Boato – Em lista, CDC aponta locais onde há maior e menor risco de contaminação pelo coronavírus e ensina cálculo para avaliar os riscos.
Enquanto a pandemia do novo coronavírus percorre o mundo, as dúvidas sobre como ocorre a disseminação do vírus e quais as melhores formas de prevenção aumentam. Em meio às incertezas, a desinformação sobre o assunto gera uma falsa sensação de segurança.
Depois de vacina, cura milagrosa e famosos infectados e testes contaminados, circula pelo Facebook e Whatsapp informações sobre os riscos de contágio pelo coronavírus. O texto, atribuído ao Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), indica ainda a carga viral necessária para o início da doença e um cálculo para avaliar os riscos de transmissão. Leia o que diz a mensagem:
Confira o desmentido no vídeo
O Center for Disease Control do governo dos EUA oficializou as evidências científicas emergentes sobre a transmissão do coronavírus: 1. Risco muito baixo de transmissão a partir de superfícies. 2. Risco muito baixo de atividades ao ar livre. 3. Risco muito alto de reuniões em espaços fechados, como escritórios, locais para cultos religiosos, salas de cinema ou teatros.
Outros dados interessantes, a carga viral necessária para iniciar a doença é ~ 1000 partículas virais (vp): 1. Respiração: ~ 20 vp / minuto 2. Fala: ~ 200 vp / minuto 3. Tosse: ~ 200 milhões de vp (o suficiente pode permanecer no ar por horas em um ambiente mal ventilado) 4. Espirro: ~ 200 milhões vp 5. Estar próximo de alguém (com ~ 2m de distância): baixo risco se o limite for inferior a 45 minutos 6. Conversando com alguém frente a frente (com máscara): baixo risco se o limite for inferior a 4 minutos 7. Alguém passando por você andando / correndo / andando de bicicleta: baixo risco 8. Espaços bem ventilados, com distanciamento: baixo risco 9. Compras: risco médio (pode reduzir para baixo, limitando o tempo e seguindo a higiene) 10. Espaços internos: alto risco 11. Banheiros públicos / Áreas comuns: Alto risco de fômites / transferência de superfície 12. Restaurantes: alto risco (pode reduzir a médio risco sentando-se ao ar livre com distanciamento e percepção do toque na superfície) 13. Locais de trabalho / escolas (mesmo com distanciamento social): risco muito alto, incluindo alto risco de transferência de fômites 14. Festas / Casamentos: risco muito alto 15. Redes de negócios /conferências: risco muito alto 16. Arenas / Concertos / Cinemas: risco muito alto
Os fatores principais que você pode usar para calcular seu risco são: 1. interior vs exterior 2. espaços estreitos versus espaços amplos e ventilados 3. alta densidade de pessoas vs baixa densidade 4. exposição mais longa vs exposição breve
CDC lista locais em que há risco alto e baixo de infecção por coronavírus?
As dúvidas sobre o assunto fizeram com que muita gente compartilhasse a informação. Mas será mesmo que o CDC listou os locais em que há risco alto e baixo de infecção por coronavírus? A resposta é não. Entenda os porquês.
Nem precisa ser um especialista no assunto para desconfiar da história. Isso porque o histórico de boatos com dicas sobre o coronavírus não deixa à desejar. Por aqui, no Boatos.org, já apareceram dicas do Hospital John Hopkins, médicos chineses, governo de São Paulo, Departamento de Saúde do Canadá e até do próprio CDC. Em todas elas, há algo em comum: as informações não vieram da fonte citada.
Note que, ao contrário da maioria dos boatos, o texto chega até a dar um link fonte confiável. Em algumas versões, o texto acompanha este link, onde o CDC explica como acontece a propagação do vírus, e em outras, cita uma matéria do The Washington Post. Porém, em nenhum dos casos, há a lista de dicas descrita na publicação. Embora algumas informações, como a de que o contágio pela superfície não seja tão comum, esteja descrita na mensagem, nem todas as dicas são recomendadas pelo órgão.
Pois bem, no link do CDC, o órgão explica como o vírus se espalha. No texto, a agência afirma que o vírus é transmitido principalmente de pessoa para pessoa e que também é possível a contaminação por meio de superfícies e objetos contaminados, mas que não se acredita que esta seja a principal forma de transmissão do vírus. A matéria do The Washington Post endossa as orientações da agência e fala sobre os riscos de contaminação por meio do contato próximo entre as pessoas. Mas, como já explicamos anteriormente, não cita a carga viral da doença e tampouco ensina cálculos para avaliar os riscos de contaminação.
Ao buscarmos pela fórmula matemática das partículas do vírus, encontramos um artigo acadêmico. Nele, o pesquisador aponta para as fórmulas, mas não fala sobre o tempo de exposição do vírus. Apesar do artigo apresentar dados e referências de outros pesquisadores, a pesquisa não é endossada pelo CDC (pelo menos, não até o momento). Bom, a partir daí, temos uma tese: alguém leu as orientações do CDC, o artigo e criou um texto. Não sabemos quem, mas sabemos que não foi o CDC.
Ainda que as informações sobre a contaminação por meio de superfícies e objetos contaminados estejam, de fato, baseadas em fontes confiáveis – neste caso, o próprio CDC e o artigo acadêmico – há uma boa dose de chance da história gerar uma falsa sensação de segurança e proteção. E é preciso ter muito cuidado com essa sensação.
Primeiro porque a Covid-19 é uma doença nova e ainda estamos aprendendo sobre como o vírus se comporta. E, além disso, há diversos especialistas que defendem que mesmo em ambientes abertos e em superfícies contaminadas é possível contrair o vírus. Inclusive, o próprio CDC diz isso, ao recomendar o distanciamento social e a limpeza de superfícies. Neste caso, é melhor pecar pelo zelo que pela omissão.
Resumindo: independente do teor das dicas, o fato é que o CDC não escreveu o texto em questão. Na verdade, alguém se baseou em diversas fontes, criou um texto e atribuiu ao órgão. Por aqui, a receita continua sendo a mesma: manter o distanciamento social, a higiene das mãos e usar máscaras de proteção.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164.
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