Boato – Dra. Natalia Pasternak, médica da Globo, é falsa bióloga, mentiu em currículo e é contra todos os tratamentos e testes da Covid-19.
Bastante conhecido entre os pesquisadores e os profissionais que decidem seguir carreira acadêmica, o currículo Lattes caiu na boca no povo durante o governo Bolsonaro. E não, infelizmente, não foi por um bom motivo.
A plataforma, usada para mostrar a trajetória acadêmica de um profissional (como publicações, formação ou participações em eventos), acabou ficando conhecida por informações erradas de ministros e ex-ministros em seus currículos. E de acordo com uma história que está circulando nas redes sociais, parece que uma profissional que está bombando na mídia também possui inconsistências em seu currículo.
Segundo o vídeo que acompanha as publicações, a microbiologista Natalia Pasternak, uma das especialistas mais consultadas pela mídia sobre a Covid-19, teria mentido em seu currículo Lattes. De acordo com as imagens, ela se apresentaria como bióloga, mas não teria registro no Conselho Federal de Biologia (CFBio), o que a transformaria em uma falsa bióloga. Ainda segundo a publicação, Natalia seria contra todos os tipos de tratamento para a Covid-19, como a cloroquina e a ozonioterapia, e é a “garota propaganda da pandemia na Rede Globo”. Confira:
Versão 1: “A mídia suja sempre tentará emplacar charlatães. Conheça Natália Pasternak que fala em nome da ciência na Rebe Esgoto. E agora o currículo não importa? #GloboLixo”. Versão 2: “Vc sabe quem é Natália Pasternak? A falsa bióloga difusora de mentiras da Globolixo?”. Versão 3: “Escutem os Médicos, escutem os Cientistas… A mídia suja sempre tentará emplacar Charlatões!! Conheça Natália Pasternak, que fala em nome da Ciência na Rede Globo E agora o currículo não importa?”. Versão 4: “As redes sociais tem papel cada vez mais importante. Além de nos permitir acesso à informação de incontáveis fontes e opiniões, tem servido para desmascarar propagadores de notícias falsas de todos os portes… de uma comentarista metida a cientista até âncoras de televisão aberta”.
Dra. Natalia Pasternak mentiu no currículo e se apresenta de forma falsa como bióloga?
O vídeo fez bastante sucesso nas redes sociais, especialmente, no Facebook e Twitter, e viralizou entre os internautas que defendem tratamentos como da cloroquina e ivermectina para a doença. Apesar disso, a verdade é que ele não procede.
Para quem não conhece, Natalia Pasternak é um nome bastante conhecido no mundo da ciência. Formada em Ciências Biológicas, a pesquisadora se especializou na área de microbiologia, é um dos grandes nomes da divulgação científica brasileira e é presidente do Instituto Questão de Ciência. Ela já trabalhou como colunista de ciência no jornal O Globo e na revista Saúde. Natalia também já trabalhou como diretora da versão brasileira do maior festival de divulgação científica do mundo, o Pint of Science.
O vídeo que faz ataques à pesquisadora foi amplamente divulgado nos últimos dias, mas basta dar uma olhada no conteúdo para perceber as inconsistências. O vídeo, simplesmente, mostra o uso da cloroquina, da ivermectina e da ozonioterapia como tratamentos possíveis contra a Covid-19. Apesar da crença de quem produziu as imagens, essas supostas terapias não possuem embasamento científico e não são recomendadas por pesquisadores e profissionais da saúde. O Boatos.org já chegou a desmentir essas histórias aqui, aqui e aqui. Gravamos, inclusive, um vídeo alertando contra as falsas promessas de curas milagrosas para a doença.
Para esclarecer (de uma vez por todas) as dúvidas, entramos em contato com o Instituto Questão da Ciência (IQC). Por meio de entrevista, a instituição respondeu que a dra. Natalia Pasternak não é “contra os testes”. De acordo com o IQC, os apontamentos usados pela dra. Natalia Pasternak na mídia se baseiam em evidências científicas, dessa forma, seria impossível defender o uso de tratamentos que não possuem comprovação científica.
Além disso, o IQC destacou que a fala da pesquisadora sobre os testes foi retirada de contexto. Segundo a instituição, o vídeo completo mostra que a dra. Natalia Pasternak criticava os testes rápidos sorológicos comercializados em farmácias e usados para embasar decisões pessoais. Segundo a o IQC, a pesquisadora defende o uso desse tipo de teste apenas em estudos de vigilância epidemiológica, não para uma pessoa sem nenhum critério decidir se deve ou não entrar em contato com outras pessoas. Leia o que foi dito:
“O consenso científico mundial não certifica a eficiência de nenhum desses tratamentos para combater o novo coronavírus. Não há qualquer evidência científica de que eles funcionam para o tratamento da Covid-19. E, no caso da cloroquina, as evidências são de que pode, inclusive, ser prejudicial a alguns pacientes.
Com relação aos testes, vale ressaltar que o vídeo distorce completamente as falas de Natalia Pasternak sobre o assunto, pois tira do contexto suas críticas aos testes rápidos sorológicos comercializados em farmácias, colocando-a como contrária a todo tipo de técnica de diagnóstico.
Na verdade, Pasternak sempre defendeu os testes de RT-PCR. E, mesmo sobre os testes rápidos de anticorpos, entende e já declarou publicamente que devem ser utilizados em estudos de vigilância epidemiológica. Posiciona-se contra sua comercialização em farmácias e utilização para embasar decisões pessoais”.
Já em relação à “denúncia” de que a dra. Natalia Pasternak se apresenta como falsa bióloga, isso é, no mínimo, falta de informação de quem criou toda a história. Natalia Pasternak é formada em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo e, de fato, não possui registro no Conselho Federal de Biologia (CFBio). Entretanto, as atividades desenvolvidas pela pesquisadora não necessitam de registro no órgão responsável pela classe.
De acordo com o IQC, são consideradas atividades exclusivas do profissional registrado em conselho de biologia a execução de laudos ou pareceres periciais. Dessa forma, a dra. Natalia Pasternak não está cometendo exercício irregular da profissão, uma vez que as atividades de docência, pesquisa e divulgação científica não precisam de registro prévio em órgão regulador.
Natalia Pasternak é formada em Ciências Biológicas pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e PhD com pós-doutorado em Microbiologia, na área de Genética Molecular de Bactérias pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).
Não fez o registro no CFBio por opção, pois não há tal exigência para a realização dos relevantes trabalhos que desenvolve. A título de informação, é importante destacar que são atividades consideradas exclusivas do profissional registrado em conselho de biologia a execução de laudos ou pareceres periciais. Atividades de docência, pesquisa e divulgação científica não se qualificam como atividade exclusiva da profissão de biólogo. Exigir registro para essas atividades é uma afronta a liberdades individuais, especialmente às de expressão, acadêmica, científica e de associação.
Ainda segundo o IQC, as acusações podem ter partido de informações apresentadas na mídia. Segundo a instituição, alguns veículos de comunicação apresentaram a dra. Natalia Pasternak como “bióloga”. De acordo com o ICQ, a formação em bacharel em Ciências Biológicas permite (sim!) a apresentação de Natalia como bióloga em atividades de divulgação científica. Essa identificação, inclusive, segundo a instituição, serve para facilitar a compreensão da sociedade sobre a formação principal da pesquisadora.
É possível que tais “denúncias” tenham advindo do fato de alguns dos veículos de imprensa, aos quais Pasternak atendeu em entrevistas, a creditarem como “bióloga”. Quanto a este ponto, esclarecemos que, à parte dela se apresentar sempre como microbiologista (sua área de doutoramento), o seu grau de bacharel em Biologia permite sua apresentação como bióloga ao divulgar a ciência em tais programas jornalísticos. Como Pasternak é uma comunicadora da ciência, sua identificação como bióloga por tais veículos exerce, inclusive, papel facilitador para a população em geral compreender sua formação.
Vale ressaltar que a dra. Natalia Pasternak não mentiu em seu currículo, uma vez que ela não se apresenta como bióloga. Em seu currículo Lattes, é possível ver que Natalia se identifica como “formada em Ciências Biológicas”. Além disso, a pesquisadora se apresenta apenas como integrante dos grupos de pesquisa dos quais ela participa, não como coordenadora. De acordo o IQC, o vídeo usado para atacar a pesquisadora distorce as afirmações de Natalia na mídia. Além disso, o Instituto acredita que os ataques contra a pesquisadora, possivelmente, tem viés “anticientífico, ideológico e político-partidário”.
O vídeo foi claramente criado para desinformar. Embora, de fato, Pasternak seja contra o uso da cloroquina, da ivermectina e da ozonioterapia para tratamento da Covid-19, e da venda de testes rápidos em farmácias, conforme explicado anteriormente, o vídeo distorce as suas manifestações. Além disso, ela nunca mentiu sobre seu currículo, que é público e pode ser acessado por qualquer pessoa na plataforma Lattes. Ao criticar com propriedade as políticas públicas na área da saúde, tem sido alvo de reações anticientíficas, ideológicas e político-partidárias.
Em resumo: a história que diz que a dra. Natalia Pasternak, garota propaganda da pandemia na Globo, teria mentido em seu currículo e é uma falsa bióloga não procede! Além de a mensagem que circula online endossar tratamentos sem comprovação científica para a Covid-19 como a cloroquina, ivermectina e ozonioterapia, é falsa a acusação de a pesquisadora se apresenta falsamente como bióloga. Ou seja, a história não passa de balela! Até a próxima.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.
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