Boato – Estudo realizado por pesquisadores australianos descobriu que a Ivermectina mata o coronavírus e é a cura da Covid-19.
Tão difícil quanto combater fake news em época de eleição, está sendo desmentir absurdos em tempos de pandemia, especialmente aqueles ligados com implicações diretas sobre a saúde das pessoas.
E se tem um assunto que a gente já está saturado de falar por aqui são as curas milagrosas da Covid-19. Se em tempos normais a gente já precisa ter cuidado com a divulgação e interpretação de materiais científicos, em períodos de pandemia esse cuidado precisa ser redobrado, justamente para evitar as falsas crenças em curas ou produtos milagrosos.
Nos últimos dias, uma história ganhou destaque nas redes sociais. De acordo com publicações, a substância ivermectina, usada no tratamento contra a sarna e também contra os piolhos, seria a nova cura contra o coronavírus. A história começou a circular após um estudo de pesquisadores australianos ser publicado. A pesquisa indica uma ação do fármaco contra o crescimento do SARS-CoV-2 em células in vitro. Confira:
“REMÉDIO PIOLHO, SARNA E FÁCIL ACESSO É A CURA CONTRA CORONA VÍRUS #IVERMECTINA cientistas Austrálianos e BRASILEIROS FARMACÊUTICOS. Jesus é bom”.
Ivermectina é descoberta como a cura contra o coronavírus (Covid-19)?
É claro que assim que a notícia foi divulgada, a informação chegou até as redes sociais e viralizou entre os internautas, trazendo esperanças. Mas será que pesquisadores realmente descobriram que a substância Ivermectina é a cura contra contra o coronavírus (Covid-19)? A resposta é não!
Vamos aos detalhes! Como já é sabido, infelizmente, ainda não temos uma vacina e muito menos um tratamento eficaz contra a Covid-19. É importante destacar que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) condenou o uso de medicamentos sem comprovação científica para o tratamento contra a Covid-19. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ressaltou que esse tipo de ação pode trazer “falsas esperanças” à população.
Além disso, a OMS também anda cautelosa com o termo “cura”. Tudo isso porque os pesquisadores ainda não entendem completamente como o vírus pode se manifestar ou se comportar no organismo humano. Ainda existem muitas incógnitas, como se uma pessoa já diagnosticada poderia transmitir o vírus mesmo após o desaparecimento dos sintomas ou até mesmo se seria possível uma pessoa ser re-infectada.
Aqui no Boatos.org, nosso editor Edgard Matsuki também já fez um vídeo explicando sobre os problemas de se acreditar nas supostas curas milagrosas contra a Covid-19. Basicamente, ainda é muito cedo para falarmos em cura. Por isso, os órgãos de saúde preferem utilizar o termo “recuperação”.
Vale ressaltar também que inúmeros estudos, envolvendo os mais diversos tipos de medicamentos, foram ou estão sendo realizados com o intuito de descobrir algum tratamento eficaz contra a Covid-19. Com a ivermectina não foi diferente. Entretanto, novamente, uma pesquisa foi divulgada de forma bastante alarmista, o que acendeu as esperanças de muita gente.
O estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Monash e do Instituto Peter Doherty de Infecção e Imunidade, na Austrália, mostrou uma ação anti-viral da substância ivermectina sobre o SARS-CoV-2 em células in vitro. O fármaco foi capaz de inibir a replicação do RNA do vírus, isto é, conter a reprodução do vírus dentro da célula.
Apesar do resultado positivo, os próprios cientistas envolvidos na pesquisa afirmaram que o estudo foi realizado apenas em células in vitro (uma das etapas mais básicas de uma pesquisa na área da saúde). Eles destacaram que mais testes, como o pré-clínico e o clínico em humanos, são necessários para comprovar a eficácia do medicamento no combate à doença. É importante frisar que caso a substância em análise comece a apresentar mais prejuízos que benefícios durante qualquer fase do experimento, o estudo pode ser suspenso. Foi o que aconteceu, em Manaus (AM), com a pesquisa envolvendo o uso da cloroquina no tratamento contra a Covid-19.
Como é possível ver, em nenhum momento, os cientistas que realizaram o estudo sobre a ação da ivermectina sobre o SARS-CoV-2 afirmaram que a substância é a cura da Covid-19. Além disso, desde que a informação começou a circular nas redes sociais, ela já foi desmentida por serviços de fact-checking da Colômbia, de Portugal e do Brasil.
De acordo com o site Colombia Check, a informação referente a “destruir o vírus em 48 horas” diz respeito a resultados obtidos em laboratório. Já o serviço de fact-checking Polígrafo destacou que o diretor comercial de uma empresa farmacêutica, responsável por grande parte da produção mundial da ivermectina, disse que só saberemos se o medicamento será eficaz para o tratamento da Covid-19 daqui a “seis ou nove meses”.
Além disso, o Estadão Verifica destacou que a ivermectina também apresentou resultados semelhantes em estudos sobre a AIDS, a dengue, a influenza (gripe comum) e o zika vírus. Entretanto, nenhuma dessas pesquisas apresentou resultados mais expressivos.
Em resumo: a história que diz que a ivermectina é a cura contra o coronavírus (Covid-19) é falsa! O estudo sobre a ivermectina existe. Ele foi desenvolvido por pesquisadores australianos, mas as análises ficaram restritas a experimentos em células in vitro. Ou seja, falta muito para sabermos se, de fato, a ivermectina pode ser eficaz contra a Covid-19. É importante ressaltar que muitos estudos sobre tratamentos e uma possível vacina estão sendo feitos. Mas, até o momento, não temos nada de concreto. Ou seja, a história é apenas balela. Não compartilhe, não esqueça de lavar as mãos e, se possível, fique em casa!
PS: Por último, um apelo. Primeiro, a você leitor. Se você encontrou qualquer informação sobre estudos envolvendo medicamentos para o tratamento da Covid-19, pesquise mais. Se possível, tente ler o artigo sobre a pesquisa. Se tiver dúvidas, pergunte. Consulte pesquisadores e universitários para esclarecer seus questionamentos. Na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), o Laboratório Aberto de Interatividade para Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico (LAbI) faz publicações constantes (e acessíveis) sobre estudos nas mais diversas áreas. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), alunos do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) iniciaram um projeto chamado Lab-19, em parceria com a Força-Tarefa da Unicamp, com o intuito de trazer informações de qualidade sobre a pandemia da Covid-19.
Segundo, a você colega de profissão. Sabemos da nossa responsabilidade como comunicadores, especialmente em tempos como esse. Dessa forma, é necessário entender que cada palavra redigida pode ter um impacto inesperado em nossos leitores. Por isso, fujam de títulos que possam dar falsas esperanças. Se houver dúvidas na divulgação de qualquer estudo, consultem profissionais que possam ajudar. A Agência BORI, composta por jornalistas, divulgadores científicos e cientistas, disponibilizou um material de apoio para a cobertura da pandemia, com o contato de diversos pesquisadores que podem auxiliar nas reportagens. Nos ajudem a não alimentar as fake news!
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164.
Confira a lista de todas as fake news sobre o novo coronavírus
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