que o remédio seria capaz de neutralizar a doença.
Com o anúncio, diversas publicações começaram a pipocar nas redes sociais. De acordo com as mensagens que estão circulando nas redes sociais, o “ditador” Nicolás Maduro teria apresentado o medicamento Carvativir (um óleo essencial com base em tomilho) como a cura para a Covid-19. Confira:
Versão 1: “”CARVATIVIR” (GOTAS MILAGROSAS). A “CLOROQUINA” DO DITADOR MADURO. PARA COMBATER A COVID-19. ESSA “ONDA” EU JÁ VI…”. Versão 2: “Nicolas apresenta o Carvativir , a cura – se gundo ele -, para o Covid 19!”.
Carvativir são gotas milagrosas com 100% de cura da Covid-19?
A informação, é claro, atingiu em cheio os defensores da cloroquina e outras substâncias pintadas como tratamento eficaz contra a Covid-19. Apesar disso, a história não passa de balela.
Apesar da enorme euforia de algumas pessoas, é bom segurar a emoção. Ao longo da pandemia, tivemos diversos medicamentos “comprados por políticos” (no sentido figurativo e também literal) que não deram certo. Foi o caso da cloroquina e hidroxicloroquina, da ivermectina, da nitazoxanida e do remdesivir.
Assim como já explicamos aqui, só podemos falar em cura depois de um extenso estudo científico validado por pares. Na academia, a pesquisa científica começa com uma pergunta e uma hipótese. Após ter uma boa bagagem de leituras e conhecimento sobre o assunto, o cientista vai realizar os experimentos. No caso de estudos sobre a eficácia de um determinado medicamento, ele precisa passar por testes em laboratório (in vitro) e, caso apresente bons resultados, ainda precisa enfrentar diversos testes clínicos envolvendo a participação de pessoas (in vivo). Após a conclusão desses testes, os cientistas conseguem avaliar a segurança e a eficácia do medicamento. Mas o processo não para por aí. Para os resultados serem validados, os cientistas ainda precisam preparar um artigo científico onde vão descrever todo o procedimento do estudo e os resultados encontrados. Com o artigo pronto, eles precisam submeter o trabalho a uma revista científica, onde ele será revisado por outros cientistas que vão atestar se existe algum erro no percurso ou se os resultados estão corretos. Além disso, os pesquisadores ainda precisam submeter os resultados às agências reguladoras, que vão dar a palavra final sobre o uso do medicamento.
E, bem, apesar do comunicado efusivo do presidente Nicolás Maduro, acabamos de ver que é preciso mais do que isso para apresentar um remédio como cura para alguma doença. Depois da fala de Maduro ter repercutido, a própria Academia Nacional de Medicina da Venezuela se pronunciou e disse que, apesar dos bons resultados, ainda são necessárias mais provas sobre o potencial da substância para poder afirmar que ela consegue combater a Covid-19.
Além disso, na nota da Academia Nacional de Medicina da Venezuela, não há resultados de estudos clínicos e muito menos dados publicados sobre a pesquisa. Ou seja, a instituição até cita resultados preliminares, mas eles sequer são disponibilizados para outros cientistas poderem avaliar a qualidade e consistência dos dados.
É importante ressaltar que, se tratando de informação, a Venezuela é um país um tanto quanto complicado. Isto é, fica difícil saber mais sobre o assunto e até mesmo ver contestações internas sobre os estudos.
No final das contas, o próprio presidente Nicolás Maduro se corrigiu e voltou atrás. Em um novo pronunciamento, no dia 27 de janeiro de 2021, Maduro afirmou que a substância se trata de um produto complementar para a cura da Covid-19 (e não o único responsável). O presidente da Venezuela também abandonou o discurso de “gotas milagrosas”.
Em resumo: a história que diz que a substância Carvativir é a cura para a Covid-19 é falsa! Apesar do pronunciamento do presidente da Venezuela Nicolás Maduro, a realidade é que nenhum estudo ou resultado sobre a substância foram divulgados. Além disso, a Academia Nacional de Medicina da Venezuela pediu calma e disse que mais estudos são necessários para atestar o potencial de tratamento do Carvativir e o próprio Nicolás Maduro voltou atrás e disse que a substância poderia ser um produto complementar na cura da Covid-19. Se isso não bastasse, já vimos que, sem resultados e provas concretas de estudos clínicos, um medicamento não pode ter sua eficácia atestada. Ou seja, por enquanto, o que temos é mais uma promessa e outro enorme boato.
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