Boato – Ao contrário do que foi divulgado na mídia, eficácia da vacina Coronavac é de 49,69% e não de 50,38%.
O início da vacinação contra a Covid-19 em diversos países animou muita gente. Na corrida pela vacina, o imunizante da Pfizer/BioNTech saiu na frente e foi aprovado, em caráter emergencial, no Reino Unido, dois dias antes da divulgação dos resultados da terceira fase de testes da vacina.
No Brasil, os dados sobre a eficácia da vacina Coronavac (desenvolvida em uma parceria entre a farmacêutica Sinovac e o Instituto Butantan) dividiram opiniões. Em sua grande maioria, comemoração. Mas houve quem ficasse com o pé atrás e, claro, as fake news começaram a bombar na internet.
De acordo com uma publicação que está circulando nas redes sociais, a eficácia global da vacina Coronavac seria de 49,69% e não de 50,8%, como divulgado na mídia. Segundo a publicação, o número impediria uma possível aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Confira:
Versão 1: “Epidemiologista calcula eficácia da Coronavac em 49%; Butantan não responde”. Versão 2: “Afinal qual é a eficiência da DóriaVac? Era 98%; Virou 79,3%; Depois 78%; Aí 65%; Caiu para 60%; Revisou e agora é de 50,38%; E por fim 49%”.
Versão 3: Os dados divulgados hoje pelo Butantã precisam urgente de uma revisão independente. Divulgaram uma eficácia global de 50,38% após informação falsa semana passada de 78%. Só que, segundo números de hoje, 9242 participantes, sendo que 4653 voluntários foram vacinados, dos quais 85 foram infectados e 4589 voluntários no placebo dos quais 167 foram infectados. Isso dá uma eficácia global de 49,69% e não 50,38%. A discreta diferença é que abaixo de 50% a legislação impede o uso emergencial. Seria esse o motivo de tanta demora e enrolação e a ausência de uma publicação oficial? Queremos transparência já. Cadê a publicação do estudo final ?
Eficácia global da vacina Coronavac é de 49,69% e não de 50,38%?
É claro que a informação caiu como uma bomba nas redes sociais, em especial, no Facebook e foi o suficiente para deixar muita gente alarmada. Apesar disso, a história não passa de balela.
Na realidade, a história de hoje seria completamente evitável se tivéssemos um melhor ensino de matemática na escola, não dormíssemos durante as aulas e confiássemos mais em quem estuda para isso. O cálculo que mostra uma suposta eficácia global menor da que aquela divulgada, simplesmente, foi feito de forma equivocada.
O cálculo da eficácia de uma vacina não é feito de forma direta por regra de três. Muito pelo contrário! A bioestatística, área responsável pela interpretação dos dados de testes e experimentos, leva em consideração diversos fatores nesse cálculo, como os sistemas variáveis, controle de processos, progressão etc. Dessa forma, é impossível que uma regra de três simples seja suficiente para interpretar os dados resultantes do estudo da vacina e inferir conclusões sobre a questão.
Pois bem, no caso da vacina Coronavac, a eficácia geral do imunizante foi estimada pela metodologia “razão de risco” (Hazard Ratio). O cálculo da “razão de risco” (Hazard Ratio) foi fornecido pelo modelo de Cox, estratificado por idade e sexo. O modelo de Cox é um tipo de técnica utilizada em análise de sobrevivência, esta, por sua vez, é uma área que busca estudar dados de experimentos em que a variável resposta é o tempo até a ocorrência de um evento de interesse (o tempo até alguém se contaminar pela Covid-19 ou desenvolver um quadro grave da doença, por exemplo). O modelo de Cox é flexível e parte do pressuposto de que as taxas de falhas são proporcionais, isto é, o risco de falha das variáveis é constante ao longo do tempo.
Se isso não bastasse, o próprio diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, explicou que o estudo sobre a vacina Coronavac foi publicado em diversas revistas científicas e que toda a metodologia utilizada para o cálculo da eficácia do imunizante está bem explicada nessas publicações. Nesse vídeo, a partir dos 6:00 minutos, Dimas Covas explica que a metodologia utilizada é complexa e feita por profissionais especializados. Por isso, uma conta simples de alguém que não é da área, certamente, estará equivocada e não dará conta de explicar a real eficácia do imunizante.
Depois de todo o bafafá, a epidemiologista que teria questionado os valores fornecidos pelo Instituto Butantan se explicou nas redes sociais e afirmou que o número de 50,38% está correto. Segundo ela, a confusão ocorreu porque o Instituto Butantan utilizou a metodologia “razão de risco” (Hazard Ratio) para calcular a eficácia da vacina e não a metodologia de Risco Relativo. Ainda de acordo com ela, o valor de 49% de eficácia foi retirado de contexto e extraído de uma conversa não concluída com um jornalista, antes dos dados oficiais (e o método de pesquisa) serem divulgados pelo Instituto Butantan.
Além disso, o diretor médico de pesquisa clínica do instituto Butantan, Ricardo Palacios, explicou que a conta que indica 49,69% de eficácia só leva em consideração o número absoluto de infectados em cada grupo (placebo e vacinado). Já o estudo do Instituto Butantan previa a análise do tempo de exposição ao risco (Covid-19) de cada participante até a infecção.
Em resumo: a história que diz que a eficácia da vacina Coronavac é de 49,69% e não de 50,38% é falsa! Tudo não passou de um equívoco de uma epidemiologista com requintes de “soltar a bomba primeiro” por parte de alguns jornalistas. No cálculo feito pela epidemiologista, a metodologia utilizada foi a de Risco Relativo (que só leva em consideração o número absoluto de infectados em cada grupo). Já o Instituto Butantan, assim como previu em seu protocolo, utilizou a metodologia de “razão de risco” (Hazard Ratio), que leva em consideração o tempo de exposição de cada participante ao risco até a sua infecção. Depois que o método utilizado foi divulgado, a própria epidemiologista reconheceu o erro e afirmou que a taxa de 50,38% está correta. Ou seja, a história não passa de balela. Até a próxima!
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