Boato – Por não ter recomendado a ivermectina para a população da Índia, Soumya Swaminathan, da OMS, pode ser condenada com pena de morte.
Há alguns dias, o Boatos.org desmentiu uma história falsa que apontava que o governo da Índia havia resolvido “processar a OMS” por não recomendar a ivermectina (remédio sem eficácia comprovada contra a Covid-19) para tratamento da doença.
Apontamos no texto que, na realidade, tratava-se de uma ação de uma associação que já defendeu, por exemplo, um processo contra a China por “criar a Covid-19”, que nada tinha a ver com o governo do país e que era direcionado a uma pessoa em especial: Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS.
Como explicamos no texto (e relembraremos na segunda parte deste artigo), tratava-se de um processo absurdo. Mesmo assim, outra história (um tanto quanto ameaçadora) começou a circular na internet: de que o processo contra Soumya Swaminathan poderia resultar em “pena de morte” por não recomendar ivermectina. Leia uma das mensagens que circulam online:
Em 25 de maio, a Indian Bar Association (IBA) abriu um processo contra a Dra. Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS, acusando-a de causar a morte de cidadãos indianos ao enganá-los sobre a ivermectina. A cientista da OMS é acusada de fazer um tweet enganoso em 10 de maio de 2021 contra o uso de ivermectina, que resultou na remoção do medicamento do protocolo pelo estado de Tamil Nadu no dia seguinte. Ele tinha acabado de declarar esse tratamento eficaz contra a Covid-19. Se a Dra. Soumya Swaminathan for considerada culpada, ela poderá ser condenada à morte ou à prisão perpétua.
Cientista da OMS vai ser condenada à morte por não recomendar ivermectina?
O que não faltou foi gente falando que a cientista da OMS iria ser condenada à morte. Porém, as chances de Soumya Swaminathan sofrer a pena capital (ou qualquer pena) por não recomendar a ivermectina é, por assim dizer, iguais a Vladimir Zelenko ganhar o Nobel da Paz ou Trump ter perdido as eleições dos EUA de propósito para mostra uma “grande fraude”. Ou seja: zero.
Como adiantamos no início do texto, a história de hoje é uma evolução de um boato que já foi desmentido aqui. É fato que uma associação de advogados resolveu “processar a cientista-chefe da OMS” por “não recomendar ivermectina” para tratamento da Covid-19. Só que entre a ação de “processar” e ela ser condenada há um oceano.
Primeiro, porque como aponta a própria mídia indiana, o pedido de processo se baseia em “pesquisas científicas contestadas”. Como já falamos diversas vezes (e vamos repetir outras diversas), não há comprovação científica de que a ivermectina seja eficaz no combate à Covid-19. Não é só a OMS aponta para isso. Estudos muito mais confiáveis do que os que se baseiam negacionistas também apontam para a ineficácia do fármaco no combate à Covid-19.
Ou seja: antes de condenar a cientista-chefe da OMS seria preciso comprovar (e convencer a justiça da Índia) que a ivermectina cura a Covid-19 (o que, salvo uma grande reviravolta, não ocorrerá). Vale apontar que, mesmo passasse a ser provado que a ivermectina cure a Covid-19, seria muito difícil condenar a cientista-chefe da OMS (muito mais difícil condenar à morte). Isso porque no momento do tuíte não havia provas da eficácia do fármaco (algo que continua valendo até hoje).
Na realidade, essas “ações na Justiça” ou campanhas (como Zelenko para o Nobel da Paz) têm mais um valor político (de fazer pressão e dar conteúdo para perfis defensores da ivermectina) do prático. Não precisa ser um gênio para perceber que o tal processo não dará em nada.
Resumindo: é falso (como sugerem algumas publicações) que Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS pode ser condenada a morte por não recomendar ivermectina. Para ela ser condenada, seria preciso existir um crime. E, no caso, recomendar que não se use remédios sem eficácia no meio de uma pandemia, não configura crime. Já o contrário… (não é, Brasil?).
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99458-8494.
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