Boato – Países que fizeram uso precoce da hidroxicloroquina tiveram 79% menos mortes do que países que proibiram o uso da substância.
Nessa semana, um assunto explodiu nas redes sociais e reacendeu o debate sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19. A história rendeu tanto que os defensores do medicamento voltaram a fazer barulho.
Tudo isso começou por causa de uma publicação que apontava que o Facebook teria admitido que errou ao censurar a hidroxicloroquina. Ao longo da publicação, o texto indica que o estudo internacional mais recente sobre o assunto mostra que países que fizeram o uso precoce da hidroxicloroquina tiveram uma taxa de mortalidade 79% menor do que os países que proibiram o uso da substância. Confira:
“O estudo internacional mais recente mostra que os países fizeram uso precoce da Hidroxicloroquina tiveram uma taxa de mortalidade 79%menor que os países que proibiram seu uso,Lembra d Mandetta,Maia Doria, Globo, Médicos, Negando a Eficiência d HidroxoCloroquina?”
Estudo internacional mais recente mostra que países que usam hidroxicloroquina têm taxa de mortalidade 79% menor?
A informação caiu como uma bomba nas redes sociais, em especial, no Facebook e no Twitter e logo viralizou por aí. Apesar disso, a história não passa de balela.
A publicação é uma tradução e recorte de um texto em inglês. A mensagem foi retirada do site The Gateway Pundit. Mas apesar de ter uma estética bonita, a página não é nada confiável. O site já é conhecido há algum tempo por publicar fake news e teorias da conspiração, inclusive durante a corrida presidencial dos Estados Unidos, em 2016.
Na matéria original, o tal “estudo internacional mais recente”, na verdade, é uma menção à uma publicação de agosto de 2020 do próprio site The Gateway Pundit. Isso, por si só, já elimina a hipótese de que o estudo seja recente.
Se isso não bastasse, a publicação de agosto de 2020 cita como referência o site C19Study. Ao procurar pela informação no site, não encontramos nada sobre a taxa de mortalidade 79% menor em países que utilizaram a hidroxicloroquina. Além disso, também observamos que o site C19Study possui um mapa um tanto quanto controverso sobre os países que usam a cloroquina.
Nesse mapa, o Uruguai é apontado como um país que usa amplamente a cloroquina no tratamento da Covid-19. Entretanto, essa informação não procede. Ao longo da pandemia, o presidente uruguaio Luís Lacalle Pou nunca chegou a considerar o uso da hidroxicloroquina como medida de enfrentamento contra a Covid-19 por falta de consenso científico.
Em Portugal (que também é apontado como um país que usa amplamente a substância no enfrentamento da doença), ocorre a mesma coisa. A diretora-geral de Saúde do país, Graça Freitas, manteve uma posição cautelosa desde o início da pandemia e afirmou que só liberaria um protocolo de tratamento com a hidroxicloroquina se os estudos e experiências em outros países funcionassem. Como não houve consenso entre os pesquisadores, Portugal decidiu não liberar o uso do medicamento.
Já o Brasil, que possui milhares de mortes pela Covid-19 e um Ministério da Saúde que chegou a recomendar o tratamento precoce por meio de um aplicativo, é apontado pelo site como “uso misto”.
Se isso não fosse suficiente, o professor Leandro Tessler, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) e membro do Grupo de Estudos de Desinformação em Redes Sociais (Edres) da Unicamp, ainda destacou que o site C19Study não faz uma seleção dos artigos que compõem a chamada meta-análise dos dados de pesquisa e acaba misturando resultados confiáveis com dados fantasiosos. O professor destaca que, por conta disso, o site não pode ser encarado como uma plataforma com bom rigor científico.
Por fim, até o momento não existe comprovação científica de que a hidroxicloroquina possa curar a Covid-19. Grande parte dos estudos foram encerrados após os resultados indicarem que o medicamento não traz benefícios para o tratamento da doença (e pode até trazer complicações). O maior estudo sobre o assunto já havia apontado isso, indicando maior risco de morte e desenvolvimento de problemas no coração após o uso da substância.
Além disso, muitos estudos citados no site C19Study e apresentados ao longo da pandemia sobre o uso da hidroxicloroquina não possuem validade científica. Isso porque muitos deles são apenas pré-prints, isto é, não passaram por uma revisão por pares (outros cientistas). Se isso não fosse suficiente, alguns deles ainda apresentam conclusões equivocadas, fraude em dados e metodologia não compatível com a investigação.
Em resumo: a história de que diz que países que fizeram o uso precoce de hidroxicloroquina apresentaram uma taxa de mortalidade 79% menor do que os países que proibiram o uso do medicamento é falsa! O tal “estudo internacional mais recente”, na realidade, foi publicado em um site em agosto de 2020. Tampouco se trata de um estudo científico. Ao procurar pela pesquisa no site, nada encontramos. Além disso, também descobrimos que o site usado como referência não é confiável, justamente por não selecionar os artigos para compor seu banco de dados, misturando resultados confiáveis com dados fantasiosos. Ou seja, tudo não passa de balela. Até a próxima!
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.
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