Boato – Se depender da taxa de letalidade da Covid-19 e da taxa de efeitos colaterais da vacina chinesa contra o coronavírus, tomar vacina é pior do que pegar a doença.
É triste ver que, na medida em que estamos nos aproximando de uma vacina contra a Covid-19, estamos vendo mais notícias falsas suscitadas por um movimento antivacinas. A última delas está em uma série de postagens em redes sociais que apontam que tomar a vacina chinesa (produzida pela Sinovac) seria pior do que pegar a Covid-19.
A base para a tese (que também foi compartilhada em alguns sites) seria de que a taxa de mortalidade seria de 0,3% enquanto a vacina Coronavac teria 5,35% de efeitos colaterais. Com isso, “5,35% da população” poderia morrer. No caso do Brasil, o número de mortes seria de 11,5 milhões. Leia duas mensagens que circulam online:
Confira o desmentido em vídeo:
Versão 1: Corona-vac tem 5,35% de efeitos colaterais = 11,5 milhões de possíveis mortes, só no Brasil! Covid-19 mata menos que a vacina! Se liga, doido!!!! Versão 2: A mortalidade pelo COVID19, no mundo, atingiu até agora —-0,3%— dos infectados; A vacina chinesa, fabricada pela Sinovac, que fez convênio com o Instituto Butantan, apresenta — 5,37%— de efeitos colaterais, segundo a própria indústria farmacêutica da China; Portanto, toma quem quiser. EU NÃO!!!
Efeitos colaterais mostram que tomar vacina chinesa é pior do que pegar Covid-19?
O que não faltaram foram pessoas apontando que agora a prova de que a vacina é algo “do mal” seria irrefutável. Felizmente (não entrem em pânico!), os números apresentados não provam que tomar a vacina chinesa é pior do que contrair a Covid-19.
Antes de começar, é importante deixar algo bem claro. Com raras exceções, como na Rússia, uma vacina (seja chinesa, sueca, norte-americana, brasileira ou de Marte) só é aplicada na população quando testes comprovam a eficácia contra a Covid-19 e segurança do imunizante. Não haverá vacina antes disso.
Até o momento, as vacinas que estão na fase 3 já demonstraram segurança em grupos menores (nas fases 1 e 2). Falta, ainda, saber mais detalhes a respeito da eficácia do imunizante. É o caso de 10 vacinas, dentre elas, a Coronavac. Se, na fase 3, a vacina não se mostrar eficaz e segura, não será disponibilizada. Vamos repetir (desculpe, mas tem gente que precisa de reforço): as vacinas que não passarem nos testes, não serão aplicadas na população. Ou seja (mais uma repetição), se a vacina estiver apta para ser aplicada na população, é porque ela é segura e tem um nível de eficácia contra a Covid-19.
Dito isso, vamos à tese furada que está circulando por aí. Ela erra em fazer comparações espúrias para “vender a tese” de que a vacina seria mais perigosa do que a própria Covid-19. Primeiro, ela pega a taxa de mortalidade da doença no mundo para atestar o perigo da doença. Isso está errado. Aqui cabe uma explicação sobre a diferença entre taxa de mortalidade e letalidade. Veja o que diz esse texto, publicado no site da Secretaria de Saúde de Minas Gerais:
O termo “taxa de mortalidade” é usado para analisar o impacto de uma doença ou condição em toda a população de uma região. Em outras palavras, pode ser definido como: Taxa de mortalidade = número de pessoas que morrem por uma causa específica/número total de pessoas na população […]
Outra medida valiosa e facilmente confundida com a taxa de mortalidade é a taxa de letalidade, que avalia o número de mortes em relação às pessoas que apresentam a doença ativa, e não em relação à população toda, ou seja, mede a porcentagem de pessoas infectadas que evoluem para óbito.
E aí temos um problema. Como estamos no meio da pandemia, com milhares de pessoas morrendo todos os dias e com centenas de milhares de pessoas sendo infectadas diariamente, a taxa de mortalidade não acaba retratando o real impacto de uma doença. Esse dado mostraria o real impacto da doença apenas no final da pandemia.
Apesar de também não ser um dado exato (principalmente por causa da subnotificação de casos de Covid-19 mundo afora), a taxa de letalidade mostraria com mais efetividade o perigo da Covid-19. Neste caso, o Brasil tem uma taxa de letalidade (hoje) de 2,9% e o mundo tem 2,7% de taxa de letalidade.
A segunda comparação espúria está em comparar mortalidade (se comparasse letalidade também estaria errado) com a quantidade de pessoas que apresentaram efeitos colaterais nos testes da vacina contra Covid-19 da Sinovac. O certo seria comparar sintomas com sintomas e mortes com mortes. Como as postagens não fizeram isso, a gente faz.
Quando falamos em efeitos colaterais da vacina chinesa contra a Covid-19, estamos falando sobre os seguintes sintomas: 1) dor no local da aplicação. 2) Dor de cabeça. 3) Fadiga. Nos estudos das fases 1 e 2 da vacina, apenas 0,2% dos voluntários tiveram febre e 0,03% dos voluntários tiveram sintomas considerados mais graves.
Vamos pensar agora no que vamos chamar de “efeitos colaterais” da Covid-19. Estudos apontam que entre 20% e 40% das pessoas que são infectadas com o coronavírus são assintomáticas (ou seja: não tem nem sintomas leves). Dá para notar a diferença abissal entre os valores? De um lado, temos 95% das pessoas que tomam a vacina e não sentem qualquer efeito colateral. Do outro, temos entre 20% a 40¨% das pessoas que são infectadas e não apresentam qualquer “efeito colateral” (sintomas).
Uma alternativa seria comparar a taxa de letalidade entre as pessoas que tomaram a vacina chinesa contra a Covid-19 e a taxa de letalidade da doença. Como mostramos acima, a taxa de letalidade da Covid-19 (sem contar a subnotificação, que derrubaria o valor) é de 2,7%. Sabe quanto é a taxa de letalidade da Sinovac, de acordo com os testes das fases 1 e 2? Zero.
Não há nenhum relato verdadeiro (temos relatos falsos desmentimos aqui, aqui e aqui) de pessoa que tenha morrido por causa da vacina. Ou seja: de um lado temos 0% de mortes (pelo menos até o momento). Do outro, temos 2,7% de mortes (pelo menos até o momento). Não precisa ser um gênio para saber o que é pior.
Resumindo: a tese que aponta que tomar a vacina chinesa contra a Covid-19 é pior do que se infectar com a doença não só é falsa como está embasada em comparações espúrias. Ao fazer as comparações corretas, é possível ver o óbvio: é melhor tomar uma vacina e ficar livre da doença do que se infectar com o coronavírus.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.
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